Past Arc Part5

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O tempo no Píer Lótus passava devagar, como se cada dia fosse uma mistura de rotina e tensão, aguardando o desenrolar de algo maior que nenhum deles podia prever. Wangji ainda descansava no quarto, mas o calor parecia ter diminuído graças aos cuidados de Jiang Cheng. O ambiente, embora mais ameno, ainda carregava uma carga emocional intensa.

Jiang Cheng tinha passado boa parte da noite ao lado de Wangji, certificando-se de que ele estivesse confortável, mas sem nunca admitir o quanto isso o incomodava. Não era natural para ele se importar com a saúde de outro alfa, muito menos um alfa que outrora considerava um rival. Mas, nos últimos dias, tudo havia mudado — suas relações, sua compreensão, e até o próprio conceito de família.

De manhã cedo, o sol mal havia nascido quando Jiang Cheng acordou com o leve toque de A-Yuan em seu braço. O menino, com olhos inquietos e expressão preocupada, já estava acordado e observava Cheng com um olhar que ele reconhecia de Jin Ling — um olhar de alguém que sabia que algo estava errado, mas não sabia como consertar.

— Shushu... ele está melhor? — A-Yuan perguntou, sua voz suave e cheia de preocupação. Embora o garoto estivesse acostumado com as intempéries da vida, parecia que a condição de Wangji havia o abalado de uma forma mais profunda.

Jiang Cheng suspirou, se endireitando na cadeira e esfregando o rosto, ainda grogue do pouco descanso que tivera.

— Sim, A-Yuan, ele está melhor. O calor estava fazendo mal a ele, mas acho que agora ele só precisa de mais descanso. — Sua voz era firme, mas também havia um toque de suavidade que Cheng não costumava demonstrar.

A-Yuan olhou para a porta fechada, como se estivesse esperando que Wangji aparecesse ali a qualquer momento. Embora o garoto não dissesse em voz alta, Cheng sabia que A-Yuan via Wangji como alguém importante, alguém que, de certa forma, preenchia o vazio deixado por Wuxian.

— Quer vê-lo? — Jiang Cheng perguntou, após um momento de silêncio.

A-Yuan hesitou, mordendo o lábio, mas acabou balançando a cabeça em negativa.

— Não... não agora. Ele precisa descansar. Eu só queria saber se ele estava bem — disse o garoto, com um leve tremor na voz.

Jiang Cheng assentiu, sentindo uma pontada no peito ao ver o quanto A-Yuan estava preocupado. Era difícil para ele lidar com a vulnerabilidade dos outros, mas com A-Yuan, as barreiras pareciam sempre ser mais frágeis. Talvez porque, no fundo, ele reconhecesse a mesma dor de perda que ele próprio carregava. Eles tinham perdido tanto.

Jiang Cheng ficou de pé e colocou a mão no ombro de A-Yuan, apertando levemente, um gesto silencioso de conforto. — Vai ficar tudo bem, A-Yuan. Vou cuidar de tudo — prometeu ele, não apenas ao menino, mas também a si mesmo.

Com A-Yuan voltando para brincar com Jin Ling, Cheng se dirigiu novamente ao quarto onde Wangji descansava. Ao abrir a porta, foi recebido pelo som suave da respiração regular de Wangji, que agora parecia mais tranquilo, as orelhas de raposa erguidas, embora ainda não totalmente alertas.

Ele se aproximou da cama e ficou parado por um momento, apenas observando. Era estranho, a vulnerabilidade de Wangji sempre o deixava desconfortável, principalmente porque contrastava com a imagem fria e impenetrável que ele conhecia. Mas agora, vendo-o assim, indefeso e dependente, Jiang Cheng se perguntava como Wangji lidava com tanta dor e solidão.

O calor já não era tão sufocante, mas Cheng sabia que a recuperação seria lenta. Gusu Lan era um lugar de neve e frio, o lar natural das raposas de gelo como Wangji. Aqui, no Píer Lótus, a umidade e o calor do verão eram implacáveis. Ele precisaria encontrar uma maneira de manter o quarto mais fresco, mais confortável para alguém como Wangji. Não podia deixá-lo sofrer assim.

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