Segredos no silêncio

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Amélie

Meu corpo estava paralisado. Talvez fosse o fato de Megan admitir que era a garota de ontem, a mesma que quase testemunhou meu ato impensado de dar fim à minha vida. De alguma forma, tudo fazia sentido agora — a maneira como eu me sentia perto dela, a tensão no ar.

Observei seu rosto por mais tempo, notando detalhes que antes me escaparam. Seus traços eram bem marcados, e meus olhos se fixaram na pequena argola que adornava seu lábio. Desviei o olhar rapidamente e, sem pensar muito, disparei:

— Quer que eu te agradeça? — perguntei, tentando manter a expressão neutra, embora soubesse que falharia. E falhei. Seus lábios logo se curvaram em um sorriso arrogante.

— Não esperava que você o fizesse — respondeu ela, inclinando a cabeça para trás e suspirando de leve. — Não vou mentir, fiquei intrigada — murmurou, enquanto observava Veronica se aproximar de nós com três copos de café.

— Espero que esteja se sentindo acolhida, Megan. Nossa empresa preza por isso — disse Veronica, sorrindo e estendendo um dos copos para Megan, que o pegou com um leve aceno.

— Melhor do que eu imaginava — Megan respondeu, lançando-me um sorriso de lado, provocador.

Veronica se sentou ao lado de Megan, esboçando seu habitual sorriso simpático.

— Como foi ontem, na consulta? — perguntou, e por um instante, esqueci como respirar. Os olhos castanhos de Veronica estavam fixos em mim, curiosos, enquanto Megan me observava com uma indiferença que me deixava desconfortável, como se eu não passasse de algo insignificante para ela.

— Não foi tão ruim assim, né? Pelo menos, não te arrancou um pedaço — brincou Veronica, tentando aliviar o clima. Forço um sorriso.

— Ah, está tudo bem... o de sempre — menti, engolindo em seco. Desviei o olhar, e meus dedos começaram a tamborilar contra o copo descartável. Foi então que percebi a inscrição no copo: "Megan". Droga, eu estava com o copo errado.

Meu estômago deu um nó. Troquei os copos rapidamente, tentando agir com naturalidade. Megan continuava em silêncio, mas eu sentia seu olhar fixo em mim, quase como se estivesse se divertindo com meu nervosismo. Aquilo me irritava ainda mais, ela percebe que estou nervosa, aposto que notou que estava com o copo dela.

Veronica, sempre tão animada, mudou de assunto:

— Bom, acho que estamos todos nos ajustando bem, né? — comentou ela, sorrindo para ambas.

Eu assenti distraidamente, ainda me recuperando do aperto no peito. Megan deu um meio sorriso, com aquele jeito provocador que parecia nunca me deixar em paz.

— Ajustando bem? — Megan repetiu, com a voz arrastada e um brilho de desafio no olhar. — Talvez para você, Veronica. Mas nem todos se ajustam tão fácil.

Veronica riu, achando graça, enquanto eu tentava evitar o olhar de Megan, que claramente queria me provocar.

— Amelie, está tudo bem? — perguntou Veronica, notando meu silêncio.

— Sim, está tudo ótimo — menti novamente, sentindo meu coração acelerado. Olhei para o lado, tentando me recompor, mas era difícil com Megan me observando daquele jeito, como se soubesse exatamente o que se passava na minha cabeça.

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