No dia seguinte ao encontro na cafeteria, meu turno seria novamente o noturno, o que me deu tempo para atender ao convite urgente de Rafael. Ele insistira para que fôssemos juntos à casa de Michaela. Desde a festa na casa de Mathias e as histórias que circularam sobre a boate, Michaela estava visivelmente irritada comigo. Eu não sabia exatamente o porquê e, pior, não tinha a mínima ideia de como me defender.
Assim que entrei no carro, antes mesmo de fechar a porta e me acomodar no banco do carona, Rafael foi direto ao ponto, como se estivesse lendo meus pensamentos.
— O que tá rolando entre você e a Marina? — A pergunta veio rápida, cortante, e me atingiu antes que eu tivesse tempo de pensar numa resposta convincente.
Eu estaria mentindo se dissesse que não havia nada acontecendo. Havia, sim, algo entre mim e Marina. Algo indefinido, que flutuava entre o desejo e a confusão. Mas eu não conseguia explicar, nem para mim mesma.
— Ah... A gente tá conversando... — tentei parecer casual, embora soubesse que aquilo soaria fraco.
Rafael, com as sobrancelhas arqueadas, não se deu por satisfeito.
— De qual forma? — ele perguntou, mantendo os olhos atentos à estrada, mas claramente esperando mais da minha resposta.
Eu suspirei, me ajeitando no banco. Era uma daquelas perguntas que, mesmo com todo o esforço, não tinha uma resposta simples.
— Como duas pessoas conversam... — disse, sabendo que não seria o suficiente.
Ele soltou uma risada curta, irônica.
— Você tá gostando dela? Porque claramente ela tá gostando de você. — Rafael olhou de relance para mim, seus olhos questionadores, quase desafiadores.
Eu travei por um segundo, encarando a janela e observando as árvores passando rápido, como se o movimento lá fora pudesse me dar alguma resposta. Eu não sabia. Marina mexia comigo de um jeito que eu ainda não conseguia entender. Talvez fosse cedo demais para saber o que realmente sentia, mas era impossível negar que algo estava se formando.
— Eu não sei... — confessei, mais para mim mesma do que para ele. — É muito cedo pra saber...
Rafael deu um leve aceno com a cabeça, mantendo o silêncio por um instante, mas seu tom ficou mais sério.
— Entendo... Mas é melhor você pensar nisso até chegarmos à casa da Micha. Ela vai querer saber. Você sabendo ou não.
A tensão no ar aumentou. Michaela não era do tipo que deixava as coisas passarem em branco, e eu sabia que, no fundo, ela sentia que algo estava diferente. Me perdi em pensamentos, imaginando como seria o confronto, enquanto o carro seguia seu caminho pela cidade.
Rafael claramente estava tentando me dar tempo para pensar. O sol ainda estava firme no céu, iluminando o caminho com sua luz clara, e a cidade já estava começando a despertar. Eram poucos carros nas ruas, o que fazia parecer que ele estava dirigindo ainda mais devagar do que o necessário, esticando o percurso de propósito.
— Como você se sente quando está com ela? — Ele perguntou, sem rodeios, enquanto girava o volante com calma para fazer a próxima curva. — E não venha com essa de que é cedo demais pra saber.
Suspirei, sabendo que ele não ia desistir até conseguir uma resposta que o satisfizesse.
— Eu me sinto... diferente. — Admiti, olhando pela janela, observando os prédios e as poucas pessoas apressadas nas calçadas.
— Diferente bom ou diferente ruim? — Ele insistiu, o tom ainda leve, mas eu sabia que ele estava atento.
Soltei uma risadinha nervosa, sem conseguir decidir.
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As Mil Maneiras De Negar Um Beijo
RomanceAngeline é uma garota reservada, acostumada a se proteger por trás de seu silêncio e seus próprios mistérios. Mas então surge Marina, uma jovem intensa, cheia de opiniões e com uma vontade incansável de conquistar o que parece fora de seu alcance. A...