3° Capítulo - Ultraviolence

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♬Look
If you had one shot or one opportunity
To seize everything you ever wanted in one moment
Would you capture it
Or just let it slip? Yo

Amélia Blackwood

1 Semana depois...

- VOCÊ ODEIA ESSA FAMÍLIA, SEU PIRRALHO! VOCÊ NÃO DÁ DURO POR NADA! QUEM DISSE QUE VOCÊ SABE CUIDAR DE NEGÓCIOS?! VOCÊ NEM APARECEU NA IGREJA NO FINAL DE SEMANA, NEM FOI AGRADECER À POPULAÇÃO POR CONFIAR NO SEU PAI MAIS UMA VEZ! - A voz de Alexander ecoa na minha cabeça, uma lembrança que lateja, me mantendo presa naquele inferno.

Acordo atordoada, minha cabeça gira como se fosse explodir. Preciso de algum remédio, qualquer coisa que alivie a dor latejante que essa família está me causando. Para piorar, quando abro os olhos, percebo que esqueci de fechar as janelas e as cortinas. O vento gelado da noite e a luz insuportável da manhã entram sem permissão, me sufocando ainda mais.

Essa família está me enlouquecendo.

Meu irmão desafiando nosso pai a cada maldito dia, minha mãe à beira de um colapso mental. E eu me arrasto pela casa como se ainda fosse uma adolescente estúpida, presa entre as paredes do meu quarto, tentando sobreviver ao caos.

Os livros são minha única fuga, infinitamente mais interessantes que ouvir meu pai tentando tomar o controle da minha vida. Especialmente depois do final de semana passado, quando ele me chamou de "vadia" e me acusou de ser a vergonha da família.

Dante, o melhor amigo do Lucas, estava lá. Mas ele não fez nada. Nem uma palavra, nem um movimento. Ele parecia um fantasma na sala, parado, observando toda aquela confusão sem se envolver.

- Que ódio, não dá para ter um terço de paz nessa merda! - Resmungo, enterrando a cara no travesseiro de coração jogado na cama, tentando sufocar a frustração.

E, por falar em Dante Salvatore, a mudança nele é inegável. Não tenho ideia de como é a vida dele agora, mas posso ver que ele mudou. O físico, o estilo... tudo parece diferente. O cabelo, agora curto e bem aparado, não é mais aquele cabelo jogado para trás que eu costumava ver. Um piercing de argola adorna a aba do seu nariz, e o rosto, antes mais cheio, está mais fino. Seu olhar, antes desinteressado, agora é intensamente marcante.

Desde aquele dia, a voz dele ecoa na minha cabeça: "Olá, Amélia. Você realmente cresceu." É, eu cresci. E, pelo que percebi, ele estava verdadeiramente impressionado. Foi a primeira vez que ele me observou completamente, como se estivesse realmente admirando cada detalhe. Mesmo que depois ele tenha se concentrado no chão, a expressão dele me disse que gostou do que viu.

Puxo meu corpo para cima, tentando convencer minha cabeça a sair do estado de torpor. Voltar para a Pensilvânia deveria ser um descanso, um retorno às minhas raízes e aos meus entes queridos. Mas cada minuto aqui só me faz querer mais voltar para Nova York, onde, pelo menos, a rotina e a distância do caos familiar me davam um propósito. Agora, aqui, me sinto presa em um buraco, consumida pelo arrependimento de ter voltado.

- Quer saber? Vou sair daqui antes que eu mate alguém. Hoje estou sem saco para essa merda toda - levanto de um pulo, mas minha pressão despenca, e eu quase vou pro chão. Seguro firme na cômoda, respirando fundo, encarando meu reflexo no espelho por tempo demais até a tontura passar.

O tapete felpudo ainda é o mesmo, vermelho como sangue recém-derramado. E os lençóis, brancos e imaculados, como as virgens que a história de 1800 romantiza. Só que eu sou uma virgem do século 21, e a real é que, diferente do que Madonna pregou, ninguém aqui vem pra me tocar.

𝙷𝚘𝚖𝚎𝚖 𝚍𝚎 𝙲𝚎𝚛𝚊Onde histórias criam vida. Descubra agora