Capítulo 9

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Olha quem voltou, só depois de uma semana 🤧 Vitória do povo de Deus!

Não tive tempo pra editar o capítulo todo, perdão. Mas ele ficou enorme 🧡

Espero que aproveitem. Volto em breve 🧡

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“Uma semana depois”

A semana havia se passado voando e o dia da avó da oposta voltar para a Sérvia finalmente havia chegado. Hande se despediu dela no aeroporto, juntamente com Tijana.

- Eu vou sentir saudades da minha companheira de fisioterapia. – sussurrou Hande, a abraçando apertado.

- Nós duas estamos totalmente recuperadas, minha filha. – sussurrou de volta. – Você está pronta para voltar a jogar e eu finalmente vou poder voltar a assistir os jogos do Eczacibasi...

- Vovó! – a morena a repreendeu. – Eu estava lá o tempo todo, tá legal?
Mirna soltou a turca e abraçou a sua neta.

- Não seja ciumenta. – a repreendeu. – Eu também assisto os jogos por sua causa.

- Eu vou fingir que acredito. – resmungou. – A senhora precisa ir agora...- lamentou, olhando para o painel de vôos. – Eu te amo, ok? Me avise quando pousar na Sérvia.

- Também amo você. – sorriu para ela. – Amo vocês duas, na verdade. – se voltou para Hande. – Tica estará de volta a Sérvia em breve, mas eu não sei quando vai ser a próxima vez que vou ver você, minha menina. – disse, beijando a testa dela em seguida. – Mas lembre-se, apesar da distância, você está em meu coração.

Hande ignorou as lágrimas teimosas que escorriam em seu rosto e beijou a mão da mais velha, levando a testa em seguida.

- Eu amo você. – sussurrou. – Também não sei quando nos veremos, mas a senhora também está em meu coração. – a beijou na testa. – Faça uma boa viagem, minha doce brisa sérvia.

Mirna sorriu e logo a sua acompanhante se aproximou para ajudá-la durante o voo. As duas garotas acompanharam até que ela desaparecesse de vista.

Boskovic desviou o olhar e suspirou profundamente, tentando controlar as lágrimas que vinham toda as vezes que alguém de sua família ia embora.

- Eu...- tentou dizer.

- Está tudo bem, se quiser chorar, Tijana. – Hande pontuou. – Você não precisa ser forte o tempo todo, está bem?

- Eu tento me acostumar com a partida deles, mas é um pouco difícil. – sussurrou, com a voz chorosa. – É difícil não largar tudo e ir para casa com eles.

A turca sentiu vontade de abraçá-la, mas não iria ultrapassar aquele limite imposto por si mesmo mais uma vez. As coisas simplesmente não poderiam ir tão rápidas.

- Você está vivendo o seu sonho. – a lembrou. – Saiu do seu país há dois anos para jogar num dos maiores clubes do mundo e tem feito isso com maestria. – observou. – A sua família sempre irá apoiar você em qualquer decisão, mas não deixe que as suas emoções te dominem, quando você sabe que tem um propósito.

- Hande...

- O processo é doloroso, mas você já tem e ainda terá recompensas. – a cortou. – O vôlei perderia uma grande estrela caso você desistisse de tudo. Lembre-se disso, Tica.

A morena sorriu minimamente.

- Deus, eu senti tanto a falta do seu apoio. – pontuou.

- Você não tem apenas a mim para te apoiar no clube. – tentou mudar de assunto. – Simge e Maja são suas grandes amigas.

- Não é a mesma coisa. – rebateu e Hande desviou o olhar.

- Bem, espero que você fique bem. – disse, se afastando da garota. – Eu preciso ir agora.

- Tudo bem. – assentiu derrotada.

Hande foi para o estacionamento o mais rápido que conseguiu. Ela precisava sair dali o quanto antes, para que pudesse respirar. A morena tinha um namorado, não tinha? Então por que ela insistia em falar aquelas coisas para ela?, pensou e pisou no acelerador, assim que ligou o seu carro, rezando para que o dia de sua terapia chegasse rápido.

(...)

- Baba, nós não vamos assistir a esses filmes chatos e em preto e branco! – reclamou Eda.

- Por que não vamos? – rebateu Mohamed. – O baba de vocês precisa de um descanso...

- Descanso mesmo, porque o senhor sempre dorme nos primeiros cinco minutos de filme. – resmungou Eda.

