Sequestro Relâmpago

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Esta manhã uma coisa muito chata aconteceu: os livros que estavam
naquela mesa desapareceram!
Desapareceram todos!

Perguntei à mamãe, perguntei ao papai
Não obtive resposta.
Mandaram eu folhear os jornais que estavam na escrivaninha.

Que coisa estranha! Estranhíssima!
Começaram a voar os papéis, com o vento que vinha da janela,
Rolaram canetas pelo colchão,
derramou tinta azul por todo o chão.

Tentei apanhar mas era tarde demais, começaram a flutuar os livros e as velas dos castiçais, minha saia também voou e a cortina... Meu Deus a cortina!

A cortina foi embora! Virou tapete voador. Tudo voou, rolaram garrafas pelo chão,
como bastões de boliche despencando.
Descarrilharam bonecos, trenzinhos ferroviários!

A caixinha da mesa abriu sozinha e escaparam dela mil grampos de cabelo e cigarros amassados! O tabaco esfarelou todo e se desfez no vento.

Voaram os jornais, as manchetes, as palavras! As letras mancharam as paredes do meu quarto e ficaram alí grafadas como pinturas rupestres.

O que foi? Ai ai meu Deus! Seria uma maldição?
Finalmente me levantei para fechar a janela e cessar aquela algazarra, aquela ventania literária.

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Mas quando dei por mim, já estava voando!
Voei também. Senti o vento embaixo de meus pés e aquela inexistência toda me deixou aflita, flutuei, fui para o além,
até as nuvens, e as consegui tocar!

Fui ficando cinza cor de fumaça urbana...
Transparente, liquidada, amarelada,
minhas cores todas em sublimação,
efeito de tanta poluição! Pudera!
Meu Deus, onde é que isso vai parar?

Lua Nova | Poesia Onde histórias criam vida. Descubra agora