13.

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Tive bastante tempo para pensar em meus sentimentos.

A verdade é que o medo e o desejo se misturam em mim de uma maneira confusa.

Sinto-me tão incerta quanto uma previsão do tempo, e, ao mesmo tempo, tão previsível quanto o vento que nunca deixa de soprar.

Agora, sentada em mais um dos nossos piqueniques, observando Marina se deliciar com morangos, senti que aquele era o momento. A tranquilidade do ambiente, o som suave das folhas ao vento... Tudo conspirava para que eu falasse o que há tanto tempo estava preso em minha mente.

Respirei fundo e, com o coração acelerado, rompi o silêncio.

— Você já se sentiu em meio a uma tempestade... mas ao invés de ter medo dela, o que te assusta de verdade é o sol aparecer depois? — perguntei, minha voz baixa, tentando esconder o turbilhão de emoções.

Ela parou de mastigar, seus olhos fixos nos meus, refletindo uma mistura de curiosidade e cautela. Depois de uma breve pausa, ela respondeu de um jeito que não esperava.

— Às vezes, é a tempestade que traz a mudança. — ela desviou o olhar, focando em um ponto distante, como se estivesse perdida em seus próprios pensamentos, e ignorou minha pergunta de certa forma.

Minha mente girava, esperando algo mais direto, algo que me fizesse entender o que se passava dentro dela. Mas Marina, como sempre, permanecia uma incógnita.

— E você... quer essa mudança? — indaguei, tentando sondar além das palavras dela.

Ela sorriu, um daqueles sorrisos sutis que sempre me confundiam, e pegou mais um morango.

— Talvez o sol depois da tempestade seja mais assustador porque nos mostra as coisas com mais clareza — respondeu, com um tom que misturava leveza e profundidade. — E quem sabe, quando tudo se acalma... a gente se vê de uma maneira que nunca esperava.

Eu senti um frio na barriga, como se ela estivesse falando diretamente sobre nós, sem de fato dizer as palavras.

Usar analogias não estava me ajudando em nada. Eu me sentia cada vez mais enrolada nas próprias palavras, como se estivesse tecendo uma teia da qual não conseguia sair. Decidi que precisava ser mais direta.

— A real é que eu tenho medo... Medo de me machucar e de machucar você também.

Marina parou de brincar com o morango que segurava e me encarou, seus olhos buscando algo nos meus, talvez a verdade que eu mal conseguia colocar em palavras.

— Às vezes, o risco é o que torna a jornada valiosa. É o que faz a história ser interessante, não acha? — respondeu, com aquela calma irritantemente reconfortante.

Balancei a cabeça, frustrada.

— Não, Mar. Você não está me entendendo. — Respirei fundo e tentei outra abordagem, algo que não pudesse ser desfeito tão facilmente por um dos seus argumentos filosóficos. — É como se você estivesse patinando em gelo fino... e eu sou esse gelo, prestes a se quebrar. Ou... é como se você estivesse navegando e eu fosse o mar desconhecido, cheio de perigos que você nem pode imaginar.

Ela sorriu, e por um segundo achei que ela fosse zombar do que eu disse, mas sua resposta foi simples:

— Eu gosto de uma boa aventura.

Isso me fez perder o fôlego por um instante. Como ela conseguia transformar qualquer insegurança minha em algo positivo? Eu queria gritar, queria fazê-la entender que o problema não era só o risco em si, mas a imprevisibilidade de tudo. Mas ela sempre encontrava uma maneira de romantizar, de ver beleza onde eu só via incerteza.

As Mil Maneiras De Negar Um BeijoOnde histórias criam vida. Descubra agora