A exceção (Wenclair)

Capítulo 9

- como você tem passado? - a psicóloga questionou analisando enid que batucava os dedos na poltrona - já faz algumas semanas desde a nossa última consulta.

- bem. - a garota deu de ombros.

- e seus pesadelos.. dimimuiram? aumentaram? - a psicóloga questionou sondando.

- eles diminuiram. - enid comunicou abrindo um sorrisinho - eu passei alguns dias na casa da minha.. melhor amiga e a família dela é muito diferente da minha, eles são amorosos do jeito deles e isso mexeu comigo.

- mexeu de uma forma boa? - questionou anotando aquela informação.

- quero ser como eles quando eu formar minha própria família. - enid confessou e a psicóloga arqueou uma sobrancelha para isso.

- é uma boa decisão, sua família tentou entrar em contato? - a médica viu quando enid fechou a mão.

- eles me deserdaram.. acho difícil quererem ter algum contato comigo mas estou melhor assim, eles me traumatizaram para sempre e não sei se um dia vou me recuperar.. é normal pensar assim? - ela franziu o lábio em duvida - que estou aliviada com a distância que eles colocaram entre nós, distância essa que nunca vai ser quebrada.

- seus irmãos e você estudam na mesma escola, não é? - ela questionou vendo a loira assentir - e existem fins de semana que eles irão visita-los, como você vai se sentir com isso?

- vou ignora-los. - enid murmurou e suspirou parecendo pensar melhor - os addams e a diretora também vão me proteger deles.

- e se eles tentarem cruzar alguma linha? - a psicóloga questionou vendo a garota parecer pensar seriamente.

- eles não vão. - ela respondeu com toda certeza - porque eu não vou deixar.

- isso é bom, pais narcisistas precisam saber onde estão e os seus escolheram sair. - ela anotou algumas coisas e deixou enid iniciar o próximo assunto.

- eles me deserdaram. - a loirinha disse de repente e a psicóloga assentiu.

- como você se sente diante essa realidade? - ela olhou atentamente pra garota que parecia estar prestes a chorar.

- triste muito triste mas também aliviada.. - ela tocou no peito como se estivesse procurando por ar - estou finalmente livre deles.

- você está mas também é de menor. - a psicóloga começou devagar - conversei com sua diretora e ela concordou em manter você na escola se quiser mas também existem outras possibilidades.

- como assim? - enid franziu as sobrancelhas tentando entender.

- conselho tutelar. - a psicóloga comunicou vendo todas as expressões faciais aparecerem no rosto da adolescente.

- não, não mesmo. eu não vou pra um.. orfanato? - ela questionou confusa.

- como a sua diretora afirmou que você pode ficar na escola, seria um caso isolado mas infelizmente você tem que ir pro sistema.. tudo bem como isso? você teria uma nova família. - ela apresentou a ideia.

- não mesmo, não quando existem chances deles serem iguais aos meus pais. - ela negou levantando abruptamente.

- pense sobre isso e conversaremos mais sobre na nossa proxima consulta. okay? - ela questionou mas não recebeu uma resposta porque enid saiu e bateu a porta com força.

**

wednesday se assustou levemente quando enid bateu a porta do quarto delas com tudo.

- olá pra você também. - a morena resmungou apagando o verso que ela errou na máquina - como foi?

- ela é completamente maluca. - a lobo resmungou retirando o casaco e indo para o banheiro, batendo a porta com força novamente. wednesday suspirou fundo desistindo de escrever e foi sentar na cama. meia hora, ela contou. foi o tempo que enid passou no banheiro e saiu de la parecendo que estava em uma sauna de tanta fumaça que saiu com ela.

- não sabia que estava tentando arrancar sua pele ou algo assim. - wednesday murmurou percebendo o quão vermelho o rosto de enid estava - o que aconteceu?

- você sabia que quando seus pais te expulsam da família e você é de menor, você entra para o sistema de adoção? - ela questionou completamente frustrada andando de um lado para o outro.

- é bem previsível. - wednesday respondeu sem pensar fazendo a loira a olhar mortalmente - o que você achava que acontecia? você não pode se manter sozinha, é completamente normal.

- não quando essas pessoas que podem me adotar são piores que meus pais biológicos. - ela praticamente gritou e wednesday se aproximou segurando o rosto dela com delicadeza.

- o sistema de adoção é muito transparente, eles verificam cada detalhe da vida daquelas pessoas, eles nunca deixariam pessoas como seus pais passarem. você tem que confiar em mim quando digo que você estará segura, você confia em mim? - ela questionou olhando dentro daqueles lindos olhos tempestuosos.

- eu confio em você mas não sei se posso mais fazer isso. - enid confessou encostando a testa no ombro da vidente e suspirou seu cheiro, sentindo seu coração acalmar as batidas - passei a vida toda sofrendo por causa de adultos que não sabiam como cuidar de uma pessoa porque não se amam, não posso fazer mais isso.

- querida, não é bem assim que funciona. - wednesday sorriu levemente e levantou o rosto dela mais uma vez, acariciando suas bochechas - você é cheia de amor, na verdade.. você transborda isso. é assustador a primeira vista mas depois, é reconfortante. quando novas pessoas vierem querer dar amor a você, sinto que o amor de vocês vai colidir e crescer como deve ser. eu tenho certeza que se você abrir as portas para essas novas pessoas, eles não vão te decepcionar.

- como você sabe disso? - ela questionou derretendo ao toque da morena.

- porque é o que você merece e eu tenho certeza que a vida vai começar a ser boa pra você.. apenas pense sobre isso, tudo bem? - wednesday questionou sorrindo levemente pra loira que suspirou profundamente antes de assentir.