- Eda...- Hande tentou chamar a atenção da irmã.

- Você está sendo chata, filhinha. Nós estamos aqui porque a Hande está triste e você só reclama! – a repreendeu, se posicionando para assistir a qualquer filme que as filhas colocassem, na sala de cinema do apartamento de Hande.

- Isso mesmo, papai. Ela está triste, então ela escolhe o filme. – pontuou, deitando ao lado do pai.

- Que tal se pedíssemos para a Alexa escolher o filme? – sugeriu Hande. – Nenhum de nós irá reclamar da escolha, ok?

A contragosto, os dois concordaram e a Alexa escolheu “Titanic” para que eles assistissem.

- Ótimo, papai. Você terá três horas para dormir. – resmungou Eda.

- Eda! – Hande a repreendeu. – Não ofenda o Titanic!

- É sobre o barco que afunda? – perguntou Mohamed.

- É um navio, baba. – explicou Hande. – Era o maior daquela época.

- Tudo bem, vamos assistir ao navio. – concordou.

- Eu vou fazer pipoca para comermos durante o filme, ok? – indagou Hande.

- Iremos comer a pipoca do mundo inteiro, então. – Eda a provocou. – Estou brincando, irmãzinha. Quero apenas que se distraia.

- Estou começando a ter raiva de você, Eda! – rebateu. – Vou pôr pimenta na sua pipoca. – disse, saindo da sala.

- Eu gosto! – a mais velha gritou e a ponteira revirou os olhos.

