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Jonathan Calleri


- Tenho muitos jogos, eventos de patrocinadores, jantares, essas coisas. E agora que tenho uma noiva pública, vai ser esperado que compareça a esses eventos comigo. Acredito que não seja um problema, já que não tem um emprego - comento.

- Não precisa ser escroto também. Vou querer aqueles cinquenta mil adiantados - resmunga. Essa mulher vai me deixar maluco com esse comportamento volátil.

- Preciso lembrar que você está aceitando isso por livre e espontânea
vontade? Não te pressionei a aceitar o acordo em momento nenhum.

- Pressionou sim! Quando foi responsável pela minha demissão, basicamente me obrigou a tomar medidas drásticas para manter minha própria sobrevivência - diz indignada.

Não tenho culpa dela ter sido demitida, eu tentei resolver depois do incidente. E também não tenho culpa que o mercado de trabalho está uma bosta nos últimos anos.

- Isso nunca vai dar certo - exaspera, balançando a cabeça em negação e começa a se virar para ir embora, mas seguro seu braço, fechando meus dedos ao redor do seu antebraço fino.

- Espera - peço, me sentindo exausto. - Podemos arrumar um meio-termo. Posso tentar te arrumar um emprego aqui no clube.

- Vão falar que só consegui porque estou dormindo com um dos jogadores. - resmunga, me deixando um pouquinho mais impaciente.

- Irão falar o que quiserem, as pessoas são assim. Achei que com a sua idade já soubesse disso - rebato, fazendo com que o biquinho furioso volte.

- Ok. - diz depois do que parece uma eternidade, me encarando com os olhos castanhos-amendoados. - Melhor do que nada - comenta. - Seis meses, ninguém deve saber sobre o noivado falso, cem mil reais, certo, certo, certo - recita. - Toques somente quando necessário, não poderia concordar mais - debocha.

- Precisamos fazer isso parecer real.

- Não estou me opondo, só concordando - rebate. - Não precisa
me tocar o tempo todo para fazer ser real, é isso o que só quando necessário
significa - fala, voltando a parecer a garota petulante.

- Sou um cara de trinta e um anos, Emilly, não um adolescente que nunca viu uma mulher - pontuo.

- Tá bom, vovô - zomba, dando tapinhas no meu ombro. - Prometo não fingir asco quando me tocar, posso ser uma ótima atriz.

Engulo em seco, colocando as mãos dentro dos bolsos controlando a resposta igualmente malcriada que pinica minha língua. O delírio tomou conta a ponto de eu querer falar e provar para ela que não precisará ser atriz ao fingir gostar do meu toque. Emilly consegue me
atormentar a ponto de me fazer perder o juízo imaginando-a em minhas mãos.

-- Espera, o quê? - grita, fazendo algo dentro da minha cabeça se romper com o tom estridente de sua voz. - Como assim iremos morar juntos? Nem fodendo.

- Primeiro; precisa melhorar essa sua boca suja - pontuo, levantando o indicador e, em seguida, o dedo médio. - Segundo; não irei ter uma noiva que mora naquele muquifo que chama de casa nem a pau.

- Olha quem tá com a boca suja agora.

- Seu apartamento mal cabe você direito, se alguém descobrir que mora lá, pensarão que sou um péssimo noivo. Além disso, se morar comigo, irá ajudar a tornar a história mais crível - finalizo o comentário, ignorando suas intromissões. Ela fala pelos cotovelos.

- Tem um quarto de visitas?

- Claro que eu tenho um quarto de visitas. Não teria proposto isso se não tivesse - respondo.

Como se já não bastasse precisar dividir minha vida com ela por seis meses, ela achou mesmo que abriria mão até mesmo do conforto e silêncio do meu quarto? Precisarei de algum refúgio quando não suportar suas piadinhas fora de hora.

- Mais alguma objeção? Estava pensando em chegar em casa antes da meia-noite.

- Grosso.

- Nem imagina o quanto - rebato sem controle da minha língua, quase mordendo-a quando coloco de volta na boca.

Ainda que seja adorável ter o rosto inteiro dela se tingindo de vermelho ao ficar ruborizada, não quero esse tipo de relação com ela.

- O último ponto... - ela limpa a garganta, tentando parecer controlada, como se não tivesse compreendido minha afirmação. - O último ponto é ridículo, porque não existe chance alguma de isso acontecer, mas não
tenho problemas em assinar.

Assim como Emilly, também achei que não seria necessário, mas é bom assegurar isso em um pedaço de papel com assinaturas, em hipótese alguma, devemos nos apaixonar. Esse é um acordo, algo quase estritamente profissional. Eu ganho com ela mentindo para mim e mantendo minha reputação intacta. Ela ganha uma boa quantia em dinheiro e um emprego no final.

Acabarmos apaixonados não tem espaço no meio dessa mentira. Ela rabisca sua assinatura no local indicado e abre espaço, me oferecendo a caneta para que eu faça o mesmo e imito seu gesto.

- Certo, parece que eu sou oficialmente o seu docinho, Jonathan Calleri - brinca, me dando um sorriso divertido que me vejo incapaz de não retribuir enquanto seguro a mão estendida.

- É um prazer fechar negócios com você, mi amor.

- Parece que começamos bem, porque mal virou meu noivo e já estou estressada com você - murmura, revirando os olhos enquanto eu dou
uma risada baixa.

Ela começa a se afastar, como se precisasse urgentemente de espaço
e posso compreendê-la. Mesmo rindo, na hora que a minha consciência perceber o que acabamos de fazer, irá entrar em curto-circuito.

- Te espero amanhã ao meio-dia para irmos almoçar juntos. Não se atrase - aviso.

- Pontualidade não é o meu forte, é bom já se acostumar com isso, azedinho - diz, já de costas para mim. - Me espere com uma cópia do contrato em mãos. E flores, adoro rosas!

Irei comprar cactos, isso sim. Parabéns Jonathan, você está oficialmente noivo.

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⏰ Última atualização: 16 hours ago ⏰

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