Prólogo

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Penelope Featherington

2019

Sendo a mais nova de três irmãs, sempre estive à margem da bolha de adoração que minha mãe, Portia Featherington, reservava para Prudence e Phillipa - apesar de ambas serem, de maneira óbvia, um tanto quanto limitadas. Com suas belezas inabaláveis, corpos esguios e feições perfeitamente simétricas, elas encarnavam, aos olhos de minha mãe, tudo o que importava. Eu, por outro lado, era a decepção constante. O erro. A pedra em seu sapato. E ela nunca fez questão de esconder. Cada olhar, cada comentário cruel, era um lembrete impiedoso de que eu jamais seria suficiente.

Eu não era magra o suficiente, bonita o suficiente, ou superficial o suficiente como minhas irmãs. Não importava o quanto eu me esforçasse, ou quão inteligente fosse; nada disso tinha valor. Com o tempo, comecei a acreditar que eu realmente não valia nada. Quanto ao meu pai, ele estava ali - fisicamente presente, mas emocionalmente distante. Uma figura quase irrelevante, um mero espectador passivo diante do caos que tomava conta de nossa casa. Ele jamais ergueu a voz para me defender, e nunca houve um olhar de carinho em minha direção. Para ele, eu também era invisível.

Foi nesse vazio que Colin Bridgerton entrou na minha vida, e tudo mudou. Lembro-me do nosso primeiro encontro com uma clareza quase sobrenatural. Eu tinha apenas seis anos, e ele surgiu como uma brisa suave, uma lufada de ar fresco, me arrancando do ambiente sufocante que era a minha casa. De alguma forma, ele se tornou tudo o que eu nunca soube que poderia querer ou precisar - gentil, atencioso e, acima de tudo, incapaz de me machucar. Colin me tratava com uma doçura cuidadosa, fazendo-me sentir importante. Não importante para o mundo, mas para ele. Era como se ele tivesse o poder de me enxergar de verdade, de uma forma que ninguém mais conseguia.

Colin era o garoto que me fazia acreditar que algo bom estava reservado para mim. Seus olhos azuis eram faróis que iluminavam meus cantos mais escuros, e ele se tornou meu porto seguro - a única pessoa que me fazia sentir verdadeiramente protegida. Havia nele uma habilidade especial de perceber quando eu não estava bem, quando as palavras da minha mãe pesavam demais. E, sem nunca falhar, ele aparecia com um sorriso contagiante e aquele brilho travesso no olhar - às vezes trazendo sorvete ou uma piada boba que me fazia rir, mesmo quando eu não queria.

Quando ele me apresentou à sua família, foi como se eu finalmente tivesse encontrado um lar de verdade. Violet Bridgerton, sua mãe, era o oposto completo da minha. Ela me tratava com uma ternura maternal que nunca conheci, sempre me elogiando de maneira suave, cada palavra soando como um abraço. E Eloise... bem, Eloise era a irmã que sempre desejei ter. Com ela, eu podia compartilhar segredos, rir até chorar, e, por alguns momentos, esquecer o peso do mundo.

Nós três fazíamos muitas coisas juntos, mas a minha atividade favorita era a que compartilhava apenas com Colin: a patinação. Ele treinava hóquei no Lee Valley e, convenhamos, era realmente muito bom, com um talento natural para o esporte. Às vezes, Violet me levava até lá para que Colin pudesse me ensinar a patinar nas sessões programadas. No começo, eu era um verdadeiro desastre - escorregando e caindo sem parar - e, com o passar dos anos, a situação não melhorou muito. Mas Colin nunca ria de mim; ele estava sempre ao meu lado, cuidando dos meus machucados e defendendo-me dos comentários de quem tentava me intimidar. Aqueles momentos no gelo eram mais do que diversão; eram um refúgio, onde me sentia acolhida e segura, longe da pressão crescente que costumava sentir em casa.