Hande sorriu, se encaminhando para a cozinha, quando ouviu o barulho da chuva, seguido do som de sua companhia. Ela foi até a sala e ficou surpresa ao abrir a porta.
- Tica? – disse, assim que abriu a porta.
- O senhor Dante liberou a minha entrada. – justificou sua presença ali.
A visão que Hande teve, foi de partir o coração: a morena estava com os olhos inchados, aparentando ter chorado muito.
- Eu posso entrar? – perguntou, meio sem jeito.
- Você subiu todos os andares de escada novamente? – rebateu, incrédula.– Aconteceu alguma coisa?
Boskovic adentrou a casa e sentou-se no sofá.
- Eu tive um pesadelo e... está chovendo. – disse, sentido as lágrimas voltando a descer.
Hande, vendo a situação que ela se encontrava, sentou-se ao seu lado.
- Eu sinto muito. – foi a única coisa que foi capaz de dizer. – Você quer falar sobre isso?
- Eu não consegui chegar a tempo...- respondeu.
- Tica, eu não estou entendendo nada. – procurou pela mão dela. – Fique calma, sim?
– Havia aquele cara e ele estava segurando você pelo braço e jogou você no corredor, banhada de sangue e com as roupas rasgadas. – explicou amargamente. – Você... você foi atacada por ele e nós não conseguimos chegar a tempo, Hande!
A ponteira se aproximou ainda mais da ex namorada.
- Tica, eu estou bem aqui. – tentou amenizar a situação. – Foi apenas um pesadelo infeliz...
- Você não entende! – a cortou rapidamente. – Ele...ele...- tentou dizer.
- Eu preciso que você fique calma. – pediu, buscando uma das mãos dela novamente.
Tijana suspirou profundamente, fechando os olhos em seguida, tentando afastar a imagem que se formava em sua mente.
- Ele estuprou você. – disse, finalmente.
- Tica...- disse Hande, sem saber como continuaria a frase.
Quando a morena caiu em lágrimas novamente, Hande não aguentou e a puxou para os seus braços, a apertando para que ela tivesse certeza de que ela estava ali.
- Vai ficar tudo bem. – tentou amenizar a situação. – Eu estou aqui e está tudo bem.
Boskovic aproveitou o abraço que tanto sentia falta. Agora, tudo parecia um pouco melhor.
- Prometa que sempre vai ficar bem. – pediu, abraçando a outra mulher como se sua vida dependesse disso.
A turca continuou no abraço, esperando que a outra mulher ficasse mais calma.
- Nem tudo está sob o meu controle e eu preciso que você se acalme. – pediu, se afastando dela. – Mas eu prometo tentar.
- Eu vou passar a seguir você, com o seu segurança! – rebateu, ainda chorosa.
- Você sempre esteve comigo, direto ou indiretamente. – a avisou, segurando o rosto dela carinhosamente. – E eu fico ainda mais grata por isso, mas me seguir é um pouco estranho demais.
- Hande...
- Eu estou bem, porque vocês conseguiram me salvar, Boskovic. – a tranquilizou. – Estou bem. – repetiu. – E eu quero que você nunca esqueça disso.
Hande a abraçou novamente, tentando lhe passar toda a gratidão que sentia por ela, até que elas foram interrompidas.
- Handem? – chamou Eda, parada na escada. – Está tudo bem? 
- Você ainda não voltou. – completou Mohamed, ao lado da filha.
Boskovic se encolheu nos braços da outra garota.
- Papai...- a turca mais nova chamou a atenção dele.
- O que houve, habib? Por que não está na cozinha? – questionou, se aproximando. – É...
- O que houve? – foi a vez de Eda se aproximar e perceber a presença da morena. – Tica, você está bem?
Hande encarou a irmã surpresa.
- Ela claramente não está bem, filha. – pontuou Mohamed. – O que houve, querida? Alguém anda incomodando você?
Tijana desviou o olhar dos dois, quando a turca lhe afastou de seus braços.
- O quê...- sussurrou perdida. – Eu pensei que vocês estivessem com raiva dela.
Eda suspirou e encarou o pai.
- Depois nós falamos sobre isso, Hande. – pediu a mais velha. – O que houve com você, Tijana? E porquê eu tenho a sensação de que tem a ver com a minha irmã?
Boskovic encarou a turca mais nova, totalmente perdida. Ela não sabia se Hande havia contado o ocorrido para a família e ela não seria invasiva para contar.
- Eu...
- Aconteceu algo que eu não contei para vocês dois. – a ponteira a interrompeu. – Há uma semana, eu saí com alguns amigos para um jogo de basquete...
- Me lembro de você ter dito algo assim. – observou Eda.
- Filha, deixe a sua irmã terminar, por favor. – pediu Mohamed.
Hande respirou fundo, tomando coragem para contar porquê sabia que aquele era o pior gatilho para o pai e a irmã. Tijana percebeu o nervosismo da garota e segurou a sua mão, lhe passando confiança.
