A Primeira Vista

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Rebeca

O sol de Paris brilhava alto, iluminando a cidade em meio ao fervor olímpico. Era como se toda a energia do mundo estivesse concentrada ali, e Rebeca Andrade sentia essa vibração a cada passo que dava. Ela havia acabado de sair de mais um treino, as pernas ainda pesadas, os músculos aquecidos. Vestida de maneira casual, com uma camiseta larga do Brasil e calça de moletom, tentava manter-se discreta, mas o brilho nos olhos denunciava sua excitação. Estar nas Olimpíadas novamente era uma sensação inigualável, e ela sabia que tinha grandes chances de brilhar.

— Você viu o treino da Lorrane hoje? — perguntou Flavinha, ao lado de Rebeca, enquanto elas caminhavam de volta para o dormitório da Vila Olímpica.

Lorrane, que vinha logo atrás, deu uma risadinha. — Ah, para! Não foi tão bom assim.

— Ah, foi sim! — rebateu Flavinha. — Você quase me fez pensar que tinha inventado uns novos movimentos que a FIG ainda nem reconheceu.

Rebeca riu. O clima descontraído entre elas era comum, e aquilo ajudava a aliviar a tensão da competição. As Olimpíadas traziam uma pressão absurda, e momentos como aquele eram valiosos. Jade e Julia, que caminhavam um pouco mais à frente, também riam e brincavam entre si.

— E você, Beca? Como foi o treino? — perguntou Jade, virando-se para a amiga.

Rebeca deu de ombros. — Nada de mais, só refinando os detalhes. O foco total é na final por equipes.

— Hum, profissional, né? — Julia provocou. — O que você acha, Lorrane? Será que ela tá escondendo alguma coisa? Vai trazer mais medalhas pra gente?

Lorrane deu uma risada. — Com certeza! A gente só não sabe quantas.

Rebeca apenas sorriu, um sorriso de quem sabe o que está por vir, mas sem deixar que a expectativa a consuma. Ela sempre foi focada, sempre soube o que queria, e as Olimpíadas de Paris não seriam diferentes. Tóquio havia sido um marco, mas agora ela queria mais.

Elas chegaram ao refeitório da Vila Olímpica, onde uma diversidade de atletas de todo o mundo se reunia para comer e socializar entre um treino e outro. O refeitório estava sempre lotado, uma verdadeira mistura de culturas, idiomas e etnias. Enquanto se serviam, Rebeca ouviu ao longe algumas conversas em português, vindo de uma mesa de volei feminino. Não foi difícil reconhecer aquelas vozes.

— Tá aí o time do vôlei — comentou Flavinha, apontando discretamente para uma mesa onde estavam Carolana e Rosamaria, rindo e conversando animadamente.

Rebeca apenas observou de relance, sem dar muita importância. Ela já havia cruzado com as jogadoras de vôlei algumas vezes nos corredores e sempre achava impressionante como eram grandes, fortes. Ela respeitava o esporte delas, mas não tinha muito contato.

— E o jogo de hoje? — perguntou Jade, voltando a atenção para a mesa das jogadoras de vôlei. — Contra a Polônia, né? Deve ser jogo duro.

Flavinha assentiu, pegando um pedaço de pão. — Sim, mas elas têm força. Tenho certeza que vão vencer.

Enquanto comiam, o refeitório continuava movimentado. De repente, Gabi Guimarães entrou com Thaisa, conversando animadamente, mas sem aquele brilho nos olhos que normalmente a acompanhava. Gabi tinha um porte impressionante, os cabelos amarrados em um coque desleixado, vestida com o uniforme de treino. Ela parecia estar concentrada, mas a verdade era que a mente dela estava em outro lugar.

Gabi

Gabi estava distraída, mesmo cercada pelas risadas e brincadeiras das amigas. As Olimpíadas tinham começado, mas sua cabeça ainda estava um pouco presa nos eventos dos últimos meses. O término com Sheilla havia sido um turbilhão e mesmo tentando manter o foco no jogo, ela não conseguia afastar completamente as lembranças do relacionamento conturbado.

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