14.

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Não demorou muitos dias para que eu notasse a ausência da ruiva. Desta vez, antes de me desesperar, como fizera na primeira vez que ela sumiu, decidi que iria perguntar aos amigos dela onde ela estava. Talvez fosse um mal-entendido, ou ela precisava de um tempo, mas algo me dizia que havia mais do que eu poderia prever.

Toquei a campainha do Mathias, que abriu a porta com um olhar de surpresa ao me ver parada ali.

— Oi... — minha voz saiu meio incerta — Marina está?

Vi a expressão dele se transformar, a surpresa deu lugar à tristeza. Isso me fez sentir um aperto no peito antes mesmo de ouvir sua resposta.

— Você não sabe? — perguntou ele, com uma sombra de preocupação nos olhos.

— Não sei o quê? — arqueei a sobrancelha, tentando me preparar para o que viria.

— Marina viajou, sem previsão de volta. — suas palavras me atingiram como um soco no estômago.

Eu disse para ela beijar outra pessoa, para ter certeza dos sentimentos. Não para ir embora sem dizer nada, sem deixar qualquer vestígio.

O silêncio dela, agora, gritava mais alto do que tudo o que eu temia.

Provavelmente, minha expressão denunciava o nó que se formava na garganta, porque logo Mathias me convidou a entrar, tentando me acalmar com um tom gentil.

— Vou pedir pra fazerem um chá de camomila. — ele disse, como se o chá fosse capaz de acalmar o caos que se instaurava dentro de mim.

Eu entrei, mas a sensação de vazio parecia seguir cada passo.

A porta se abriu com um rangido suave, e a garota de cabelos castanhos entrou sem bater ou tocar a campainha. Parecia que o movimento era algo natural, como se aquela casa fosse uma extensão dela mesma. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Mathias reapareceu na sala, visivelmente aliviado por não estar mais sozinho.

— Angeline, eu chamei a Triz. — ele disse, coçando a nuca, claramente desconfortável. — Eu sou péssimo em lidar com essas coisas de sentimentos. Sempre acabo falando o que não devia.

— Tudo bem... — minha voz saiu baixa, quase num sussurro.

Eu não sabia bem o que esperar, mas talvez, só talvez, Triz pudesse me ajudar a entender o que estava acontecendo.

Ela entrou na conversa com a naturalidade de quem já sabia o que precisava ser dito, os olhos castanhos cheios de uma compreensão que, naquele momento, me fez sentir uma pontada de alívio.

— Ela não te contou, né? — a garota perguntou diretamente, sua voz suave mas carregada de algo mais profundo. Um aperto silencioso.

Eu neguei com a cabeça, sem encontrar palavras. Então, sem aviso, Triz se aproximou e me abraçou. Um abraço acolhedor, daqueles que dizem mais do que qualquer frase conseguiria.

— Ela disse que precisava se afastar um pouco... — Triz começou, soltando o abraço e me encarando com uma mistura de compaixão e seriedade. — Falou algo sobre se encontrar, se reconhecer... Como se estivesse se reaprendendo.

Eu fiquei em silêncio por um instante, deixando suas palavras ecoarem dentro de mim. Se reaprender... Marina sempre foi tão segura, tão determinada. Mas agora eu entendia que talvez, ela estivesse perdida de uma maneira que nem eu havia percebido.

— Entendo... — foi o máximo que consegui dizer, ainda processando tudo.

Os amigos de Marina, Mathias e Triz, estavam ali comigo. De uma forma silenciosa, foram o pilar que não me deixou desabar completamente. Me ofereceram apoio mesmo sem saber o que dizer ou como consertar a bagunça que Marina e eu havíamos criado. Eles estavam ali, e isso, de alguma forma, bastava naquele momento.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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As Mil Maneiras De Negar Um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora