♫All this time you left me wanting more
Had me swallowing all of my pride
Wonder where this part of you came from
It was hidden in the shallow of your eyes♫Dante Salvatore
Cheguei na cafeteria assim que as portas se abriram, como quem segue um ritual doentio. Pedi um café expresso, mais por hábito do que necessidade - o cansaço do trabalho que me manteve acordado a noite toda era insignificante comparado ao que me consumia de verdade. Pedi também um croissant de chocolate, mas não tinha apetite. O que eu realmente queria não estava no cardápio. Meia hora depois, Amélia entrou.
Ela parecia flutuar pelo ambiente, tão leve, tão... minha. Não precisou de maquiagem para ser o centro da minha atenção. Seu rosto carregava uma beleza suave, envelhecida de forma quase cruel, como uma flor que resiste ao tempo. As roupas simples que usava só destacavam essa beleza com uma inocência que beirava o insuportável. Ela se sentou no início da cafeteria, distante de mim, mas nunca fora do meu alcance.
Eu a observava do fundo, mergulhado nas sombras, os olhos fixos nela como se cada movimento fosse gravado em minha pele. Cada virar de página, cada gesto pequeno, cada franzir de sobrancelhas ao ler me deixava mais inquieto. Era como se o mundo inteiro existisse apenas para moldar aqueles momentos que pertenciam a mim, e a mim somente. Quando ela levou o donut à boca, pude quase sentir o doce se desfazendo em minha língua. Meu desejo era palpável, queimava sob a pele, enquanto o capuccino dela esfriava lentamente, como uma provocação silenciosa.
Então, ela pegou o telefone. A princípio, sua voz era baixa, indiferente ao ambiente ao redor. Mas logo sua expressão mudou. O ar ao redor dela ficou mais denso. As palavras tornaram-se ásperas, violentas, até que ela começou a gritar, a raiva explodindo de seu corpo de uma maneira tão visceral que me prendeu ali. Fiquei paralisado, como se aquele espetáculo fosse feito para mim. A fúria que tomava conta dela só aumentava o desejo que eu sentia.
O corpo dela tremia, cada movimento era carregado de uma energia crua, quase animal. E eu sentia essa raiva, essa intensidade, como algo que deveria ser meu. Meu sangue fervia com a necessidade de possuir essa parte dela também, a parte que ninguém mais parecia notar. Havia uma beleza naquele terremoto interno, e eu queria me afogar nele.
Vejo quando ela sai às pressas, como se estivesse fugindo de algo maior, uma perseguição invisível que só ela sente. Franzo o cenho, tentando entender o que a atormenta, mas meus pensamentos são interrompidos pelo toque estridente do meu telefone. Ainda bem que ele só toca depois que ela vai embora, ou ela teria percebido o quanto estou fixado nela, cada centímetro do meu ser absorvendo seus movimentos.
Na tela, o nome de Lucas pisca desesperado, implorando para ser atendido.
- Fala, mano - atendo, sem muita paciência. - O que foi?
- Dante, me tira daqui! Por favor, me tira daqui! - A voz dele soa carregada de desespero, como se tivesse sido sufocada por tempo demais e, agora, ele não aguentasse mais.
- Onde você está? - Pergunto, já pegando a chave do carro de aluguel.
Minha moto quebrou uns dois dias atrás, e como não encontrei nenhum lugar que alugasse motos, me contentei com um Opala de 1986. Perfeito, impecável, e me serviria bem pelos próximos dias. Não dá pra ir trabalhar a pé à noite - seria cansativo demais, e o carro, por mais velho que seja, é meu escape temporário.
- Onde você acha que estou a essa hora?! - Ele quase rosna, a voz cheia de raiva e frustração. - Eu estou em casa!
Respiro fundo, tentando manter a calma.
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𝙷𝚘𝚖𝚎𝚖 𝚍𝚎 𝙲𝚎𝚛𝚊
RomansApós a morte de seu irmão, Amélia encontra um inesperado consolo em Dante, o reservado melhor amigo de Lucas. À medida que sua conexão cresce, segredos e intenções ocultas emergem, deixando Amélia a questionar se Dante é um aliado ou uma ameaça em s...