- No meio do jogo, eu fui ao banheiro. Quando eu cheguei a porta, fui abordada por um homem, que me segurou a força. – explicou e dessa vez a morena quis recolher a sua mão, mas Hande a apertou ainda mais. – Ele era mais forte do que eu e iria me trancar na cabine...
- Chega! – exclamou Mustafar. – Me diga que ele não conseguiu, filha. Por favor, me diga apenas...
- Os seguranças da Tijana chegaram na hora, papai. – sussurrou. – Novan conseguiu me soltar e bateu nele... o desconfigurou, na verdade.
Eda a olhou estática.
- Por que não nos contou? – indagou em choque.
- Eu não queria que vocês tivessem sentimentos ruins...
- Você não decide como nós devemos nos sentir! – o sultão rebateu. – E nunca mais irá sair de casa, mocinha, está me ouvindo?
- Papai! – reclamou Hande.
O homem estava fora de si e andava de um lado para o outro na sala do apartamento.
- Tijana, por que está aqui neste estado? – ele encarou a morena.
- Ela teve um pesadelo com aquele dia. – a turca explicou.
- Você estava naquele dia? – ele insistiu.
- Estava, senhor. – respondeu baixinho.
- Você protegeu a minha filha. – constatou.
- Eu fiz o que disse ao senhor que sempre faria. – assentiu.
Ele olhou para ela, com lágrimas nos olhos.
- Você honrou a sua palavra. Quando combinamos de encontrar um segurança para a Hande, eu não pensei que ele iria servir tão rápido...
- Espera, vocês o quê? – quis saber Hande, totalmente alheia a situação.
- Eu poderia te dar todo o meu patrimônio e ainda não seria o suficiente para te agradecer. – ele ignorou a filha. – Se há alguém no mundo que eu entregaria a mão da minha doce Hande, seria para você, Boskovic.
- Ela tem namorado, papai! – a mais nova o repreendeu.
- Eu acho que já está na hora de você saber toda verdade, Hande. – interviu Eda. – Tijana, eu não sei como te agradecer...
- Eda, não! – Boskovic a repreendeu.
- Não se preocupe, nós iremos lidar com as consequências. – assegurou Mohamed. – Hande, antes mesmo de você ouvir a Tijana, nós dois já conversamos com ela há um ano. 
- O quê? – olhou para morena perdida.
- Eu não te procurei, porque eu sabia que você não queria me ouvir. – se explicou. – Mas eu devia uma resposta para as pessoas mais importantes da sua vida.
- E nós a ouvimos. – confirmou Eda. – Dissemos para ela que você precisava apenas de um tempo e que logo vocês teriam a oportunidade de conversar, mas a Tica não quis isso e nós estranhamos o fato, mas respeitamos.
- Há algum tempo, quando foi anunciada a sua volta ao Eczacibasi, a sua mãe procurou pela Tijana e lhe fez ameaças. – disse Mohamed. – Ela disse que, caso vocês ficassem juntas isso iria acabar com a sua carreira e ela contaria para todo o nosso povo, para que eles odiassem você.
Hande o encarou, totalmente em choque.
- Ela só não contava que a sala que ela trancou a Tijana fosse a minha e lá tem câmeras escondidas. – pontuou Mohamed. – Assim que eu soube do fato, entrei em contato com a Tijana, mas ela disse que não arriscaria a sua reputação e o carinho que o nosso povo tem com você, minha filha, então ela foi obrigada a ter um namorado falso.
- Fa-falso? – Hande a olhou. – Isso é verdade?
- Sim. – sussurrou.
- Por que você fez isso? – perguntou, tentando entender.
- Eu queria que você pensasse que eu havia seguido em frente. – explicou. – E seria mais convincente se fosse com alguém que você sabia que eu já tinha me envolvido.
- Tem razão, foi convincente. – a encarou. – Eu sofri como um inferno!
- Habib...- o pai se aproximou da filha. – Não a julgue por ter sido forçada a tomar uma decisão. – pediu.
- Vocês todos sabiam a verdade! – rebateu Hande. – A minha própria mãe...
- Nós queríamos proteger você. – foi a vez de Eda dizer. – Não pense que foi fácil vê-la sofrer, irmã. Mas não tínhamos outra opção.
- Sempre irá existir outro opção...- a turca mais nova tentou argumentar.
- Nem sempre! – rebateu Mustafar. – Você precisa para de enxergar as coisas de forma prática, Hande. Estávamos todos preocupados com você.
- Mas papai...
- Nada de “mas papai”. – foi firme. – Outra coisa que você precisa aprender, é ouvir as pessoas, está bem? – indagou. – Você sabe quantas pessoas ligariam para as ameaças da sua mãe, se fossem totalmente egoístas?
Hande baixou a cabeça, em sinal de respeito.
