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Acabou que Michaela não quis continuar a conversa com Rafael por perto. Ele já sabia da história e não tinha interesse em ouvir as mesmas palavras repetidas vezes e tudo de novo. Além disso, Michaela e Mathias tinham uma amizade mais longa, e eu era a recém-chegada nessa dinâmica. A relação entre eles parecia antiga e sólida, enquanto eu ainda estava me adaptando a ser parte desse pequeno círculo.

Dois dias após o dia de Micha se dissipar, ela e eu tirávamos um tempo para conversar. Era nesses momentos, geralmente em uma cafeteria discreta ou andando pela praça, que ela me contava o que sabia sobre Marina, e a cada conversa, a imagem dela se tornava mais nítida, e, ao mesmo tempo, mais complicada.

Numa dessas tardes, depois de um silêncio confortável, fui direto ao ponto.

— Então, o que você quer conversar sobre Marina? — perguntei, tentando disfarçar a curiosidade crescente.

Michaela me olhou com um brilho de quem sabia mais do que deixava transparecer.

— A verdadeira questão aqui é: o que você quer saber sobre Marina? — ela respondeu, como se estivesse me desafiando a escolher bem minhas perguntas.

Eu levantei uma sobrancelha, intrigada.

— Você sabe tanto assim sobre ela ao ponto de eu poder escolher o que quero saber?

Ela deu um pequeno sorriso de lado, mexendo nos óculos como se ponderasse o que revelar.

— Sei algumas coisas... — ela fez uma pausa, deixando o suspense no ar — Mas não garanto que você vai gostar de tudo o que vai ouvir.

— Pois eu quero saber tudo o que você sabe. — Minha resposta saiu mais determinada do que eu esperava.

Michaela sorriu abertamente dessa vez, como se estivesse esperando exatamente isso.

— Garota esperta! — Ela exclamou, se ajeitando na cadeira como quem se prepara para contar um segredo valioso. — Vamos começar falando da família dela...

O clima mudou sutilmente. Enquanto minha amiga se acomodava, um calafrio percorreu minha espinha. Eu queria entender mais daquela garota que, apesar das minhas tentativas de manter distância, insistia em me pedir um beijo e, aos poucos, sem que eu admitisse, estava roubando meu coração.

— Marina vem de uma família bastante influente, cheia de expectativas e de um status que moldou muito da sua personalidade. — Michaela levantou o dedo indicador, como se estivesse me passando uma lição importante. — Esse é o primeiro ponto sobre ela.

Eu já esperava algo assim, era impossível não notar. Marina tinha uma aura de quem sabia o que queria e de quem já estava acostumada a conseguir. Eu, por outro lado, me sentia deslocada nesse novo mundo ao qual fui apresentada. Às vezes, parecia que eu tinha um crachá invisível que dizia "pobre de estimação", e isso era a mais pura verdade.

— Ela foi forçada a assumir muitas responsabilidades desde cedo. — Michaela continuou, seu tom mais sério agora. — Isso a fez criar uma espécie de 'casca'... uma proteção para não se deixar afetar pelas expectativas enormes que sempre estiveram sobre ela.

As palavras de Micha começaram a fazer mais sentido conforme eu as digeria. Já me foi dito que Marina raramente demonstrava interesse em alguém, e o fato de ela estar correndo atrás de mim... bem, isso me deixava confusa.

— Isso explicaria por que ela quase nunca mostra interesse romântico em ninguém. — Michaela ajustou os óculos e deu de ombros. — Ela sempre esteve focada em manter o controle da própria vida. E o controle é algo muito importante para alguém como Marina.

Eu mordi o lábio, pensando no que ela disse. Controladora... talvez fosse isso que me intrigava tanto em Marina. Ela parecia estar sempre um passo à frente, sempre sabendo o que dizer e como agir. Mas... será que havia algo mais por trás daquela fachada?

As Mil Maneiras De Negar Um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora