II - Pietro Monteiro

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2 de Agosto de 2015

Sombras

A meia-noite o internato se envolve em um silêncio, mas na sala secreta da biblioteca, me reuni com os meus amigos, formando "Os Sombras da Noite" nome dado por Agatha.

À luz fraca e os rostos tensos reflete a preocupação com o desaparecimento dela.

— Tenho um plano. — Retiro com cuidado uma planta rascunhada do internato da pasta.

Desdobrando-a, revela uma folha imensa que mapeia cada canto desse lugar. Marcas detalhadas de traços que contam histórias dos acontecimentos anteriores desse inferno.

— Esse showzinho da diretora é só uma fachada, e todos nós sabemos disso — encaro  cada um. — Temos que achar Agatha — de um tom sério passo para um de tristeza e culpa — ...devemos isso a ela.

— Foi minha culpa. Fiquei parada, só olhando e não fiz nada.

Com os cabelos volumosos e escuros, ergo delicadamente o rosto marcado pelo choro. Seus olhos, antes ocultos pela tristeza, agora se encontram descobertos, revelando a vulnerabilidade que repousa por trás dos fios de cabelo.

— Não se culpe, Felicity. Ela fez aquilo por nós.

— Se não fosse por ela, alguns de nós não estaria aqui — Elena se agacha, deslizando suavemente as mãos entre as orelhas e seu cabelo, movimentando cada fio curto dele. — Foi escolha dela ficar para trás, foi escolha dela nos salvar, e agora é a nossa vez de retribuir.

Elena emana uma doçura que envolve como um abraço acolhedor. Os olhos expressam compaixão que acalma qualquer tempestade. Por outro lado, temos a Darcy, que apoiada no ombro de Felicity, assume uma pose durona. Quanto ao seu cabelo ruivo, é como uma chama vibrante e rebelde, uma expressão direta da sua personalidade.

— Não querendo ser a emotiva, mas admiro o que ela fez.

A cena se desenha poeticamente enquanto minha irmã desfaz os braços. Ao apoiá-los na mesa e fixar seus olhos, o abajur, como um pintor de contrastes, realça a pele negra dela, capturando nuances de força e resignação. Nesse instante, ela se torna uma obra de arte viva, onde a raiva e tristeza dançam juntas, mas sua determinação tenta conduzir a sinfonia para um desfecho mais sereno.

— Só nos diga o que devemos fazer.

— O plano vai precisar de todos nós, Thiago e Liam vão está destraindo Celeste, Elena e Darcy ficam com Graça no refeitório, Felicity fica de alerta na porta da secretaria enquanto eu e Eva vasculha aquela sala.

— Como manteremos a Celeste longe? — Thiago ajeita seu óculos com um gesto rápido.

— Eu confio em vocês, sei que vão descobrir como, o mesmo serve pra vocês meninas. — Guardo o mapa.

— Acho que consigo arrumar umas baratas.

Os olhos de Darcy brilham com a ideia, mas Elena parece discordar, expressando um certo nojo.

— Eu odeio baratas, você sabe disso.

— Melhor ainda. Assim não precisar atuar na hora, só colocar seu medo e nojo pra fora. — Darcy com as maos fica simulando baratas andando por Elena.

— Acho que prender Celeste numa sala daria certo. — Liam se levanta da poltrona com uma elegância que ecoa sua sagacidade.

— Enquanto tudo isso acontece eu só irei ficar de guarda?

— Exatamente, se aparecer alguém, você é a pessoa certa para enrolar, ninguém irá suspeitar de você.

— Quando iremos por em prática? — Eva continua fixando o olhar na mesa.

— Ainda hoje, durante o almoço.

Com todos cientes do plano, decidimos encerrar a reunião. Silenciosamente, um por um, saímos da sala, minimizando qualquer ruído.

A madrugada se dissipa lentamente, dando lugar à manhã. Me encontro no banheiro limpando o espelho embaçado com um gesto automático enquanto termino de escovar dos dentes. Aproveitando a solidão do quarto, retiro o diário de Agatha de minhas coisas. Por que ela rasgou as últimas páginas?  Me pergunto mergulhando em pensamentos.

— Pietro?

Escondo apressadamente o diário na gaveta ao perceber a presença de Thiago na porta. Nossos olhares se encontram, e um instante de silêncio tenso paira no ar.

— Não vai pra aula?

— Ah, vou sim, na verdade estou indo agora. — Me levanto até a porta.

À medida que o tempo avança, a hora do almoço se aproxima, e o plano se desenrola de maneira intensa. Thiago e Liam conspiram, prendendo Celeste em uma sala, enquanto Darcy, com uma mistura de malícia e humor, busca baratas para soltar na cozinha. A confusão se instala, com Graça e Elena gritando freneticamente, tentando lidar com o inusitado desafio.

No meio desse caos, Felicity assume sua posição de vigilante, enquanto eu e Eva, movidos por um propósito único, entramos na diretoria em busca de pistas que nos levem a Agatha. Tudo indo bem com o plano.

— É a nossa hora, Eva. Vasculha tudo aí.

A diretoria é uma sala simples, com as paredes forradas de estantes cheias de livros. No centro, há uma mesa, posicionada de frente para porta.
Enquanto examinam os livros, Eva chama minha atenção com uma expressão surpresa. Seu olhar intrigado sugere que ela tenha encontrado algo inesperado.

Eva retira da gaveta um livro encantador, com capa de relevo e uma aura de antiguidade. Uma joia azul adorna a capa, atraindo a atenção para o título “Os Sombras” gravado abaixo dela.

— Leia Eva.

— Eu ler!?

— É, abra e leia.

Eva destranca o livro com destreza, revelando as páginas antigas e amareladas. Seus olhos percorrem as palavras na primeira página. O silêncio na sala é quebrado apenas pelo suave arrastar das palavras:


“Nem tudo é o que vê; uma porta não é uma porta; uma sombra não é só uma sombra. Nascidos do vazio, trazidos pelo caos, os sombras são seres sem rosto, sem forma e sem vida, com um só objetivo: levar a alma daqueles que atormenta. Se os vê, torça para sobreviver.”


Enquanto Eva conclui a leitura, meu corpo fica paralisado, uma sombra se estende do outro lado da mesa. Um arrepio percorre minha espinha, o silêncio na sala ganha uma densidade tensa. A presença da sombra lança uma aura de suspense sobre a sala, como se o próprio mistério contido no livro tivesse ganhado forma diante de nós.

Um grito coletivo se rompe quando a sombra deixa de ser apenas um contorno obscuro. O mistério envolto na figura se desfez, revelando uma presença que nos deixa em um estado indescritível. O silêncio foi rompido enquanto tentávamos compreender a natureza daquilo.

A sombra do Olivier

Não há Nada no Vazio - Despertar Onde histórias criam vida. Descubra agora