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Marina sumiu.

Sumiu sem deixar rastros. Não responde minhas mensagens, os presentes fofos pararam de aparecer misteriosamente na minha bolsa, e a sensação calorosa de sua presença evaporou, como se ela fosse apenas uma miragem que eu criei na minha cabeça.

Procurei por ela em todos os lugares que normalmente a encontrava. Na cafeteria onde ela sempre pedia um cappuccino com espuma extra? Nada. No parque onde costumávamos caminhar ao pôr do sol? Vazio. Ela só podia ter sido sequestrada. Essa era a única explicação lógica, claro.

E se alguém a tivesse levado? Um sequestrador misterioso que resolveu tirá-la de mim porque sabia o quanto ela me afetava? Um gênio do crime, talvez. Fiquei imaginando os cenários mais absurdos, e cada um deles me parecia incrivelmente plausível à medida que os dias passavam sem notícias.

Até que, uma semana depois de seu sumiço repentino, fui procurar Micha, que, além de ter o dobro da energia que qualquer ser humano deveria ter, sempre tinha respostas.

— Ela sumiu? — Micha perguntou, com as sobrancelhas arqueadas enquanto devorava uma fatia enorme de pizza como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— É! — eu estava visivelmente assustada, tentando disfarçar o nervosismo, mas a verdade é que por dentro, minha ansiedade estava no nível máximo. — Ela desapareceu sem avisar, sem deixar pistas. Não responde minhas mensagens há uma semana. Isso nunca aconteceu. Os bilhetes, as flores, tudo parou.

— Já procurou ela na boate? Ou foi até a casa dela? Já foi na casa dos amigos dela? — ela perguntou, com uma calma quase irritante, como se estivesse falando sobre uma receita de bolo que deu errado.

Eu pisquei.

Por que eu não pensei nessas coisas?

Um momento de pânico paralisante percorreu meu corpo, e percebi como eu havia sido estúpida por não tentar essas opções mais óbvias.

— Você estava preocupada demais pensando que ela havia sido sequestrada. — Micha respondeu como se pudesse ler meus pensamentos, esticando o braço para pegar outra fatia de pizza. O que faz sentido, de certa forma. Afinal, sequestradores são uma possibilidade, não é?

Eu cruzei os braços, mordendo o lábio, sentindo uma pontada de vergonha. Faz sentido... admiti em pensamento, olhando para o chão. Mas e se ela realmente...

— Ah, relaxa! — Micha interrompeu meus pensamentos, jogando uma azeitona na minha direção. — Aposto que ela só está fazendo algum tipo de 'drama romântico desaparecendo', sabe? Tipo em novela mexicana.

Ela sorriu com satisfação, achando graça da própria teoria.

— Drama romântico? — franzi a testa, começando a me questionar se o sequestro não era mais plausível que o argumento da novela.

— Sim! Exatamente! Mas adivinha só? — se inclinou para frente, com os olhos brilhando de animação. — Vamos à boate hoje!

— Mih... hoje é terça-feira. — Eu a olhei, incrédula. Quem vai à boate numa terça? A não ser que fossem vampiros ou pessoas que não têm trabalho, claro.

— E daí? — deu de ombros, como se o conceito de dias da semana fosse uma invenção inútil da sociedade. — A vida não para só porque é terça!

— E daí que eu trabalho, Michaela. — Cruzei os braços, tentando soar racional, mesmo sabendo que, se tratando dela, a racionalidade era a última coisa que passava por sua mente.

— Não trabalha mais! — Ela bateu a mão na mesa como se estivesse proclamando uma grande revelação. — Você está doente. Tão doente que nem vai conseguir levantar da cama amanhã. Eu até consigo ver o seu atestado mental se formando... 'Síndrome da Paixão Perdida'.

As Mil Maneiras De Negar Um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora