GWAYNE.

31 1 2
                                    

OS ACORDES DE LEMBRANÇAS FRIAS.
All To Well / Gwayne Hightower.

──── ✧ ────

Na obscuridade do crepúsculo, quando o céu se vestia de um azul profundo, a Fortaleza Vermelha erguia-se majestosa, seu contorno sombrio refletindo os ecos de um passado imortal. Era sob aqueles muros imponentes que Gwayne Hightower, filho de Otto, encontrava-se perdido em um mar de recordações, os ecos de risadas há muito silenciadas ressoando em sua mente como sombras dançantes em uma lareira apagada.

Havia um tempo em que o calor da presença de Daella Targaryen iluminava seus dias, como a luz do sol que acaricia a terra após a tempestade. Porém, esse calor se tornara uma memória dolorosa, um eco distante que não o deixava em paz. Na vastidão dos corredores vazios, ele carregava o peso de um amor que não poderia florescer, como um soldado que retorna da guerra, mas sem o vigor da vida, abatido pelo fardo de sua própria fragilidade.

A lembrança da primeira neve caindo sobre Porto Real o assaltava frequentemente. Ele ainda podia visualizar o espetáculo etéreo, como flocos brancos a dançar graciosamente em direção ao solo, cobrindo a cidade com um manto de pureza. Gwayne se lembrou de como Daella sorrira ao ver a paisagem transformada, o brilho em seus olhos como estrelas em uma noite clara. Aquela cena, envolta em uma aura de inocência, tornara-se um símbolo de um amor perdido, que agora parecia escorregar entre seus dedos, como a neve derretendo sob o calor do sol.

E, no entanto, entre todas aquelas memórias, uma se destacava, uma ferida aberta que nunca cicatrizaria: a última vez que estiveram juntos. Gwayne se recordava de cada palavra trocada, cada olhar que parecia prometer um futuro que nunca seria. As palavras de Daella ainda reverberavam em seus ouvidos, um sussurro perdido no tempo.

- Gwayne, seremos sempre amigos, não importa o que aconteça - dissera ela, a voz embargada, como se um adeus estivesse prestes a ser pronunciado. Naquele instante, ele soube que a amizade não poderia preencher o vazio de seus sentimentos.

E a dor de sua escolha-de sua renúncia-mutilava-o como uma lâmina afiada. Estava consciente do papel que sua família esperava que ele desempenhasse, o peso das obrigações que pairavam sobre seus ombros como nuvens escuras. Daella, com seu espírito livre e indomável, merecia um amor que ele não podia oferecer. Assim, ele deixara que o amor se apagasse, uma chama sufocada pela inevitabilidade do dever.

A cidade, com sua frieza implacável, parecia compreender seu lamento. Gwayne caminhou pelos jardins da fortaleza, cada passo ecoando sua solidão. As flores, agora murchas e tristes, eram testemunhas silenciosas de sua dor. Ele se perguntava se Daella lembrava da neve, do riso que compartilhavam sob aquele céu estrelado, ou se agora ela se via presa em um labirinto de obrigações como ele.

- Entre nós, houve amor - murmurou ele para o vento, como se esperasse que suas palavras chegassem até ela. - Mas esse amor nos feriu. Eu me pergunto, apenas entre nós, se esse relacionamento também te feriu?

O frio que o envolvia não era apenas físico, mas emocional, e a cidade à sua volta parecia o refletir. Ele se sentia um espectro, um viajante perdido em um mundo que não lhe pertencia mais. O peso das memórias o tornara um soldado, voltando para casa, mas carregando apenas um fardo de dor e desilusão.

Enquanto a noite se instalava, Gwayne olhou para o céu, desejando que as estrelas o guiassem de volta a ela. Em sua mente, a imagem de Daella era clara, como uma pintura que se recusava a desbotar, e a lembrança de seu sorriso permanecia viva, como uma chama que iluminava as trevas de sua solidão.

Na escuridão que se aprofundava, Gwayne percebeu que, apesar de seus esforços para enterrar o que sentia, o amor que nutria por Daella era uma parte dele, como um rio que flui sob a superfície, invisível, mas sempre presente. E, ao perceber isso, uma nova dor o consumiu, a tristeza de um amor que, mesmo não correspondido, havia moldado sua existência.

Ele lembrou-se das promessas não cumpridas, dos sonhos que não se concretizaram. Em cada canto daquela fortaleza, ele via o reflexo do que poderia ter sido. E, na calada da noite, o lamento silencioso de um coração partido ecoou, ressoando em cada pedra da fortaleza que havia sido seu lar.

- Adeus, Daella - sussurrou ele, a voz quase perdida no vento. - Mesmo em sua ausência, você será sempre parte de mim, e eu nunca deixarei de lembrar. Sempre, na fragilidade da memória, estarei contigo.

E assim, sob o manto da noite, Gwayne Hightower permaneceu, um soldado ferido pela guerra do amor, eternamente assombrado pelas lembranças que nunca o abandonariam. A neve poderia derreter, mas as memórias de seu coração permaneceriam intactas, um testemunho de um amor que, embora não vivido, deixara marcas indeléveis em sua alma.

FOLKLORE, house of the dragon ✓ Onde histórias criam vida. Descubra agora