"E você vai ter que me engolir"
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Q U A R T A
A PRIMEIRA MISSÃO DELA no morro tinha sido bem sucedida e estava animada e orgulhosa de si mesma, Nascimento não falou nada, o caminho de volta para o batalhão foi silencioso, e ela preferiu não comentar nada dessa vez.
O relógio já marcava meia-noite, terminava de pegar suas coisas, e estava prestes a sair, caminhou até a garagem entrando no seu carro, um Jeep Compass 2024 cinza, colocou sua bolsa no banco do passageiro, colocou os cintos e girou a chave, o carro fez alguns barulhos antes de morrer, ela estranhou e tentou novamente, tentou três vezes vendo que não ia resultar em nada.
— Oh carai sô'! — Xingou apoiando a cabeça no volante frustrada, respirou bem fundo para não se estressar mais e tirou os cintos saindo do carro. Passou a mão pelos cabelos vendo que havia sobrado ela e mais dois carros ali, logo estaria sozinha, pegou o celular tentando pedir um uber, mas sem sucesso também.
— Pensei que já tivesse ido embora. — Ela se virou, vendo Nascimento se aproximar com uma chave de carro em mãos.
— Deveria mesmo. — Tentou ligar para um carro de aplicativo, mas nada, bufou irritada.
— Oque aconteceu? — Aproximou-se dela.
— Meu carro, deu problema, não sei oque foi. — Respondeu.
— Posso ver? — Ela afirmou e foi até o automóvel para destravar o capô, o homem o abriu e começou a observar, Gabriela se encontrava parada de braços cruzados ao lado dele, se perguntando oque ele estava fazendo. — Você trocou o óleo? — Perguntou olhando para ela, vendo sua feição decepcionada.
— Putz, não. — Colocou a mão sobre a testa preocupada. — Eu esqueci essa porra denovo.
— Onde você mora?
— Jardim botânico. — Respondeu vendo-o bater o capô para fechá-lo.
— Posso te deixar em casa se quiser, é no caminho da minha. — Acrescentou.
— Tem certeza?Não vai te atrapalhar? — Ele negou com a cabeça. — Eu agradeço.
— Vamos então. — Ela concordou e retirou as chaves do carro, trancando-o e seguiu Nascimento até o carro dele um Honda Civic híbrido preto, entraram e ele começou a dirigir.
Não tinha muito oque falar, ambos não sabiam como iniciar uma conversa que seria confortável para os dois, o silêncio talvez fosse a melhor das opções, mas Gabriela não sabe fazer isso.
— Então... — Começou. —Você tem família? — Perguntou.
— Sou divorciado e tenho um filho de dois anos, Rafael. — Ele respondeu soltando um pequeno sorriso de canto ao lembrar do garotinho.
— Legal uai'. — Falou com o sotaque presente.
— E você? Tem namorado? — Perguntou e ela soltou uma risada.
— Não, ainda não.
— Você tem quantos anos?
— 24. — Respondeu e ele arqueou as sombrancelhas.
— Quando você nasceu eu estava prestes a entrar no Bope. — Ela fez uma expressão de admiração.
— Uau, e você é capitão a muito tempo?
— 12 anos, mas eu sirvo a muito tempo, quero me aposentar e preciso de alguém para entrar no meu lugar. — Falou, concentrado na estrada.
— E como você pretende fazer isso? — Perguntou curiosa.
— Vou ministrar um curso de três mêses, qualquer um poderá participar e com base nos resultados vou escolher. — Respondeu enquanto estacionava o carro na porta do prédio dela.
— Quero participar então. — A olhou confuso, quando o carro já estava parado.
— Oque?
— Eu quero participar. — Disse mais devagar.
— Você não pode. — Falou simples, ele definitivamente não conseguia imaginar a possibilidade daquela mulher teimosa assumir seu cargo.
— Por que não? — Virou-se para ele com os olhos semicerrados. Já sabia do que se tratava.
— Porque você é novata. — Deu de ombros.
— Mentira! Você disse que qualquer um podia participar. — Se exaltou? Vendo-o se virar para ela.
— Eu não acho que você seja capaz. — Gabriela se irritou com aquelas palavras, lambeu os lábios pronta para soltar boas verdades.
— Você é ridículo! Olha só, eu tava' começando a gostar de você, pensei que você tinha deixado de ser um babaca, mas pelo visto me enganei. — Se virou prestes a sair do carro, mas logo voltou-se para ele novamente. — Ah!Eu vou fazer esse curso sim, e você vai ter que me engolir. — Abriu a porta do carro sem deixar que ele fale nada. — E obrigada pela carona. — Falou quando já estava fora do carro e bateu a porta, porquê ela poderia ser boca aberta, mas era educada.
Nascimento a observou caminhar até entrar no prédio, e encostou a cabeça no banco do carro, olhando para o teto e se perdendo em seus pensamentos.
— Mulher teimosa do caralho. — Resmungou pensando no problema que ele havia encontrado.
Gabriela entrou em seu apartamento pisando fundo, jogou a bolsa na poltrona e se jogou de qualquer jeito no sofá, quem ele pensa que é? Estava farta de toda aquela provocação, de ser subestimada e tratada como inferior pelo simples fato de ser mulher. Isso tinha que acabar, isso iria acabar, ela estava determinada a ser a nova Capitã e colocar cada homem daquele batalhão em seu devido lugar, e não, ela não estava provando para ninguém que conseguiria, estava provando para si mesma.
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Montenegro
Fanfiction"Policiais convencionais não são treinadas para a guerra, e eu não sou uma policial convencional, eu sou do BOPE, da tropa de Elite da polícia militar." Gabriela Montenegro, futuramente Capitã Montenegro. CAPITÃO NASCIMENTO x (O.C)