Um Pedido Inusitado

Linhas lançadas

A tarde estava surpreendentemente calma. O céu estava pontilhado de nuvens brancas, e o som suave das águas do lago preenchia o ambiente. Clint Barton, com uma expressão determinada, caminhava em direção ao lago carregando o equipamento de pesca. Bruce Banner estava logo atrás, com um sorriso de quem apreciava o silêncio da natureza. Já Ben, por outro lado, arrastava os pés com desânimo. Ele não queria estar ali. Não queria estar fora de seu quarto, longe de suas irmãs. E definitivamente não queria passar a tarde pescando com Clint e Bruce.

"Eu não entendo por que a gente tem que fazer isso", resmungou Ben pela terceira vez enquanto olhava para o lago. "Vocês sabem que não sou obrigado a gostar de pescar, certo?"

Clint revirou os olhos, tentando esconder um sorriso. "Ah, relaxa, Ben. Não estamos aqui para te torturar. Na verdade, isso vai ser divertido. Pescar é uma forma de relaxar, conectar-se com a natureza. Além disso, você pode aprender uma coisa ou outra."

"Eu já sei como pescar, Clint", Ben respondeu de forma curta, cruzando os braços enquanto andava. "Só não vejo graça nisso."

Bruce, que até então havia se mantido em silêncio, lançou um olhar curioso para o garoto. "Então por que não gosta? Se já sabe pescar, talvez esteja perdendo o ponto de tudo."

Ben deu de ombros, tentando não parecer interessado. Na verdade, ele amava pescar. Era uma das poucas lembranças boas que guardava de seus anos mais novos no Rio Grande do Sul. Ele e um antigo vizinho, que praticamente o criara enquanto os pais biológicos estavam fora, passavam horas no rio pescando. Mas aquilo fazia parte de uma vida que Ben não gostava de lembrar. Não era o tipo de coisa que queria compartilhar, nem com Clint, nem com Bruce.

"Não é isso", ele murmurou, "só não tô com paciência hoje."

Clint suspirou e olhou para Bruce, como se pedisse ajuda silenciosamente. Os dois já haviam conversado antes sobre Ben. Sabiam que o garoto era extremamente reservado, muitas vezes agindo de forma fria e reativa, principalmente com eles. Com as irmãs, era outra história. Ben sempre parecia o cavalheiro perfeito, cuidadoso, protetor. Mas quando se tratava dos Vingadores, especialmente de Clint e Bruce, Ben erguia um muro quase intransponível.

Finalmente, chegaram ao local escolhido para a pescaria. O lago brilhava sob a luz do sol, e Clint logo começou a preparar as varas de pescar, entregando uma a Bruce e outra a Ben. Bruce aceitou a vara com um sorriso, enquanto Ben apenas a segurou com as mãos relaxadas, sem demonstrar o entusiasmo que claramente estava escondendo.

Clint observou Ben de canto de olho enquanto arremessava sua própria linha na água. "Olha, Ben", ele começou, a voz suave e paciente, "não estamos aqui só para pescar. Queremos passar um tempo com você. Eu sei que as coisas não têm sido fáceis para você desde que chegou. E, sinceramente, entendo. Ser jogado nessa nova vida, com pessoas novas e um monte de expectativas, deve ser... complicado."

Bruce, já com sua linha na água, completou: "Queremos entender você melhor, Ben. Não estamos aqui para te pressionar ou te mudar. Só queremos saber o que está acontecendo dentro dessa sua cabeça. Por que você se fecha tanto com a gente, mas é diferente com suas irmãs?"

Ben ficou em silêncio, olhando para o lago, evitando o olhar de ambos. Ele sabia que aquela conversa chegaria eventualmente. Clint e Bruce eram persistentes, e ele podia ver que, de certa forma, eles realmente se importavam. Mas falar sobre si mesmo, sobre seus sentimentos, era algo que Ben evitava a todo custo. Ele não queria parecer vulnerável. Vulnerabilidade significava abrir espaço para decepções e machucados, algo que ele jurara nunca mais permitir.

"Não tem nada para entender", Ben disse finalmente, a voz mais baixa. "Eu só... sou assim."

Clint trocou um olhar rápido com Bruce. Eles sabiam que aquilo não era verdade. Ben tinha profundidade, camadas que ainda não tinham sido reveladas. Clint suspirou, girando o carretel da vara de pescar.

"Tá bom, se você diz", Clint respondeu com leveza, sem pressionar mais o garoto. "Mas vou te dizer uma coisa, Ben. Quando eu tinha sua idade, eu também era cheio de barreiras. Achava que ninguém podia me entender. Só que, eventualmente, percebi que abaixar essas barreiras e deixar as pessoas entrarem não era sinal de fraqueza."

Ben ainda estava em silêncio, mas algo naquelas palavras mexeu com ele. Ele pensou em suas irmãs. Sempre fora o protetor delas, o que mantinha tudo sob controle. Mas, às vezes, até ele sentia o peso de suas próprias paredes. Ser cavalheiro e protetor com Alex e Lottie era fácil. Com elas, ele podia ser o irmão mais velho sem medo de julgamentos. Mas com Clint e Bruce, figuras paternas que ele ainda se recusava a aceitar como tal, era diferente.

Enquanto refletia, Ben arremessou sua linha na água com precisão, o movimento fluido e rápido, o que chamou a atenção de Clint e Bruce. "Uau", Bruce comentou, erguendo as sobrancelhas. "Isso foi impressionante."

Clint sorriu de lado. "Está se saindo melhor do que eu esperava, garoto."

Ben deu de ombros, mas uma pontada de orgulho o atravessou. Ele gostava de pescar, e era bom nisso. "Eu já fiz isso antes", ele murmurou, com um leve tom de superioridade.

A pescaria seguiu em silêncio por alguns minutos, o som tranquilo da natureza preenchendo o espaço entre eles. Finalmente, Bruce quebrou o silêncio novamente. "Então, por que não nos contou que gostava de pescar?"

Ben olhou para a água. "Porque vocês iam me arrastar para cá de qualquer jeito. Achei que ia ser mais fácil não falar nada."

Clint riu, balançando a cabeça. "Você está certo sobre isso. Mas, sério, Ben, você não precisa se isolar de nós. Não estamos aqui para substituir ninguém da sua vida. Estamos aqui para ser algo novo."

Ben mordeu o lábio, hesitando antes de responder. "Eu... eu não sei o que quero ainda. Não sei se quero isso... uma família."

Bruce assentiu lentamente. "Entendemos, Ben. Mas saiba que estamos aqui, prontos para ser essa família quando você estiver pronto para aceitar. Não tem pressa."

O silêncio que seguiu foi mais confortável desta vez. Ben não respondeu, mas as palavras de Bruce ficaram com ele. Talvez, só talvez, ele pudesse baixar suas defesas aos poucos. Por enquanto, ele se concentrou na pescaria, observando o lago e o movimento suave da linha, sabendo que essa conversa seria apenas o começo de algo que levaria tempo para evoluir.

O peixe, ao menos, não parecia tão complicado quanto os sentimentos humanos.