Carinho nunca é demais

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Era uma daquelas noites em que o silêncio parecia pesar nos ombros de Alexandra. Os ruídos suaves da cidade, que geralmente a ajudavam a dormir, pareciam muito distantes, como se tivessem sido abafados pela solidão que ela sentia naquele instante. Apesar de estar na cama há horas, o sono simplesmente não vinha. Seus pensamentos corriam em círculos, cada vez mais agitados, trazendo lembranças de um passado incerto e a ansiedade de um futuro desconhecido.

Ela se levantou com cuidado, tentando não acordar Lottie no quarto ao lado. Descalça, Alex começou a vagar pelos corredores da Torre dos Vingadores. O lugar era enorme, quase assustador na sua imensidão durante a noite. Os corredores pareciam frios, apesar de todo o conforto que aquela nova casa oferecia. Havia algo na quietude da madrugada que sempre deixava Alex inquieta, como se não pertencesse completamente àquele mundo.

Caminhando sem rumo, ela abraçou a si mesma, como se procurasse algum tipo de conforto. Seus pensamentos vagavam enquanto seus passos ecoavam suavemente pelas paredes. Ela se perguntava se algum dia aquilo tudo se tornaria realmente um lar, se algum dia ela se sentiria parte daquela família que, de maneira tão inesperada, a acolheu.

Do outro lado da torre, Natasha Romanoff acordou subitamente. Ela sempre fora uma pessoa alerta, seus sentidos aguçados mesmo durante o sono. Algo a incomodava. Por um momento, ela ficou deitada em silêncio, ouvindo. E então, lá estava: passos leves, quase imperceptíveis, ecoando pelo corredor. Ela se sentou lentamente, com cuidado para não acordar Steve, que dormia tranquilamente ao seu lado. Seu olhar se dirigiu à porta. Havia algo nos passos que parecia familiar, mas ao mesmo tempo cheio de angústia.

Sem fazer barulho, Natasha saiu da cama e abriu a porta do quarto. Ao ver a silhueta de Alexandra andando pelo corredor, seus instintos se confirmaram. A jovem parecia perdida em seus próprios pensamentos, sem rumo certo.

"Alex?", Natasha chamou suavemente.

Alex parou imediatamente, virando-se lentamente para encarar Natasha. Seus olhos castanho-escuros estavam cheios de cansaço, mas também de algo mais — uma inquietação que ela tentava desesperadamente esconder.

"Não consegue dormir?", Natasha perguntou, já sabendo a resposta.

Alex deu de ombros, tentando parecer indiferente, mas seus olhos a traíam. "Acho que não", respondeu ela, sua voz um sussurro.

Natasha aproximou-se lentamente, sua presença calma, mas acolhedora. "Quer conversar sobre isso?"

Alex hesitou, mordendo o lábio inferior. Não era do tipo que se abria facilmente, especialmente sobre seus sentimentos. Mas havia algo em Natasha, talvez a maneira como ela parecia entender tudo sem precisar de muitas palavras, que a fazia se sentir um pouco mais segura.

"Eu... não sei", Alex murmurou. "É só... às vezes, eu não consigo desligar a cabeça. É como se tudo ficasse girando e eu não conseguisse parar."

Natasha assentiu, compreendendo perfeitamente o que Alex estava descrevendo. Ela mesma tinha muitas noites assim. "Eu entendo. E é difícil quando você está num lugar novo, com tantas coisas diferentes acontecendo ao seu redor."

Alex suspirou. "Sim. E... tudo isso, essa nova vida. Eu deveria estar feliz, não é?"

Natasha sorriu suavemente. "Você não precisa se forçar a sentir nada. É normal se sentir assim. Todos nós já passamos por momentos de incerteza."

Nesse momento, Steve apareceu à porta, coçando os olhos, claramente ainda meio adormecido. "Nat? O que está acontecendo?"

"Alex não consegue dormir", Natasha explicou, com um olhar afetuoso para a jovem.

Steve, sempre o protetor, imediatamente ficou mais desperto. "Oh. Queremos ajudar?"

Alex olhou para os dois, sentindo-se um pouco exposta, mas também estranhamente acolhida. Eles não estavam tentando forçá-la a nada, apenas oferecendo ajuda. E naquele momento, ela percebeu o quanto precisava disso.

Natasha se aproximou mais de Alex e, de forma inesperada, a puxou gentilmente pelo braço. "Venha. Você pode ficar conosco esta noite."

Alex arregalou os olhos, surpresa. "Com vocês?"

"Claro", disse Steve, seu sorriso gentil aparecendo. "Às vezes, é mais fácil dormir quando você não está sozinha."

Ela hesitou, mas o cansaço finalmente venceu sua resistência. Alex assentiu silenciosamente, sentindo-se estranhamente segura com a ideia.

Eles voltaram para o quarto, e Natasha puxou os cobertores para que Alex pudesse se acomodar entre ela e Steve. O espaço era acolhedor, e o calor que vinha dos dois adultos ao seu redor era reconfortante. Alex se aninhou entre eles, sentindo uma calma que há muito tempo não sentia. A cama grande parecia pequena, mas de um jeito que tornava o ambiente ainda mais acolhedor, como se, por um breve momento, ela estivesse protegida de tudo.

Natasha passou um braço em volta de Alex, oferecendo um conforto silencioso. Steve, por sua vez, ajeitou os travesseiros para que todos ficassem confortáveis.

“Está melhor?”, Steve perguntou em um sussurro.

Alex, que começava a relaxar, apenas acenou com a cabeça, fechando os olhos. Pela primeira vez naquela noite, ela sentiu que poderia finalmente adormecer. A respiração constante de Steve e Natasha ao seu lado a tranquilizava, e aos poucos, sua mente começava a se aquietar.

Quando o silêncio estava prestes a preencher o quarto completamente, Steve, com sua voz suave e acolhedora, sussurrou: "Bons sonhos, Alex."

Ela estava quase caindo no sono, mas ainda acordada o suficiente para responder. Num tom quase imperceptível, ela murmurou: "Boa noite, pai. Boa noite, mãe."

O impacto dessas palavras foi imediato. Natasha e Steve congelaram, trocando olhares sobre a cabeça de Alex, que já estava se entregando ao sono. A surpresa nos rostos de ambos era clara. Eles não esperavam aquilo, não tão cedo, e definitivamente não naquela noite.

Steve, sempre o mais centrado, ainda estava processando o que ouvira, enquanto Natasha observava Alex com uma mistura de surpresa e carinho. Mesmo sem palavras, ambos sabiam o peso do que havia acabado de acontecer. Não era apenas um rótulo; era um vínculo que se formava. Alex, que sempre se mantinha forte e fechada, havia baixado a guarda, pelo menos por aquele momento, e os deixado entrar.

Eles não disseram mais nada, respeitando o momento de tranquilidade que Alex finalmente encontrara. Aos poucos, a respiração de Alex se tornou mais lenta e profunda, indicando que ela havia caído no sono.

Steve e Natasha continuaram acordados por mais algum tempo, absorvendo o que havia acabado de acontecer. Sabiam que ser chamados de "pai" e "mãe" não era algo que vinham buscando, mas agora, não podiam evitar o sentimento caloroso que se espalhava dentro de ambos.

Eventualmente, também eles adormeceram, com Alex entre eles, o elo invisível de uma nova família começando a se formar de verdade.

Um Pedido InusitadoOnde histórias criam vida. Descubra agora