- Nós sempre colocamos as suas necessidades acima das nossas e com a Tijana não foi diferente. – explicou. – Amamos você mais do que tudo, Habib. E quando alguém quer fazer algum mal a você, escolhemos sempre a melhor saída.
- Eu sei, papai.
- A partir de hoje, você só sairá de casa com dois seguranças. – Mohamed aviso.
- Mas papai...- a ponteira tentou falar novamente.
- Não me interrompa! – foi firme. – Você vai trocar de carro também.
- Eu gosto do meu carro! – o encarou. – O senhor não pode fazer isso!
- Escolha algum que goste e ele será blindado. – rebateu. – Por último, você vai sair deste apartamento e vai se mudar para uma casa e terá seguranças por toda a propriedade.
- O quê? O senhor está querendo mudar a minha vida toda! – reclamou.
- Não responda o seu pai ou nunca mais sairá de casa de verdade! – a reprendeu. – Tudo estará pronto em uma semana!
- Eu não quero! – protestou.
- A sua resposta não é uma opção. – rebateu. – Agora eu preciso ir, Eda você poderia me acompanhar?
- Por que, papai?
- Eu te explico no caminho. – confirmou. – Espero que estejamos entendidos, Hande.
A turca mais nova deixou que eles ficassem na sala e correu para a sala de cinema.
- Você está sendo muito duro com ela, papai! – reclamou Eda.
- Eu não sei o que eu faria se algo acontecesse a você e a sua irmã, minha filha. – pesarou. – Vocês duas são os meus bens mais preciosos.
- Ela é só uma menina. – tentou argumentar. – Talvez se sinta sufocada com tantas mudanças.
- Eu não abro mão da segurança dela. – rebateu.
- Que tal se o meu segurança continuasse a protegê-la? – sugeriu Tijana. – Ela já havia concordado.
- Ouviu, papai? – insistiu Eda
- Eu vou pensar no caso de vocês. – resmungou. – Agora vamos.
- Vamos. – concordou Eda.
Boskovic assistiu os dois irem embora. Ela refletiu se iria atrás da turca, ou se iria embora. Então ela decidiu que iria atrás de Hande e quando chegou lá, encontrou a garota em prantos.
- Eu posso ficar aqui? – perguntou baixinho.
Hande a encarou profundamente, depois desviou os olhos.
- Fique a vontade.
A morena sentou ao lado dela e ficou em silêncio por alguns minutos, apenas ouvindo o fungado da turca.
- Mamãe me odeia. – Hande quebrou o silêncio.
- Hande...
- Ela não me aceita como eu sou e eu já estou cansada de perdoa-la pelos mesmos erros. – pontuou friamente. – Dessa vez, ela foi longe demais!
- Você quer apenas que eu escute o seu desabafo, ou que eu fale algo?
- Apenas se você quiser falar, Tijana. Eu, sinceramente, estou cansada de tudo isso! – esbravejou. – Você não sabe pelo que eu passei.
- Não estou entendendo. – disse.
- Não há nada o que entender. – disse um pouco mais calma. – Você deixou as coisas bem claras naquele dia, quando deu entrevista e beijou aquele cara.
- Não estou entendendo...- tentou se defender. – Você não ouviu...
- Por favor, não torne isso mais humilhante. – bufou tentando segurar as lágrimas.
- Hande, o que é humilhante exatamente? – perguntou agora perto o suficiente.
- O fato de eu ainda estar apaixonada por você e você não corresponder aos meus sentimentos! – respondeu e esperou alguma resposta que não veio. – Mas o pior, foi ver que você corresponde aos sentimentos de outra pessoa.
A morena nada respondeu, apenas ficou encarando a garota.
- Você não vai falar nada, de novo? – perguntou magoada. – Esqueça o que eu disse! – pediu apressadamente. – Eu não...- tentou falar, mas foi interrompida pelos lábios da garota mais alta, em um selinho profundo.
Boskovic segurou o rosto da garota e quis aprofundar o beijo, mas Hande a impediu.
- Não...- sussurrou ainda sem acreditar que a garota que amava havia lhe beijado. – Eu não quero ser uma escolha pra você.
- Escolha? – perguntou perdida.
- Não quero que você tenha que fazer uma escolha, por medo da dúvida...- sussurrou novamente, mas dessa vez não recebeu uma resposta. – Você gosta dele, não gosta?
A morena continuou sem responder.
- Vai me deixar sem uma resposta novamente? – perguntou chateada.
- Hande, em qual realidade paralela existiria a possibilidade de ficar em dúvida entre você e ele? – indagou.
- Você escolheria ele, não é? – perguntou e não recebeu uma resposta novamente, fazendo com que seus olhos se enchessem de lágrimas. – Boskovic?
A garota mais alta pareceu sair do transe, quando viu as primeiras lágrimas caírem dos olhos de Hande.
