Os primeiros raios de sol mal haviam tocado o Pier Lótus, iluminando o cenário com uma luz suave e dourada. O lago refletia o céu límpido, e uma leve brisa agitava as flores que flutuavam sobre a água. Wangji estava sentado na beira do lago, observando o movimento tranquilo, mas com a mente distante. Ele havia saído cedo, sem fazer barulho, para refletir longe da agitação silenciosa do quarto. Mesmo recuperado fisicamente, sua alma ainda estava pesada, presa em lembranças dolorosas.
Abraçando o silêncio, ele deixou seus dedos tocarem a água fria. "Wei Ying…" o nome surgiu em seus pensamentos como uma prece, uma ferida sempre aberta. Seu coração se apertou, e ele fechou os olhos por um momento, absorvendo a dor que parecia nunca diminuir.
No entanto, a calmaria foi interrompida quando ele ouviu passos atrás de si. Sabia quem era antes mesmo de se virar. Jiang Cheng, com sua postura rígida e o rosto franzido, estava parado ao longe.
— Você não dorme? — Cheng perguntou, sem muito interesse em receber uma resposta, mas com um tom que insinuava certa preocupação. Ele se aproximou lentamente, com Jin Ling nos braços, o filhote se remexendo inquieto.
Wangji não respondeu de imediato. Em vez disso, permaneceu imóvel, encarando o lago. Quando finalmente falou, sua voz era calma, quase fria.
— O silêncio ajuda a pensar.
Jiang Cheng bufou, como se a resposta o irritasse levemente. Ele sempre foi um homem de ação, alguém que resolvia as coisas com a espada, não com meditações à beira de um lago.
— Pensar demais só complica as coisas— retrucou Cheng, finalmente sentando ao lado de Wangji, ainda segurando Jin Ling, que agora puxava os cabelos do tio distraidamente.
Por um momento, apenas o som suave da água e os sussurros do vento preencheram o espaço entre eles. O silêncio não era desconfortável, mas havia uma tensão latente, algo que ambos evitavam tocar.
— Jin Ling fugiu de novo ontem à noite — disse Cheng, sua voz mais suave agora, quase como uma confissão. — Ele é impossível de alimentar. O que foi que você fez? — Seu olhar virou-se para Wangji, que permanecia com os olhos fixos no lago, mas agora seus lábios curvavam-se em um sorriso quase imperceptível.
— Ele estava com fome — Wangji respondeu simplesmente, ainda sem olhar diretamente para Cheng. — E eu tinha o que ele precisava.
Jiang Cheng engoliu em seco, lembrando-se do que havia acontecido na noite anterior. Encontrar Jin Ling aconchegado na blusa de Wangji, mamando como se fosse a coisa mais natural do mundo, havia sido um choque. Não porque Wangji estivesse alimentando-o, mas porque ele, um alfa, estava… amamentando. Isso não fazia sentido. Cheng tentou entender, mas a mente lhe pregava peças.
— Eu… não entendo. — Cheng suspirou, sua voz mais suave agora, quase hesitante. — Como isso é possível?
Wangji finalmente virou a cabeça para encarar Jiang Cheng. Seus olhos dourados estavam serenos, mas havia uma profundidade neles, como se ele mesmo ainda estivesse processando tudo.
— Não sei ao certo. — Wangji parecia escolher cuidadosamente as palavras. — Mas desde que Wei Ying… partiu, muitas coisas mudaram em mim.
Cheng bufou de leve, virando o rosto, tentando não deixar que as palavras o afetassem. Ele sempre foi rígido, resistente a essas conversas sentimentais, mas não podia negar que algo em Wangji havia mudado de maneira profunda. E, de algum jeito estranho, isso o incomodava menos do que deveria.
— Desde que você chegou aqui, nada tem sido como eu esperava. — Cheng finalmente disse, sua voz mais baixa agora, quase como um sussurro. — Eu… não planejei te manter no meu clã, Lan Wangji. Não faz sentido, nem é seguro. Mas…— Ele hesitou, olhando para Jin Ling, agora adormecido em seus braços. — Talvez não seja tão ruim assim.
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𝐋aços 𝐒ilenciosos
FanfictionApós a morte de Wei Wuxian, Lan Wangji se vê cercado por arrependimentos. Marcado por uma anomalia que revela sua dualidade como alfa e ômega, ele luta para entender sua nova realidade enquanto sua parte ômega se torna mais forte, trazendo fraqueza...