07

431 101 4
                                    

            CAPÍTULO SETE

— Coma seus vegetais ou você não vai comer sobremesa, Lee. Certo? — Wuxian perguntou a Wangji.
— Certo — Wangji confirmou.
Lee olhou para os brócolis cozidos no vapor em seu prato, como se ela pudesse de alguma forma fazê-los desaparecer.
Todos os três estavam sentados em uma cabine no restaurante favorito de Lee, o Martha’s.
Lee estava ao lado dele, enquanto Wangji estava em frente a eles. Wuxian tinha planejado fazer o jantar, mas Wangji sugeriu que eles saíssem. Além disso, ele prometeu a Lee um sorvete, se ela se comportasse.
Qualquer transeunte daria uma olhada neles e poderia confundi-los com uma família. Esse pensamento o fez sorrir, exceto que ele não conseguiu se livrar do que aconteceu antes.
Wangji fixou o olhar na lateral do seu pescoço. Será que ele estava ciente do que estava fazendo? Wuxian podia sentir a cor subindo por suas bochechas. Por instinto, ele tocou o chupão que Wangji lhe deu. Seu coração bateu forte, lembrando aquele momento intenso no chuveiro.
Agora que ele finalmente tinha voltado a si, Wuxian estava certo de que Wangji poderia ter aprofundado a mordida. Wuxian não queria que essa situação aumentasse. Num momento, eles estavam estabelecendo ou reestabelecendo as regras de seu relacionamento na cozinha. No outro, Wangji o sentou no balcão.
Eles fizeram sexo . Duas vezes.
Wuxian pensou que eles haviam entrado no chuveiro para economizar água, para se limpar, mas quando viu Wangji olhando para ele como se fosse algo bom para comer, ele cedeu. Ele praticamente implorou para Wangji colocar seu pau dentro dele novamente.
— Terminei! — Lee declarou. A garota olhou de Wangji para Wuxian com expectativa.
Wuxian voltou sua atenção para ela e deu um tapinha carinhoso na sua cabeça.
— O que você quer para a sobremesa?
— Sorvete! — Lee respondeu imediatamente, sorrindo para ele.
— Duas bolas? — Ele perguntou a Wangji.
— Duas parece bom — disse Wangji.
— Ebaaa!
Wuxian pegou o cardápio e o colocou na frente dela. Lee demorou um pouco para escolher, mas acabou optando por baunilha, biscoitos e creme. Wangji chamou a garçonete. A mulher anotou os pedidos.
— E café. Você quer mais alguma coisa? — ele perguntou a Wuxian.
— Eu estou bem. Lee pode não ser capaz de terminar a sobremesa — ele respondeu.
Wangji riu.
— Quando se trata de sorvete? Continue sonhando.
A garçonete repetiu os pedidos e saiu.
— Cafeína? São quase sete da noite — ressaltou Wuxian.
— Eu tenho um novo trabalho. É de noite. Não se preocupe.
Mian vai cuidar de Lee.
— Tudo bem, então. — Isso significava que eles só poderiam falar sobre o que aconteceu amanhã. Ok. Wuxian poderia fazer isso.
A tensão entre eles só era suportável por causa da presença adorável de Lee.
Depois que Wangji pagou a conta, eles deixaram a lanchonete.
— Diga adeus a Wuxian, Lee — Wangji disse à filha.
Lee franziu o cenho.
— Por quê?
— Já não é o horário de trabalho — disse Wangji.
Lee franziu as sobrancelhas, mordeu o lábio inferior. Ela parecia pronta para fazer uma birra. Wuxian apertou o ombro dela.
— Está bem. Eu posso esperar com ela até Mian chegar. Você pode ir em frente ao seu trabalho — ele disse a Wangji.
— Tem certeza? — Wangji perguntou.
— Absolutamente. Não é nenhum problema.
— Sim — disse Lee.
Ele sorriu, mas seu coração sangrou um pouco. Ele poderia ser mais do que apenas o babá de Lee?