- Eu não tenho resposta para isso. – disse e assistiu a garota lhe dar as costas. – Porque isso nunca foi um questionamento para mim, Baladin. – continuou. – Eu jamais te colocaria em posição de dúvida.
- O-o quê? – virou-se de frente para ela novamente.
- Você ouviu o que o seu pai disse? – perguntou e viu a turca assentir. – Eu esperei um ano para reencontrar você, Hande. E, quando eu estava prestes a tentar conversar, a sua mãe me abordou e me fez ameaças.
- Você poderia ter me contado. – sussurrou.
- A última coisa que eu faria, era contar pra você. – retrucou. – Me desculpe por omitir a verdade, mas eu jamais quis que você sentisse o que está sentindo agora. – a turca tentou argumentar. – Não, Hande. Você não decide como lidar com a sua dor sozinha. Eu simplesmente não te diria que a sua mãe me chantageou porque sabia que eu iria tentar fazer as pazes com você. Não da forma que foi. – completou. – Não quis que você lidasse com mais uma perseguição e com o desdém do seu país. Eu sei o quanto você ama este lugar e o quão mal te faria tudo isso. 
Hande suspirou e a encarou.
- Por que fez isso? – quis saber. – Você não pensou em si em nenhum momento?
- Eu tive vontade de matar a sua mãe, a princípio. – revirou os olhos. – Ela frustrou todas as minhas expectativas, Hande. – continuou. - Eu sei que você esteve na Sérvia e que eu podia ter conversado com você lá, mas não era o nosso momento, porque a vovó estava no hospital. – explicou. – Eu aceitei o que a sua mãe propôs porque eu amo você e todas as suas necessidades estão acima das minhas.
Hande ficou em silêncio.
- E você escolheu justamente aquele cara? – quebrou o silêncio.
- O meu empresário sugeriu. – respondeu. – Era rentável se fingíssemos ser um casal, porque eu sou a atleta perfeita, com uma vida perfeita.
- Você ganhou com a minha desgraça? – arremessou uma almofada nela.
- Ai, Hande! – a repreendeu. – Todo o dinheiro que eu ganhei, doei para as escolas de vôlei aqui da Turquia e mandei para a Sérvia.
A turca semicerrou os olhos.
- Eu não quero que você se sinta culpada, mas o dia em que vi a foto, tive uma crise de choro.
- Hande, me desculpe...
- Não se sinta culpada. – reafirmou. – Agora, eu sei a verdade. Mas naquele dia, eu senti muita raiva de você e tive a certeza de que você mentiu pra mim. – argumentou. – E odiei aquele cara com todas as minhas forças, quando vi a foto de vocês dois se beijando.
- Foi apenas uma entrevista. – se adiantou Tijana. – Eu só selava os meus lábios nos dele, não era um beijo de fato...
- Não me faça lembrar! – reclamou. – Aquele idiota!
- Por que você tem tanta raiva dele? – arqueou uma sobrancelha.
- Eu comentei com a minha psicóloga sobre esse sentimento. – argumentou. – Eu senti ciúmes, Tica. Ele estava exibindo você, como se fosse um troféu!
Boskovic ficou em silêncio.
- Não que estar com você não seja algo para se orgulhar. – completou. - Mas você não é um objeto. Não deve ser tratada assim.
- Obrigada, Hande. – sorriu envergonhada.
- Não fique envergonhada, eu ainda estou com raiva! – a repreendeu.
- Por que está com raiva?
- Devia ser eu. – respondeu. – Depois do sentimento de ciúmes, eu constatei que queria estar no lugar dele.
- Hande, não diga isso. – se levantou do sofá. – Nós não podemos...
- Você disse que me ama. – argumentou Hande.
- Eu te amo! – exclamou. – Mas a sua mãe...
- Podemos lutar contra ela juntas. – sugeriu.
Boskovic se jogou no sofá e encarou o teto.
- Não é tão simples quanto parece. – pontuou.
- Você não sente a minha falta? – perguntou magoada.
Boskovic quase sorriu para o biquinho fofo que a turca estava fazendo, mas lembrou-se de manter a sua pose.
- Eu sinto falta de você como o inferno, Hande. Sinto falta de tudo em você. – disse. – Do seu cheiro, da sua completa falta de disfarçar quando algo não te agrada, de como você sorri facilmente e me faz sorrir também. – completou. – Sinto falta de te observar dormir e sinto ainda mais falta de abraçar você.
- Então por que você não quer ficar comigo? – insistiu.
- Ainda é irreal para mim tudo o que você diz. – pontuou friamente. – Eu não consigo acreditar que alguém como você sinta algo por mim.
- Alguém como eu? – se aproximou mais da garota. – Como assim? Eu estou quase implorando para que fique comigo!
Boskovic sorriu e a olhou docemente.
- Você é como respirar ar fresco em uma manhã de primavera, Hande. – falou. – Olhar para você me causa sensações que eu jamais senti e eu não faço ideia de como nomeá-las, rotulá-las, ou o que seja. – continuou. –  Mas a sua mãe...