Então, quando fiz treze anos e Colin dezoito, ele anunciou que iria para Harvard com uma bolsa para jogar pelo time de hóquei masculino, o Crimson. O pânico tomou conta de mim. Como eu conseguiria viver sem ele por perto? Eloise ainda estaria ali, claro, mas Colin... ele era a minha âncora, meu equilíbrio, a pessoa que tornava minha vida suportável.

Foi nesse momento de total vulnerabilidade que fizemos uma promessa.

Era uma lembrança que permanecia viva, mesmo com o passar dos anos. Era um daqueles dias perfeitos, quando o céu se tingia de dourado pelo pôr do sol. Estávamos deitados na grama do jardim dos Bridgertons, e eu olhava para ele, com o coração acelerado, tentando soar casual, mesmo que minha voz tremesse, falhando miseravelmente:

"Quando eu fizer trinta anos e você trinta e cinco...", engoli em seco, sentindo a gravidade daquelas palavras. "Se ainda estivermos solteiros... promete que teremos um bebê?"

Foi uma pergunta inocente, quase infantil, carregada de todas as inseguranças que eu sentia. Colin riu, uma risada suave e envolvente que aqueceu algo dentro de mim. Ele me olhou com uma diversão genuína nos olhos, e, por um momento, temi que ele dissesse não. Mas, ainda rindo, respondeu:

"Se eu não estiver casado aos trinta e cinco, você é a única com quem eu teria um bebê, Pen."

Naquele instante, a promessa dele parecia um pilar, algo que me mantinha firme no meio do caos. Era a garantia de que, acontecesse o que acontecesse, sempre haveria nós dois. Naquela época, eu via o futuro através das lentes da minha paixão adolescente por Colin. Ele era o herói da minha história, e eu acreditava que sempre seria. Mas a vida tem um jeito cruel de nos mostrar que o futuro raramente segue os nossos planos.

Olhando para trás, eu conseguia ver minha própria tolice: especialmente porque Colin estava em um relacionamento sério aos vinte e dois anos e, aos vinte e três, já era noivo. E eu? Eu ria de mim mesma, lembrando daquela promessa absurda que fizemos. Em que universo eu pensei que Colin Bridgerton estaria solteiro aos trinta e cinco anos? Seria cômico, se não doesse tanto.

E o que mais doía era nunca ter imaginado que aquela amizade, aquele sentimento que parecia inabalável, pudesse se transformar em algo completamente diferente. De um laço forte e reconfortante, ele se tornara um emaranhado de ressentimento e raiva. Uma emoção que eu não reconhecia em mim, mas que agora brotava com força, uma erva daninha em um jardim antes florescente. O que antes me oferecia segurança e conforto foi lentamente se desvanecendo, corroído pela distância, pelas escolhas que fizemos e pelas palavras que dissemos - e pelas que nunca dissemos. No fim, a doçura das nossas lembranças se transformou em amargor, e o garoto que me salvou, trazendo luz aos meus dias, também se tornou o homem que me quebrou.

Enquanto pensava nele, em nós, uma pergunta não saía da minha cabeça: quem era Colin Bridgerton? O que havia acontecido com o garoto que me prometeu o mundo e uma amizade eterna? Essa dúvida se instalava em mim de maneira dolorosa, uma sombra persistente pairando sobre meus pensamentos nos momentos mais inesperados. Fui tola ao acreditar que aquela conexão, que parecia inabalável, realmente resistiria ao teste do tempo e das circunstâncias.

Talvez o mais difícil seja aceitar que ele sempre foi assim - encantador, mas elusivo. Recusei-me a enxergar as nuances que se escondiam por trás de seu sorriso. Havia algo em sua natureza que buscava incessantemente a liberdade, um desejo de se afastar das amarras que a vida impôs.

Enquanto as memórias do nosso passado dançavam em minha mente, percebi que a fragilidade da nossa amizade se assemelhava a uma flor de primavera: deslumbrante, mas vulnerável, facilmente esmagada por um toque descuidado. No fim, as promessas mais doces podiam ser também as mais destrutivas, um veneno disfarçado de mel.

Game Changer: Love Edition • PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora