Prólogo

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Seus passos apressados soavam pelo corredor de madeira. Mesmo com o medo de tropeçar em seus próprios pés inchados, escondidos pela enorme barriga de oito meses, Hiromi não desacelerou. Ao alcançar a desejada porta, a abriu num rompante e viu o exato instante em que as doces orbes peroladas de sua primogênita se voltaram para si. Gritou ao vê-la ser atingida no peito e voar para trás, atingindo a parede do dojo e caindo no chão.

— Hinata! — correu em sua direção, ajoelhando-se ao seu lado. Hinata gemeu e cuspiu uma grande quantidade de sangue. Hiromi a pegou em seus braços com delicadeza e acariciou o corpinho frágil, ouvindo seu soluçar baixo e as mãozinhas agarrando sua roupa. Virou a cabeça para trás, olhando para o sobrinho que mantinha sua expressão fria. — Neji, você deve tomar cuidado, pode acabar machucando Hinata de verdade. Isso é apenas um treinamento, não…

— O que faz aqui, Hiromi? — A voz gélida de Hiashi soou, seus passos lentos levando-o para perto da esposa. — Hinata, recomponha-se e volte ao treinamento agora mesmo. — Hiromi sentiu o corpo da filha tremer antes de se afastar do seu e se colocar de pé. Hiromi se levantou, encarando o marido e puxando a filha para trás de si.

— Já chega, Hiashi! Não está vendo que ela está exausta e ferida? Hinata precisa descansar, você está a pressionando demais.

— Hinata é fraca, despertou seu Byakugan, mas mal sabe usá-lo. Ela é uma vergonha para a família principal.

— Ela só tem cinco anos — protestou.

— E o que importa sua idade? Neji já conseguia usar seu Byakugan com destreza aos três anos. — Hiromi abriu a boca para protestar novamente, porém Hiashi ergueu a mão, a calando. — A culpa por Hinata ser assim é toda sua, Hiromi. Você está a transformando numa fraca como você. Se continuar assim, Hinata não terá utilidade alguma para o clã, a não ser a de procriar. E se até mesmo nisso ela se comparar a você, nem para isso servirá direito, já que não foi capaz de me dar um herdeiro. — Baixou o olhar para a saliente elevação em seu ventre. — Só espero que, mesmo sendo uma menina, essa outra criança não fique igual a vocês. Tomarei minhas medidas para que isso não aconteça.

Ao ouvir suas palavras, Hiromi então se lembrou do motivo para ter ido até ali.

— Então é mesmo verdade? — indagou, levando uma mão ao ventre e a outra até as costas, procurando por Hinata, querendo garantir que ela estava ali. Hiashi arqueou uma sobrancelha, com as feições duras e gélidas e um brilho curioso no olhar. — Você pretende mesmo entregar Hinata a outro clã?

— Não estava certo sobre isso, mas vejo que é a melhor opção. Os Otsutsuki são da mesma linhagem que os Hyuuga, possuem o Byakugan e, por algum motivo, querem essa imprestável. Vamos ganhar muito a entregando. Eles vivem longe o suficiente daqui; quando perceberem que ela é uma inútil, não terá mais como desfazer o acordo. Diremos aos habitantes da vila que Hinata sofreu um acidente fatal e, assim, a vergonha do clã será esquecida. — Pensou alto.

Hiromi abriu a boca espantada e Hinata agarrou-se à saia de sua mãe, voltando a soluçar baixinho. Até mesmo Neji ficou surpreso.

— Não pode fazer isso com a nossa filha. — Hiromi falou, interrompendo seus pensamentos e trazendo os olhos frios de Hiashi para si. Hiashi lhe desferiu um tapa no rosto.

— Não ouse tentar me dizer o que posso ou não fazer. Mandarei uma mensagem hoje mesmo ao líder do clã Otsutsuki, dizendo que aceito seu acordo e mandando que a busque o mais rápido possível. Enquanto isso, farei os preparativos para simular a morte dela. — Levou a mão até o pescoço de Hiromi, apertando-a. — Você não dirá uma palavra sequer sobre isso a ninguém, entendeu? — Hiromi assentiu com dificuldade, tentando livrar seu pescoço do aperto. Hiashi jogou seu corpo para o lado e Neji correu para ajudar Hinata a impedir a queda de Hiromi. — Assim que essa criança nascer, irei me livrar de você também. — Avisou antes de deixar o dojo.

