Penelope Featherington
2024
A chuva caía suavemente sobre Springfield, suas gotas deslizando pelo vidro como lágrimas silenciosas. Sentada em um banco acolchoado sob a janela e envolta em um cobertor macio, eu observava o mundo lá fora. As luzes da cidade refletiam nas poças de água formadas nas calçadas, criando um espetáculo que deveria ser poético. Mas, em vez de enxergar beleza, aquele cenário apenas acentuava a confusão que havia se instalado dentro de mim. Desde que Colin Bridgerton saiu da minha vida como um furacão indomável, eu me sentia como um castelo de cartas prestes a desmoronar.
Aos vinte e três anos, era difícil reconhecer a garota que um dia acreditou em finais felizes. Aquela menina ingênua, que sonhava com um futuro brilhante ao lado de Colin Bridgerton, havia sido sepultada pelas camadas de desilusões e memórias amargas. Era como se aquela versão de mim tivesse se dissolvido na neblina do tempo, deixada para trás em algum ponto indefinido da minha vida. Enquanto me afundava nas lembranças de quem fui, Colin havia se transformado em uma lenda do hóquei, o defensor mais disputado da NHL, um prodígio no Boston Bruins. Seu nome estava em todos os noticiários, sua imagem estampada em capas de revistas, e cada menção a ele me fazia sentir como se alguém apertasse meu coração com força.
A televisão, ligada no centro da sala, transmitia mais um jogo e, como sempre, os comentaristas exaltavam suas jogadas impecáveis. Colin não era só habilidoso na defesa; sua presença no ataque transformava o time. Ele era o tipo de jogador que não apenas protegia a meta, mas também impulsionava o placar, cruzando o gelo com uma rapidez impressionante, sempre um passo à frente dos adversários. Ele se tornara o jogador ideal, tanto admirado quanto temido, alguém que todos queriam no seu time.
O som preenchia a sala, e a cada menção, cada jogada, era uma lâmina cortando fundo, misturando saudade e ressentimento em partes iguais. A lembrança de quem éramos e do que poderíamos ter sido me corroía. Eu não podia culpar Eloise por ser alheia ao que acontecera; ela não fazia ideia. Como poderia? Colin nunca se deu ao trabalho de contar a ela, e eu também não tive coragem de confessar como a distância — e o relacionamento dele — tinham nos afastado. A distância entre nós não era apenas física, mas emocional. Nós nos tornamos estranhos em uma dança eterna, sempre girando em torno um do outro, sem nunca nos encontrarmos. E eu estava cansada de dançar sozinha.
Do lado de fora, a chuva seguia sua trajetória, com as gotas tamborilando suavemente sobre a casa, criando um som abafado e quase reconfortante, em nítido contraste com o rugido vibrante da torcida que ecoava na arena. Colin deslizava no gelo com a mesma destreza implacável de sempre, e eu me perguntei, sentindo-me uma tola, se ele sequer pensava em mim. Em algum momento, ele se lembrava da garota que costumava ser sua amiga? Ou eu havia sido completamente apagada, uma nota escrita em uma página, rasgada e jogada fora?
Um vazio profundo tomava conta de mim. A sensação era familiar, um buraco escuro no estômago, um lembrete constante de que a tempestade entre nós jamais cessaria. Havia dias em que eu conseguia fingir que Colin Bridgerton não era mais uma presença significativa na minha vida, mas aquele não era um deles.
Normalmente, eu não passava tanto tempo pensando nele, mesmo enquanto Eloise insistia em assistir a todos os jogos do irmão com uma devoção quase religiosa. Mas naquela tarde, enquanto sentava à minha mesa, as teclas sob meus dedos pareciam mais pesadas do que de costume, a inevitável sombra dele pairava sobre meu trabalho na Boston Magazine. A coluna 'Whistledown em Foco' era meu refúgio, mas escrever sobre Colin — e seus recentes escândalos — parecia um castigo cruel do destino. Não era o jogador de hóquei implacável que precisava retratar, mas o homem descontrolado que saltava de escândalo em escândalo desde o fim de seu noivado com Siena Rosso. As manchetes sensacionalistas não paravam de surgir nos outros tablóides, pintando a imagem de um homem diferente daquele que eu conhecia — ou achava conhecer.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Game Changer: Love Edition • Polin
RomanceColin Bridgerton e Penelope Featherington eram inseparáveis na infância. Ele, o garoto que sempre roubava a cena com seu charme irresistível, e ela, a menina com uma generosidade que iluminava qualquer ambiente. Juntos, formavam uma dupla imbatível...