— Está bem então. — Wangji beijou a testa de Lee. — Não cause a Wuxian muitos problemas, querida.
Amanhã falaremos sobre o que aconteceu na cozinha. — Essas últimas palavras foram para Wuxian.
Wuxian assentiu. Ele não estava ansioso por essa conversa em particular. Wangji já havia provado que podia passar facilmente pelas suas defesas internas. Wuxian tinha dificuldade para negá-lo.
Mesmo agora, ele doía para sentir a boca de Wangji, as mãos do alfa em seu corpo e o pênis de Wangji enterrado em sua bunda.
Não pense nisso agora, ele lembrou a si mesmo. Wuxian ainda tinha um trabalho a fazer.
Depois que Wangji saiu, Lee e ele voltaram para o apartamento. Wuxian recebeu uma mensagem de Mian dizendo que  ela poderia chegar em casa tarde do seu turno. Ele mandou uma mensagem de volta para ela, disse-lhe para não se apressar.
Eles estavam prestes a passar pela livraria infantil, mas um livro na vitrine cativou Lee. Ela correu até o vidro e apertou o nariz contra ele. Wuxian se juntou a ela. Uma série de livros infantis feitos por um autor shifter popular despertou seu interesse. As ilustrações pareciam lindas, brilhantes e alegres.
— Quer dar uma olhada lá dentro, garota? — Ele perguntou.
Wuxian não achou que Wangji se importaria. Eles só ficariam por alguns minutos, quinze no máximo, antes de voltar para casa.
Mian não voltaria para casa tão cedo.
— Ok! — Lee deixou escapar.
Eles acabaram passando meia hora na loja. Lee parecia bastante apegada ao primeiro livro de uma série. Ele comprou esse livro para ela. Vendo sua expressão de alegria, Wuxian comprou para ela todos os livros da série.
— Você precisa de uma sacola para isso, senhor? — A garota da caixa registradora perguntou.
Wuxian olhou momentaneamente para Lee. A atenção da filhote de lobo permanecia fixa na capa colorida — uma ilustração de um grande lobo e um filhote menor correndo juntos.
Wuxian voltou sua atenção para o caixa.
— Sim por favor. — A caixa carregou o resto dos livros em uma sacola.
— Bem, você e sua filha tenham uma boa noite. Ela é super fofa, por sinal. Bem-comportada, ao contrário de algumas das crianças que vêm aqui. Os pais hoje em dia não sabem como fazê-los se comportar — a menina murmurou.
Filha. Essa palavra brilhou em sua cabeça repetidamente.
Wuxian podia sentir suas bochechas esquentando. Lee estava muito absorta em seu novo livro para perceber. Ele pegou as compras e a guiou gentilmente em direção à porta.
— Obrigado — Lee disse a ele, pulando com alegria na calçada.
— Se tivesse uma filha, eu imaginei que ela seria como você.
— No momento em que ele disse essas palavras, ele se arrependeu imediatamente. Por mais que Wuxian desejasse, ele nunca seria capaz de ter seus próprios filhos. Ele nem quis corrigir a garota do caixa — ele não teve coragem de fazê-lo. A última coisa que ele precisava era de uma dura verificação da realidade. O lembrete de por que o seu ex o deixou, em primeiro lugar.
Lee era filha de Wangji. Dele e daquele perdedor ômega que se atreveu a abandonar a filha dos dois. Por que alguém faria isso, ainda estava além de Wuxian. As crianças eram um presente, especialmente Lee.
Lee sorriu para ele. Ela colocou o livro debaixo de um braço e pegou a mão dele quando retomaram a caminhada para casa.
Seu coração continuou pesado, mesmo depois que ele a convenceu a tomar um banho.
Wuxian a colocou na cama. Ela olhou para ele de debaixo das cobertas.
