DAEMON.

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A CHAMA DE UMA FALSA PROMESSA.
The Last Time / Daemon Targaryen.

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As chamas dançavam nos candelabros de prata, projetando sombras inquietas sobre as paredes frias da Fortaleza Vermelha. A noite cobria Porto Real com seu manto de silêncio, mas dentro dos muros do castelo, dois destinos entrelaçados enfrentavam-se pela derradeira vez. O ar estava denso, quase palpável, carregado com o peso de palavras não ditas e promessas quebradas.

Visenya Targaryen, a joia resplandecente da Casa Targaryen, irmã mais nova de Rhaenys Targaryen, permanecia imóvel junto à janela, o olhar perdido no horizonte escuro como a própria alma. Seu semblante, esculpido com a delicadeza e força de seus ancestrais valirianos, parecia uma máscara de dor contida, um esforço titânico para manter a compostura diante da tempestade que rugia em seu peito. Seus cabelos prateados, soltos e caídos como um rio de prata líquida, refletiam a luz das tochas, e seus olhos violetas, fixos no vazio, continham um oceano de mágoa e desespero.

Atrás dela, Daemon Targaryen, o Príncipe Rebelde, observava-a com uma intensidade quase insuportável. Sua presença dominadora enchia o aposento como uma onda prestes a quebrar, trazendo consigo um perigo iminente. Os anos de guerras e batalhas, de conspirações e traições, haviam moldado aquele homem em uma força da natureza, indomável e indomada. E, contudo, ali, diante de Visenya, ele era apenas um homem, ferido e vulnerável, preso nas garras de um amor que nunca soubera controlar.

- Visenya - murmurou Daemon, e o som de seu nome nos lábios dele fez a jovem estremecer. Havia um apelo em sua voz, um pedido que transcendia as palavras, como se, naquele único instante, ele pudesse desatar todos os nós de dor que os aprisionavam.

Ela não se virou, não ousou encará-lo, pois sabia que qualquer olhar trocado poderia quebrar o frágil controle que mantinha sobre si mesma. Inspirou profundamente, o peito subindo e descendo em um esforço desesperado para sufocar as lágrimas que ameaçavam brotar.

- Não venhas aqui, Daemon - respondeu ela, a voz baixa, quase um sussurro. - Não posso suportar mais uma de tuas promessas vazias, mais um juramento que se despedaça ao primeiro sopro do vento. Quantas vezes já disseste que seria a última? Quantas vezes teu rosto, banhado em sombras, apareceu em meus sonhos, apenas para me atormentar com aquilo que jamais poderemos ter?

Daemon avançou lentamente, como um predador cauteloso que se aproxima de uma presa ferida. Mas não havia mais caçada, não havia mais jogos. Apenas a verdade, nua e dolorosa, pairando entre eles como uma espada prestes a cair.

- E quantas vezes poderei implorar pelo teu perdão? - perguntou ele, a voz rouca de emoção. - Quantas vezes posso voltar aqui, esperando, implorando, sabendo que é em ti que está meu único consolo, meu único refúgio? Sei que errei, Visenya, sei que falhei contigo de maneiras que nem mesmo consigo contar, mas o que posso fazer além de pedir, uma última vez, que acredites em mim?

Visenya apertou as mãos, os dedos pálidos e delicados cravando-se na madeira do parapeito da janela. O luar derramava-se sobre a cidade, mas ela não via nada além da escuridão que a envolvia por dentro. Recordava-se de todas as promessas quebradas, das noites em claro à espera de um homem que jamais chegava, dos rumores e cochichos que a cercavam como um manto de açoite. Cada vez que ele partia, levando consigo uma parte de seu coração, jurava a si mesma que seria a última. Mas ali estava ele, mais uma vez, e seu coração, tolo e indômito, ainda ansiava por ele.

- Toda vez que te digo adeus, toda vez que te peço que não voltes mais, sinto como se arrancassem algo de dentro de mim - confessou ela, a voz trêmula de dor. - E toda vez que cedes ao impulso de retornar, de procurar-me novamente, sinto que estou prestes a afundar, incapaz de resistir ao abismo de nossos sentimentos. Não suporto mais, Daemon. Não posso mais ser essa que perdoa, essa que aceita, essa que ama incondicionalmente, apenas para ser quebrada de novo e de novo.

