Capítulo 6

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Colin Bridgerton


Entrei na cozinha e o cheiro convidativo do almoço que Penelope preparava me envolveu de imediato. Ela estava concentrada no fogão, totalmente absorta no que fazia. O aroma familiar trouxe uma avalanche de lembranças, memórias que me atingiram com uma força inesperada. Era quase doloroso pensar em como minha mãe, Violet, sempre encontrava uma maneira de quebrar minhas barreiras emocionais, mesmo quando eu fazia de tudo para me afastar. Nos tempos em que eu me fechava para o mundo, ela usava a comida como um último recurso para se conectar comigo. Lembro-me de como ela passava horas na cozinha preparando meus pratos favoritos, na esperança de que aquilo me fizesse falar, me abrir.

A saudade apertou o peito, e a culpa veio logo em seguida. Eu tinha sido um filho ausente, fugindo nos momentos difíceis, evitando qualquer tipo de vulnerabilidade. Eu devia a ela um pedido de perdão por ter ignorado todos os seus esforços para ficar ao meu lado, mesmo quando eu insistia em afastá-la. Agora, mais do que nunca, eu precisava acertar as contas. Precisava olhar nos olhos dela e admitir que, durante muito tempo, falhei em ser o filho que ela merecia. Mais do que isso, eu precisava corrigir os erros que me afastaram das pessoas mais importantes para mim. Eu estava de volta — e dessa vez, eu não fugiria.

Mas antes, havia outra pessoa com quem eu precisava acertar as contas.

Meus olhos voltaram-se para Penelope. Ela parecia completamente concentrada no que fazia, totalmente indiferente à minha presença — ou pelo menos fingia muito bem. Eu sabia que precisava dizer algo. Qualquer coisa que cortasse o silêncio sufocante que pairava entre nós desde a noite passada. Mas toda vez que eu abria a boca, as palavras desapareciam, como se não fossem capazes de capturar a complexidade do que eu sentia. A irritação que vinha crescendo desde nossa última conversa ainda queimava em meu peito, alimentada pelo ressentimento que eu carregava há anos.

Ela passou o dia inteiro evitando me olhar, como se eu fosse o vilão da história. E aquilo só fazia minha raiva crescer. Eu queria que ela explicasse a maldita publicação de 2018, aquela que ainda me assombrava como um pesadelo sem fim. Ela devia alguma satisfação, não? Depois de tudo que rolou, o mínimo que eu esperava era uma explicação. Um pedido de desculpa também cairia bem. Mas, em vez de ir lá e jogar tudo na cara dela, fiquei ali, apenas observando.

Os movimentos dela eram quase irritantemente calmos, fluidos, como se tudo ao redor fosse insignificante. E por um breve momento, me peguei hipnotizado pela maneira como a luz dourada da cozinha iluminava seus cabelos ruivos. Era algo familiar, e ao mesmo tempo, totalmente novo, algo que mexia comigo lá no fundo, onde eu não costumava olhar. Um desconforto estranho me invadiu — uma mistura inquietante de frustração e... outra coisa que eu ainda não conseguia definir.

Penelope podia fingir estar imune à minha presença, mas eu via os pequenos sinais. O sutil enrijecer dos ombros. O leve tremor na respiração quando ela notou o quão perto eu estava. E foi aí que as perguntas começaram a martelar de novo. Ela ainda se importava? Ainda existia algo entre nós, ou isso tudo era coisa da minha cabeça? Ela sentia minha falta? Teria pensado em mim durante esses anos? Os sentimentos conflitantes que borbulhavam dentro de mim não eram só por causa da maldita publicação; era pelo silêncio que nos envolvia, pelas palavras que nunca dissemos e que pairavam como espinhos invisíveis. Eu queria atravessar essa barreira. Queria forçá-la a me dar alguma resposta. Mas algo me segurava. Talvez fosse o medo de finalmente ouvir o que eu mais temia.

Tentando manter-me controlado, soltei o ar lentamente pelo nariz, tomando um passo à frente, rompendo a distância segura que ainda nos separava.

— Precisa de ajuda com isso? — minha voz saiu mais rouca do que eu pretendia, uma mistura de ansiedade contida e hesitação.

Game Changer: Love Edition • PolinOnde histórias criam vida. Descubra agora