- Você consegue se lembrar da história da princesa e da camponesa? – a interrompeu, buscando pela mão dela. – Eu passaria por qualquer coisa para ficar com você, Tica.
- Ficar com você é o que eu mais quero, Handem. – acariciou o rosto dela. – Eu apenas tenho medo.
- Eu sei que sim. – respondeu. – Me desculpe por insistir tanto, quando não...
- Você não está insistindo. – a tranquilizou. – Falando assim, parece que eu também não quero ficar com você.
A turca desviou o olhar. Dessa vez, o momento de ficar em silêncio foi da turca, que ficou apenas encarando a outra garota, com um sorriso de canto.
- Por que está me olhando assim? – perguntou envergonhada.
- Você fica uma gracinha quando está sem jeito...- colocou o cabelo da outra garota atrás da orelha.
- E você não perde a oportunidade de flertar comigo! – ralhou, aceitando o carinho de bom grado.
- Deus, como eu senti falta disso! – brincou, enrolando os cabelos pretos com os dedos. – Você não faz ideia...
- Eu acho que faço. – revirou os olhos, depois encarou os lábios da garota, que estavam muito próximos ao seus. – Me desculpe por não ter dado uma resposta a você naquele momento...
- Eu...- tentou dizer, mas foi interrompida.
- E jamais volte a achar que alguém pode fazer uma escolha entre você e outra pessoa. – continuou. – Você será sempre a única escolha!
A garota mais baixa olhou para a garota em sua frente, com todo o apresso que sentia por ela, e deixou uma lágrima escapar.
- E você me escolheu...- sussurrou a acariciando novamente.
A morena sorriu minimamente para a garota que amava.
- Como eu disse, nunca foi um questionamento para mim. – a acariciou de volta. – Você sempre foi a única escolha.
- Tica? – chamou a atenção da garota. – Eu posso beijar você?
A morena a encarou arqueando uma sobrancelha.
- Não me lembro de ter pedido a sua permissão para beijar você, Hande...- revirou os olhos.
- Eu sei que você não gosta muito de contato fí...- foi interrompida pelos lábios gelados da outra garota, outra vez.
Dessa vez, a turca permitiu que Boskovic adentrasse a língua em sua boca, aproveitando ao máximo o que aquela situação estava lhe causando.
Assim que finalizaram o beijo, Tijana usou os seus braços fortes para lhe dar um abraço de urso e a manter aquecida em seus braços.
- Tica...- sussurrou na curva do pescoço maior, aproveitando para sentir o seu cheiro. – O que acontece agora?
A morena paralisou por breves segundos, tentando raciocinar.
- Eu acho que é o momento em que eu volto para a minha casa...- tentou se soltar, mas a turca a apertou ainda mais. – Hande! – ralhou, tentando se soltar novamente, mas sem sucesso. 
Hande se preparou para dizer algo que faria com que a outra garota esperneasse ainda mais.
- Se você fosse uma igreja, seria uma catedral e tanto...- sussurrou, esperando os ataques que logo vieram.
- Me solta! – esbravejou.
- Veja pelo lado bom. – falou ainda agarrada a morena.
- Você acabou de zombar da minha altura, Baladin e é apenas quatro centímetros mais baixa que eu. Eu não consigo enxergar um lado bom nisso! – bufou, desistindo de lutar.
- Eu seria a sua fiel absoluta...- pontuou.
- Ok, pra mim já deu! – tentou se soltar e dessa vez a ponteira cedeu. – Me ajude apenas a juntar as minhas coisas e prender o meu cabelo...- falou se levantando, mas sendo impedida pelos braços de Hande, que os puxaram para o colo dela, dessa vez. – Hande!
A garota mais baixa segurou a morena pelo pescoço, a fazendo lhe olhar nos olhos.
- Eu gosto quando os seus cabelos estão soltos...- sussurrou, separando a franja dela com uma das mãos.
- Eles nunca ficam soltos...- sussurrou de volta.
- Gosto também dos seus sinais. – passou o dedo nos detalhes que sabia que a morena não gostava em si.
- Ninguém gosta dos meus sinais. – pontuou friamente, lembrando do bullying que sempre sofreu devido a sua característica.
- Não importa o que pensam. – contornou o rosto da outra garota novamente. – É uma das minhas coisas favoritas em você...- beijou o espaço entre o olho e a bochecha da morena.
- Hande...- segurou a mão da outra garota que estava apoiada em seu rosto. – Você é...
A morena foi interrompida por um par de patas, que tentavam escalar suas pernas pelo moletom.
- Você tem um gato? – a olhou em dúvida, e o pegou com uma das mãos, colocando ele ao lado de Hande.
