Um Pedido Inusitado

Os Quartos

A tarde estava silenciosa na Torre dos Vingadores, exceto pelos barulhos suaves de martelos, brocas e caixas sendo abertas. Os trigêmeos Wingrave estavam montando seus quartos, e a energia que exalava das suas ações era bem diferente do habitual clima tenso do grupo de heróis. Benedict, Alexandra e Charlotte tinham apenas algumas semanas na Torre, mas já começavam a deixar suas marcas na nova casa — e nas pessoas ao seu redor.

Alex estava no seu quarto, observando atentamente as paredes onde tons de verde começavam a formar belos desenhos de folhas e árvores, combinando com as paredes em bege claro. Em alguns pontos, ela e Ben adicionaram traços de arte afro-brasileira, símbolos e figuras que remetiam ao lugar de onde vieram. Cada pincelada parecia mais uma memória resgatada de um passado distante no Brasil.

Lottie estava no quarto ao lado, focada nos detalhes. Sua parede branca já ganhava formas com detalhes em cinza e roxo claro. Enquanto ela organizava cuidadosamente seus livros de moda na estante, Ben entrava e saía carregando caixas, organizando tudo do jeito que ela pedia, sem questionar. Ele observava o sorriso de Lottie a cada vez que ele acertava exatamente onde ela queria que colocasse algo. Ele sabia o que ela gostava e fazia questão de garantir que tudo estivesse perfeito para ela e Alex.

Ben, por sua vez, já havia terminado de montar seu próprio espaço. Suas paredes em verde militar traziam uma atmosfera serena, mas robusta. A coleção de discos de rock and roll e MPB ocupava um espaço de destaque. Pôsteres do Queen, de B.B. King e da Marinha decoravam as paredes, uma mistura estranha, mas que definia bem quem ele era — um jovem moldado pelo passado, pela música e pela luta. Embora seu quarto tivesse uma aura mais simples e crua, ele não se importava com luxo ou estilo; ele se importava apenas com a funcionalidade.

Mas o que chamava a atenção de todos, especialmente dos Vingadores, era a maneira como Ben tratava suas irmãs. Ele era incansável quando se tratava de fazer o quarto delas exatamente do jeito que elas queriam. Se Alex precisasse de algo pesado movido ou se Lottie quisesse reorganizar uma estante inteira de livros, Ben estava lá, silencioso, mas eficiente.

Tony Stark, que estava observando de longe, cruzou os braços enquanto via o garoto carregar mais uma caixa para o quarto de Alex. "Sabe, eu podia construir um robô para fazer isso por ele", comentou, olhando para Pepper.

Pepper sorriu, mas seus olhos também refletiam a mesma dúvida. "Talvez ele precise disso. De algum modo... para cuidar delas."

Steve Rogers e Natasha, que também observavam, trocavam olhares. Natasha parecia particularmente interessada na dinâmica. “Ele se transforma quando está com elas”, murmurou, cruzando os braços. "Mas com a gente... é como se fôssemos estranhos."

“Ele não confia em nós ainda”, respondeu Steve, sempre paciente. “É assim que ele protege as irmãs, como se fosse a única coisa que ele soubesse fazer bem.”

Natasha inclinou a cabeça, pensativa. “Mas não podemos ser meros espectadores. Precisamos entender o que está acontecendo com ele.”

Enquanto isso, no quarto de Alex, ela observava Ben cuidadosamente arrumar a mesa de estudos que ela havia escolhido. O tom de verde das folhas nas paredes contrastava de maneira perfeita com os detalhes afro-brasileiros que ela mesma havia pintado. A atenção que Ben dava ao quarto dela não passava despercebida.

“Ben, você realmente não precisa fazer tudo sozinho. Eu posso ajudar com algumas dessas coisas”, disse Alex, inclinando a cabeça e sorrindo, tentando aliviar um pouco do fardo que ele colocava sobre si mesmo.

Ele parou, limpando o suor da testa e dando de ombros. “Você sabe que eu gosto de fazer as coisas do meu jeito.”

“Do seu jeito ou do nosso jeito?” Alex riu, cruzando os braços enquanto observava o irmão.

Ben desviou o olhar por um momento, quase desconfortável com a atenção. "Vocês sabem que eu não me importo de ajudar."

"Mas você faz tudo, Ben", respondeu Lottie, que havia acabado de entrar no quarto de Alex, observando a interação. "Você sempre fez isso. A vida inteira."

"É porque vocês não sabem fazer nada direito", ele brincou, o tom de sarcasmo evidente, mas suave.

Lottie deu um leve soco no braço dele, rindo. "Ei, eu montei minha própria estante! E Alex pintou essas paredes sozinha. Não somos tão inúteis."

Alex sorriu, mas olhou para Ben com uma expressão mais séria. "Mas isso não significa que você tem que fazer tudo sozinho, Ben. Estamos todos aqui agora. Temos que começar a confiar uns nos outros."

Ben parou por um segundo, claramente desconfortável com o rumo da conversa. Ele sempre foi o protetor, o responsável. Desde que foram abandonados ainda bebês, ele assumiu esse papel. Não importava que todos os três tivessem a mesma idade; ele sempre se colocou entre as irmãs e o mundo, como uma barreira que protegia as duas do que quer que viesse.

Mas agora, com os Vingadores, havia algo novo. Algo que ele não conseguia entender completamente. Pessoas que estavam dispostas a cuidar deles, a ajudá-los. Mas para Ben, isso parecia uma ameaça. Como se confiar neles significasse abrir mão do controle que ele sempre teve sobre a vida deles.

Do corredor, Clint observava tudo, os braços cruzados, uma expressão indecifrável no rosto. Ele viu o cuidado e a dedicação de Ben com as irmãs, mas também notou como o garoto se fechava para qualquer tipo de apoio vindo de fora. A conexão entre os três era forte, quase impenetrável.

Bruce se aproximou, notando o olhar distante de Clint. “Ele é complicado, não é?”

Clint assentiu lentamente. "Ele é. Não sei como quebrar essa barreira."

“Ele está protegendo as irmãs como se fosse a única coisa que ele sabe fazer”, comentou Bruce, os olhos gentis observando a dinâmica dos trigêmeos.

“Eu só queria que ele visse que não precisa fazer isso sozinho”, respondeu Clint, com uma pitada de frustração. "Mas com ele... é como andar em uma corda bamba. Um passo em falso, e ele se afasta completamente."

"Você vai conseguir", disse Bruce, colocando uma mão no ombro de Clint. "Só não apresse as coisas. Ele vai se abrir no tempo dele."

Dentro do quarto de Alex, Ben terminou de arrumar a última caixa. “Pronto”, disse ele, tentando manter o tom casual. “O que mais vocês precisam?”

Alex e Lottie trocaram olhares. “Nada, por enquanto”, disse Alex. “Mas obrigada, Ben. De verdade.”

Ele acenou com a cabeça, aceitando o agradecimento com uma expressão neutra. “Certo. Vou voltar para o meu quarto.”

Assim que ele saiu, Lottie suspirou. “Eu amo o Ben, mas ele precisa aprender a relaxar um pouco. Ele acha que tudo depende dele.”

Alex assentiu. “Ele vai chegar lá. Agora, temos que fazer com que ele veja que não está sozinho.”