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Jonathan Calleri

Não deveria ter confiado em uma estranha maluca para deter algum
poder a respeito do meu futuro sendo o filho favorito da minha mãe. Além da minha reputação, isso é o que mais está em risco em toda essa situação sobre o noivado falso que nem mesmo existe. E eu não deveria ter deixado isso nas mãos da Emilly, afinal, somente estando completamente maluco para pensar que essa ideia realmente poderia dar certo.

Desde que deixei seu apartamento ontem à noite, estou ansioso para caralho, olhando meu celular a cada 2 minutos. Ela não mandou uma singela mensagem, nem mesmo para agradecer por eu realmente ter pedido seu jantar, que chegou meia hora depois que deixei aquilo que ela chama de casa. E, sim, eu posso ter tentado ganhá-la pela barriga também.

Convencer ela a aceitar o acordo é uma questão de vida ou morte, porém, não esperava que ela fosse pedir um tempo para pensar sobre, muito menos que demorasse um dia inteiro para isso. Deveria ter previsto que essa ideia era uma furada. Mesmo assim, minha ansiedade me permitiu treinar hoje e  claro, também me peguei pensando em como enfrentar a fera da minha mãe e contá-la que tudo não passou de uma mentira, mesmo que isso signifique que ela irá pensar que, assim como tirei uma onda com a cara de Jorge, fiz o mesmo
com ela ao continuar a mentira na cara dela.

É, preciso admitir que é uma situação de merda e o pior é que fui eu mesmo a pessoa brilhante que me colocou aqui. Observo uma movimentação na entrada do CT, e meus olhos finalmente reconhecem quem está causando toda confusão. E é claro que seria a mulher que tem tirado minha paz nos últimos dias.

Ok, ela não é tão ruim assim. Os cabelos castanhos tem algumas ondas que não a deixam tão sem graça, a pele é levemente bronzeada, de uma forma natural, o corpo é esguio e ela é uma mulher alta, provavelmente um metro e setenta. Ela veste um jeans claro e uma camiseta colada e curta, que fazem com que ela tenha um ar juvenil enquanto anda, segurando sua bolsa, que está pendurada no ombro, com firmeza.

— Você veio — falo assim que me aproximo e autorizo a entrada dela. — E então?

— Nem vai me oferecer um cafezinho? — brinca, fugindo dos meus olhos.

— Emilly. — chamo-a, tentando não me incomodar com sua enrolação.

— Jonathan. — ela imita meu tom, respirando fundo e finalmente
deixando as gracinhas de lado ao me fitar. — Eu topo — diz baixinho, comas palavras se atropelando. — Aceito ser sua noiva por esses seis meses. Uma
noiva falsa.

— Não há necessidade de reforçar, ambos sabemos muito bem da
veracidade desse noivado — replico, ainda que me sinta aliviado.

Sei que o alívio é somente uma distração momentânea do meu cérebro
até perceber como tudo ficou ainda pior agora, porque torna a loucura ainda
mais real. Que merda eu estou fazendo com a minha vida?

— Tendo dúvidas se continua querendo isso? — indaga, mudando o peso de pé e segurando a bolsa com ainda mais força.

— É a melhor saída.

— É mesmo?

— Achei que tivesse aceitado — rebato.

— Aceitei, mas não quero que você resolva mudar de ideia amanhã e
me deixe na mão. Estou fazendo alguns sacrifícios para topar brincar de
casinha com você — retruca, se emburrando e ela fica engraçadinha
quando faz esse bico, empinando o nariz como se tentasse não sair por baixo. Não posso tirar o mérito da maluca, ela é engraçada.

— Não irei mudar de ideia. Não volto atrás na minha palavra — afirmo, contendo o riso por causa da ceninha dela. — Inclusive, também quero me assegurar que você não vai me deixar na mão. Fiz um contrato — comento, me esticando para trás e pegando as folhas impressas no começo da noite.

— Por que eu deveria ter imaginado algo assim? — ela murmura, se aproximando de mim para pegar o contrato, começando a lê-lo.

— Deveria interpretar isso como uma crítica ou como um elogio? — questiono, arqueando a sobrancelha para ela, mas ela só me olha de canto, sem responder nada além de uma revirada de olhos. — O que foi? Só estou tentando entender a minha noivinha melhor — zombo.

— Já estamos fazendo piadas sobre a situação? Tenho algumas ótimas guardadas — diz antes de franzir a testa.— O que você quer dizer com eu estar disponível sempre que precisar? Acho que passou batido por você, mas eu sou um ser humano.

— Não seja dramática.

— É sua primeira lição sobre mim.

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