— Mamãe, você está bem? — Hinata perguntou, as lágrimas banhando seu rostinho preocupado.

— Eu estou bem, meu amor — sorriu, secando as lágrimas da filha, ignorando a pequena pontada de dor em seu ventre. Hinata jogou os braços ao seu redor. — Não se preocupe, eu vou te proteger — garantiu, acariciando sua cabeça.

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Hinata dormia tranquilamente quando sentiu seu corpo ser chacoalhado de leve.

— Hina, amor, acorda, precisamos ir. — Abriu os olhos e os coçou, tentando espantar o sono.

— Mamãe? O que aconteceu? — Bocejou.

— Nós precisamos ir, filha — a puxou para que sentasse e a ajudou a vestir uma grossa capa negra e um par de sandálias.

— Para onde vamos, mamãe? — Indagou, levantando-se e notando que a mãe vestia uma capa igual à sua e que carregava duas bolsas.

— Te explico depois que sairmos daqui. Ahh! — Gemeu, levando a mão à barriga.

— Mamãe, você está bem?

— Não é nada, Hina, não se preocupe. Agora precisamos nos apressar, ele nos garantiu apenas alguns minutos. Precisamos sair do clã antes que os guardas acordem. — Segurou a mão de Hinata e a puxou para fora do quarto e da casa.

Ao saírem pela porta da frente, Hiromi encostou-se na parede, respirou fundo algumas vezes. As dores estavam aumentando, não havia dúvidas, o bebê iria nascer. Precisava se apressar.

Hinata olhou preocupada para a mãe. Não entendia o que estavam fazendo, mas não perguntou e apenas a seguiu. Assim que passaram pelos portões do clã, ambas soltaram um longo suspiro aliviado. Hiromi continuou caminhando até parar em uma praça.

— Nunca poderei agradecer o suficiente pelo que fez por nós.

— Só cumpri com meu dever. — A voz surgiu da sombra. Hinata tentou ver quem era, mas não conseguiu. — Melhor se apressar, já devem ter percebido que vocês fugiram.

Hiromi assentiu e se ajoelhou, abrindo uma das bolsas em busca de um pergaminho em específico. Quebrou o selo e o colocou no chão, concentrou seu chakra e fez os selos necessários. Uma esfera negra surgiu no ar, crescendo aos poucos.

— Aahh! — Gritou. A esfera parou de crescer e começou a diminuir lentamente.

— Mamãe. — Hinata se jogou ao seu lado, sem saber o que fazer. — Mamãe, o que está acontecendo? Você está com dor? Precisamos te levar ao hospital. Eu vou chamar o papai. — Ameaçou se levantar, mas Hiromi a impediu.

— Não. Eu estou bem, é apenas a sua irmã que está querendo vir ao mundo. — Viu os olhinhos se arregalarem. — Hinata, preste atenção — segurou seu rosto com as mãos — não temos muito tempo, as contrações estão aumentando e não conseguirei manter o portal aberto por muito tempo. Você precisa atravessá-lo. — Hinata piscou, confusa. Se levantou, puxando-a junto consigo, jogou as bolsas pelo portal que diminuía cada vez mais. Hinata esticou um dos braços, atravessando as sombras escuras, sentindo o vento bater em seus dedos. Hiromi se ajoelhou, ficando cara a cara com a filha. — Hinata, eu quero que me prometa que irá se cuidar. Continue seus treinamentos, mas não exija demais de si mesma. Eles serão apenas para você saber se defender a partir de agora. — Uma lágrima escorreu pelo rosto de Hinata quando ela finalmente entendeu que aquilo era uma despedida. — Se alimente direitinho e tome banho todos os dias. Encontre pessoas boas e não perca a sua gentileza. Você um dia encontrará alguém que te ame e que te trate como a verdadeira princesa que é. Não aceite menos do que isso. Conheça o mundo, viva várias aventuras, ria até doer sua barriga e cometa quantos erros forem possíveis. Seja feliz, meu amor, seja livre. — Beijou sua testa. — Eu vou te amar para sempre.

Hinata sentiu seu corpo ser empurrado de leve, obrigando-a a atravessar o portal totalmente. Quando olhou para trás, só o que havia era um céu estrelado.

— Isso foi bem legal — olhou assustada para frente, entrando em posição de luta. — Calma, não vamos te machucar. Senta aqui, vamos conversar, você parece ter uma história incrível para contar.

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