- Morg! – Hande a pegou e sentiu quando a morena se levantou de seu colo, para ficar longe da gata. – Você atrapalhou um bom momento da mamãe...- repreendeu a gatinha, que parecia não dar a mínima para a reclamação e apenas se aconchegou no colo da dona.
- Eu não sabia que você tinha um gato. – pontuou.
- É uma gata, na verdade. – a corrigiu. – e eu quase a matei, porque ela estava dormindo no capô do meu carro, a coitadinha.
- Hande, em Istambul tem um gato por metro quadrado. – pontuou Tijana. – Não é difícil encontrar gatos nos motores.
- Ela veio até mim, num momento em que eu estava me sentindo sozinha. – explicou. – Ela era uma gata de rua e eu a trouxe para casa e agora ela é uma rainha.
Boskovic sorriu para as duas e sentou ao lado de Hande. Ao fazer isso, a gata de pelos escuros pulou em seu colo.
- Não, não, não! – tentou afastá-la. – Volte para onde estava.
- Espere. – pediu Hande. – Eu preciso testar algo.
- O quê? – perguntou sem entender, desistindo de afastar a gata.
- Só mais um momento. – pediu novamente e assistiu Morg se aconchegar no colo da morena e ronronar.
- Hande, o que é isso? – encarou Morg. – Ela está fazendo um barulho estranho...
- Ela está ronronando. – explicou. – Você nunca fez um carinho num gato?
- Não. – rebateu. – Eu acho que isso foi o mais próximo que eu cheguei de um gato. – constatou. – Por que ela está fazendo isso?
- Porque ela gostou de você. – disse. – Você tem sorte. Os gatos são ótimos avaliadores de caráter e você passou no teste.
- Teste? – arqueou uma sobrancelha.
- Se ela não gostasse de você, estaria fora do meu apartamento agora. – sorriu para ela.
- Eu? – perguntou incrédula. - Mas eu cheguei primeiro! – rebateu emburrada.
- E o que é que você quer que eu faça? Jogue a minha filha na rua? – perguntou seriamente.
Boskovic gargalhou.
- Ainda bem que, aparentemente, a sua filha gostou de mim. – debochou, retirando a gata de seu colo e levantando em seguida. – Acho que está na hora de ir...
- Ou você poderia ficar. – sugeriu Hande.
- Não quero incomodar vocês duas. – sorriu para ela.
- Você não vai incomodar ninguém. – falou indo em direção a sua grande janela, com a gata nos braços. – Ainda está chovendo e ficando tarde para sair agora.
- Hande...- semicerrou os olhos, sabendo aonde aquela conversa daria.
- É perigoso sair por ai assim. – justificou.
- Eu não sou de porcelana, sabia? – bufou.
- Sei que não. – rebateu. – Mas não vamos arriscar. 
- Baladin...- retrucou fazendo a turca sorrir, ao ver que ela estava quase cedendo.
- Se você quiser ir, tudo bem. – levantou uma das mãos em sinal de rendimento. – Mas se quiser ficar...
- Existe algum risco da sua mãe te visitar hoje? – perguntou temerosa.
- Não.
- Como sabe disso? – indagou confusa.
- Ela está proibida de vir ao meu apartamento, Tica. – explicou. – A entrada não está liberada.
- E está tudo bem para ela? – perguntou surpresa. – Ela só faz o que quer.
- Ela não é tão difícil assim...- defendeu a mãe. – Pois mais ruim que seja.
- Você diz isso, porque não tem que encarar pais severos! – revirou os olhos. – Os meus pais te veneram, praticamente. Aliás, toda a minha família.
- Faz parte do meu charme! – se gabou, colocando a gatinha adormecida no sofá de canto. – Então, o que me diz?
- Tudo bem...- bufou vencida. – Eu fico.
- Êba! – deu pulinhos no mesmo lugar e correu para perto da garota, a pegando no colo e a jogando na cama, com cuidado, em seguida. -Podemos assistir a um filme, não podemos? – perguntou esperançosa.
- Hande...- tentou persuadi-la a desistir daquele tormento, mas acabou desistindo ao encarar os olhos da turca e o enorme bico que estava começando a se formar. – Tudo bem!
- Ótimo! – lhe deu um beijo estalado na cabeça. – Vou buscar algo para comermos enquanto assistimos. – se levantou rapidamente da cama. – Você prefere algo doce ou salgado? – perguntou assim que chegou a porta.
- Teria sido melhor ir pra casa a pé e debaixo de chuva, do que assistir a isso...- resmungou para si, encarando o teto.
- O que disse? – perguntou, pois não havia ouvido o que a garota tinha dito.
- Eu prefiro salgado, por favor. – revirou os olhos ao encarar a garota sair da sala, saltitando, mas sorrindo timidamente em seguida ao perceber que reclamava, mas gostava exatamente daquilo: de tudo o que Hande  é.


Love Story (Season two)Onde histórias criam vida. Descubra agora