— Ler? Wuxian? — Lee perguntou a ele
— Como eu poderia dizer não? — Ele perguntou, sorrindo, apesar do peso ainda alojado em seu coração como chumbo pesado.
Infértil. Essa palavra continuava piscando repetidamente em sua cabeça. Wuxian não podia deixar que seus problemas pessoais o arrastassem para baixo. Ele ainda estava no horário, ainda queria dar a Lee uma boa experiência para dormir.
Ele pegou seu novo livro e leu o título:
— O Lobo Mau e seu Filhote Desaparecido.
Ele virou a página e começou a ler. No meio do caminho, Lee adormeceu. Wuxian largou o livro e puxou as cobertas sobre o corpo trêmulo. Lee sempre gostou de dizer que não precisava de cobertores.
Antes de desligar as luzes, ele acendeu a luz noturna.
— Boa noite, Wuxian. Triste não. Viu? — Wuxian parou na porta para olhar para Lee novamente. Ele imaginou essas palavras?
Os olhos de Lee brilhavam dourados sob a luz. Ele congelou. Eles eram exatamente iguais aos de Wangji, exceto que menores. Ela parecia meio acordada, com sono.
Ele era patético. Até uma criança como Lee notou que ele não estava agindo como ele.
Wuxian era o adulto responsável aqui.
Talvez ela tenha pedido para ele ler uma história para animá-lo.
— É tarde, filhotinha. Vá dormir — ele disse. Wuxian hesitou, depois voltou para ela e a beijou na bochecha.
— Ok. — Lee virou-se de lado, para abraçar seu coelho de pelúcia favorito.
Wuxian saiu do quarto e fechou a porta. Ele ficou lá por alguns segundos, de costas para ela.
Então inspirou e expirou. Ele deu um tapa nas bochechas. Lee teve que consolá-lo. Isso foi gentil da parte dela. Wuxian tinha que parar de sentir pena de si mesmo.
Seguir adiante.
Seu telefone vibrou no bolso. Uma ligação de Mian.
— Mian, está tudo bem? — Ele perguntou, preocupado. — Não recebi uma atualização sua desde sua última mensagem.
— Estou bem. Muito ocupada no restaurante, hoje à noite.
Estou indo para aí agora, mas é difícil pegar um maldito táxi.
— Por que você não volta para casa? — Mian parecia exausta.
Wuxian continuou antes que ela pudesse protestar. — Tudo bem, eu vou ficar aqui.  Você se sentirá muito melhor.
Uma pausa do outro lado.
— Eu posso aceitar essa oferta. Estou bem, mas chegarei às quatro da manhã.
— Ok.
Mian encerrou a ligação.
Depois de atualizar Wangji sobre a situação, Wuxian pegou um cobertor sobressalente do banheiro e decidiu se aconchegar na sala de estar. Dessa forma, ele ouviria se alguém entrasse no apartamento. Wangji respondeu sua mensagem imediatamente.
Wangji: Obrigado, devo uma a você. Talvez eu possa levá-lo para jantar?
Wuxian se viu sorrindo. Ele sabia que não era prudente testar os limites entre eles, mas um simples jantar não faria mal a ninguém, certo?
Exceto que ele sabia que seria diferente. Ele sempre foi muito emocional quando se tratava de relacionamentos. Se machucava com facilidade, mas todas as partes dele gritavam para dizer “sim”. Então ele mandou uma mensagem de volta para Wangji: Wuxian: Ok. Apenas um jantar.
Wangji respondeu com o emoticon de um lobo sorridente.
Wuxian guardou o telefone. Ele devia ter cochilado. Sentindo algo pequeno e quente aconchegando-se perto dele no meio da noite, ele abriu os olhos, surpreso ao ver um pequeno filhote de lobo em seu colo. Ele acariciou o pelo de Lee e depois voltou para a terra dos sonhos.

    {.....}

Estritamente Profissional Onde histórias criam vida. Descubra agora