Daemon avançou até que a distância entre eles fosse apenas uma linha tênue. Sua mão hesitou no ar antes de tocar o ombro dela, um toque quase imperceptível, mas carregado com todo o peso de sua culpa e anseio.

- E o que devo fazer então, minha Visenya? - sussurrou ele, a voz quebrada. - Devo desaparecer da tua vida para sempre? Devo apagar-me de tua memória, como se nunca tivesse existido? Pois te juro, não há dor maior que viver sem teu amor, não há castigo mais cruel que ver teu olhar desviar-se de mim, como se fosse um estranho.

Visenya finalmente se virou, o rosto desfigurado pelo sofrimento, as lágrimas brilhando como diamantes caindo por sua pele alva. A intensidade do olhar que lançou a Daemon fez com que ele prendesse a respiração. Havia algo de definitivo naquele gesto, uma espécie de adeus que ele não podia suportar.

- Talvez seja exatamente isso o que deves fazer, Daemon - disse ela, e sua voz, embora suave, continha a firmeza de uma decisão irrevogável. - Deixar-me ir. Parar de acorrentar-me a esse ciclo vicioso de esperança e desespero. Se não podes ser o que preciso, se não podes dar-me o amor que anseio, então que seja esta a última vez que nos encontramos assim.

Aquelas palavras atravessaram Daemon como uma lâmina afiada. Ele, o Príncipe Dragão, que havia enfrentado exércitos e desafiado reis, sentiu-se reduzido a nada diante do sofrimento de Visenya. Cada sílaba pronunciada por ela era como um golpe em seu coração, despedaçando-o pouco a pouco.

- Não posso, Visenya, não posso viver sem ti - murmurou ele, os olhos fixos nos dela, buscando desesperadamente uma brecha, uma centelha de esperança. - Mas, se esta é tua vontade, se este é o preço que devo pagar por todas as vezes que te falhei, então farei o que pedes. Que seja esta a última vez. Que seja este o nosso último adeus.

A jovem Targaryen fechou os olhos, deixando que as lágrimas corressem livremente por seu rosto. Era como se, finalmente, estivesse libertando-se de um peso insuportável, como se, ao aceitar a partida de Daemon, estivesse selando uma parte de sua própria alma.

- E então, Daemon, eu te liberto - disse ela, e sua voz era uma canção de luto, um réquiem para um amor perdido. - Vai, segue teu caminho, e não olhes para trás. Que não haja mais promessas a serem quebradas, mais corações a serem estilhaçados. Vai e não voltes mais.

Daemon, sentindo o mundo desmoronar ao seu redor, deu um passo atrás, os olhos ainda presos na figura de Visenya. A dor em seu peito era insuportável, mas ele sabia que não havia mais nada a ser feito. O destino que haviam construído juntos, tão frágil e tempestuoso, finalmente encontrara seu fim.

- Adeus, Visenya - disse ele, e sua voz ecoou pelo aposento vazio, um sussurro de despedida que se perderia para sempre na vastidão do tempo. - Que os deuses sejam gentis contigo, e que um dia, talvez, possas encontrar a paz que nunca te pude oferecer.

E, assim, Daemon virou-se e caminhou para fora do salão, os passos ecoando como o batimento de um coração que finalmente cessava. Visenya observou-o partir, e, quando a porta se fechou atrás dele, um soluço escapou de seus lábios, rasgando o silêncio opressor.

Ela sabia que aquele era o fim. O fim de todas as esperanças, de todas as expectativas que um dia nutrira. Sabia que Daemon, apesar de todas as suas falhas, era o amor de sua vida, e que jamais amaria alguém da mesma maneira. Mas, ao mesmo tempo, sabia que aquele amor era um veneno, um veneno que a estava matando lentamente.

E, enquanto o sol nascia sobre Porto Real, banhando a cidade com sua luz dourada, Visenya deixou-se cair no chão, as lágrimas banhando-lhe o rosto. O amor, aquele sentimento que fora seu refúgio e sua perdição, finalmente dera lugar ao vazio absoluto, um abismo de tristeza e resignação.

Por fim, tudo o que restou foram as lembranças de um amor impossível e as lágrimas de uma mulher que, pela última vez, dissera adeus ao único homem que jamais poderia esquecer.

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