03

69 13 3
                                    

Emilly Ferreira

— Sim, essa é a minha noiva — afirma e…

Porra, ele está mesmo falando sobre mim. Nem fodendo! Como assim? Que merda é essa? Esse babaca bonitinho que fez com que que eu fosse demitida, está realmente dizendo para esse outro esquisito que eu, Emilly Ferreira, sou sua noiva?

Nem sob ameaça de morte! Mamãe sempre falava que me faltava alguns parafusos e papai brincava que eu havia escorregado da mão do médico e dado de cabeça no chão logo quando nasci, por isso era tão fora da casinha. Mas, nem mesmo nos meus maiores delírios, eu teria aceitado um pedido de casamento de um desconhecido.Não que ele tenha feito um.

Bufo, fechando a cara enquanto vejo a ordem implícita em seu olhar para que eu entre na onda. Isso mesmo, nem é um pedido, ele acha mesmo que pode mandar em mim depois de tudo o que fez comigo, mesmo depois de ter destruído a minha vida e me deixado sem emprego.

Ok, talvez isso seja uma dose de drama exagerada, porém nem em um milhão de anos irei cooperar. Ele que se vire com essa mentira, afinal, só com uma camisa de força para que eu o ajude e finja ser a sua noiva falsa. Porque só se eu estivesse bem maluca para que isso acontecesse. Além do mais, ele é bem grandinho, sabe se virar sozinho.

— E como é o nome dessa adorável noiva? — O esquisito indaga, nos
fazendo quebrar a troca de olhares na qual ele me mandava cooperar e eu
respondia que nem fodendo.

Arqueio a sobrancelha, afinal, qual é mesmo o meu nome? Ele nem sabe. Ele inclina a cabeça para o lado, como se dissesse para que eu responda à pergunta e, nesse momento, resolvo entrar no papel e sorrir para ele, mesmo sabendo que devo estar parecendo com o gato da Alice no País das Maravilhas de tão maquiavélico.

Passo meu braço, depois de acumular meus pertences em uma só mão, e aperto a cintura dele, abraçando-a com a força que eu queria usar ao redor do seu pescoço e deito minha cabeça em seu peito. Uma noiva bem feliz que aguarda seu noivinho falar seu nome para o outro.

Claro que o esquisito nos encara, esperando uma resposta e provavelmente estranhando essa situação bizarra. O babaca terá muito trabalho para reverter sua mentira depois e não irei facilitar em nada para ele.

— O nome dela é… — começa, cutucando minha cintura e me contorço um pouco, mas me mantenho calada e, quando percebe que não irei abrir o bico, ele limpa a garganta. — Eu sempre a chamo de meu docinho — complementa, me olhando com os olhos semicerrados e controlo meu riso, porque alguém precisa trazer esse homem de volta a realidade.

— Meu docinho… — o esquisito repete. Esse homem é como um papagaio? Ele repete tudo o tempo todo, é um pouco irritante.

— Sim, muito romântico — murmuro a mentira. — E eu o chamo de meu azedinho. — O apelido sai pelos meus lábios antes mesmo que eu tenha
controle do que estou dizendo, mas a feição chocada e desgostosa do babaca
faz valer a pena por alguns milésimos de segundos, até eu perceber o que, de
fato, estou fazendo.

Eu não sou sua noiva. Docinho e Azedinho são os piores apelidos da face da terra. Mentir é errado, e pecado. Ainda mais mentir para ajudar o canalha responsável por me demitir, ele nem mesmo merece ajuda.

Começo a me afastar, pronta para desmentir toda a história, mas o celular do esquisito toca ele rapidamente o atende, repetindo palavras como “está bem”, “ok” e “já estou a caminho” antes de encerrar e nos fitar com um sorriso.

— Bem, foi um prazer te conhecer, mas o dever me chama — brinca, levantando as mãos no ar. — Micaela realmente ficará muito feliz em saber que você seguiu em frente e parece tão… feliz, Jhonny.

Feliz? Isso é ele expressando felicidade ? Porque se for, ele é péssimo, estou confusa demais no momento para assimilar toda a merda que acabou de acontecer e toda a concretização de pensamentos que já foi formada, afinal, o esquisito que eu nem conheço está mesmo acreditando fielmente nessa história de noivado e estou tão tonta que mal consigo reagir.

Acho que estou alguns graus mais traumatizada. E não estou noiva!

— Você nem mesmo sabe meu nome! — falo a primeira coisa que me vem à mente, colocando o máximo de distância possível entre nós dois.

— Isso é realmente o ponto mais importante pra você?

— Babaca — murmuro emburrada. — Não estou me importando com o resto porque é problema seu.

— Problema nosso, docinho — responde com um resmungo.

— Vai sonhando. Você criou o problema, você resolve.

— Não pode simplesmente ir embora — rebate, como se realmente acreditasse que eu deveria ficar para arrumar a bagunça dele.

— Pois é exatamente isso que eu estou fazendo! Boa sorter resolvendo seus problemas, seu maluco.

___________________________________________

Nuestras mentirasOnde histórias criam vida. Descubra agora