2 de Agosto de 2015
Ele— Quem é você?!
— Esse é o Olivier, o novato do quarto.
— Eu estou tão surpreso quanto vocês, e não sei explicar o que vocês devem está se perguntando.
Num nível de desespero, meu coração acelera ao ver a porta se abrindo. No entanto, um suspiro de alívio escapa de mim quando percebo que é Felicity quem entra. Seus olhos refletem em alerta diante do caos que se desdobrou.
— Hora de vazar…
Ela perde o foco ao deparar com Olivier, parado como uma estátua, sua expressão reflete a uma criança assustada.
— Como que… Quem é… Não importa, temos que sair daqui!
Fecho a gaveta, levando o livro comigo, e puxo Pietro para sair correndo da sala. Olivier sai por último, fechando a porta atrás de nós. Pietro pergunta no meio da nossa correria:
— Quem está vindo??
— A ideia dos meninos deram errado.
— Errado quanto!?
— Não sei, não sei, eles passaram correndo avisando para sairmos de lá.
Felicity nos freia no meio da correria, e ao passarmos, vemos o zelador com Celeste, que está encharcada e com um cheiro nada agradável.
— Que merda eles fizeram.
— Temos que achar eles. — Felicity abaixa o braço.
— Não, temos que sair daqui. Os meninos vão saber se sair dessa — Me viro diante ao Olivier e seguro seu punho. — E você, venha com a a gente.
Pietro toma a frente do caminho, e sem nenhum sinal dos meninos, de Celeste e do zelador, saímos tranquilamente de lá, indo diretamente para o dormitório, especificamente o do meu irmão. O som da porta destrancando é a primeira coisa que ouvimos, seguida pela voz de Felicity.
— Quem é ele? Por que ele veio com a gente? E outra, como ele entrou naquela sala sem eu ver?
— Sou o Olivier… e fazem exatamente 24h que estou nesse internato.
— Ele divide o quarto comigo e os meninos.
— Certo, certo. E como ele entrou?
Mantendo meu silêncio e tentando organizar meus pensamentos, respondo a Felicity.
— Quem deve responder é ele, já que surgiu de uma sombra.
Todos nós encaramos Olivier, aguardando ansiosamente até algo sair de sua boca trêmula.
— Não sei por onde começo, mas vamos lá — Com a mão na minha testa prossigo — Coisas peculiares acontecem comigo, uma delas que vocês dois presenciaram é novo — respiro fundo. — Eu tava na biblioteca tirando uma caixa de cima da estante, me desequilíbrei e quando me dei conta, tudo estava invertido, mais bagunçado e com uma sensação medonha. Nisso segui um barbante vermelho amarrado na maçaneta que me levou até a diretoria. Agora como fiz para voltar não sei, pra vocês eu surgir de uma sombra.
É muita loucura isso, mas também, esqueço que dentro desse internato é possível.
— Imagino que vocês não acreditem em mim.
— Não acreditaríamos, mas quando você passa muito tempo aqui, começa a acreditar nas coisas.
Pietro puxa a cadeira da escrivaninha e senta.
— Então esse lugar aí, era o colégio invertido?
— Era, o céu é escuro e com muita neblina no chão.
Felicity se aproxima de Olivier com uma expressão curiosa, fixando os olhos em suas mãos.
— O que é isso que você segura?
Quando ele descruza os dedos, é visto uma folha amassada.
— Ah, isso. Quando entrei na sala da diretora, isso brilhava em tons dourado, e outra coisa também, atrás da mesa onde você estava — olha para mim. — Brilhava uma luz branca, de alguma forma eu conseguia te ver, que nem vi essa página.
— E o que está escrito nela? — perguntei.
Os olhos de Olivier se direcionam para a folha, e ele começa a ler. O silêncio que pairou, é interrompido apenas pelas palavras dele, revelando o título “08 de março de 2015”.
Nesse mesmo dia, eu estava fazendo as malas para estudar em um colégio interno que meus pais adotivos me colocaram, aqui mesmo em Porto dos Santos. Era bem grande e meio antigo. Ao redor, havia árvores e campos, sendo isolado da cidade, o que me intrigava. Havia lugares aqui que me davam sensações estranhas. Mesmo não gostando daqui, eu tinha que aceitar, pois é aqui que vou passar o resto dos anos.
— Quem veio estudar aqui? — pergunta Olivier.— Posso dá uma olhada?
Pietro estende a mão pedindo a carta, sua expressão é um enigma a se decifrar. Após ler a carta, ele parece procurar algo nas gavetas de sua escrivaninha.
— Cadê!? Cadê!? Estava aqui.
— O que está procurando? — pergunto.
Mas ele não responde.— Pietro! — continuo alterando a voz — O que você procura caramba!
E finalmente ele diz.
— O diário de Agatha.
— O diário de Agatha?! O que você fazia com ele? — Felicity parece está surpresa mas ao mesmo tempo confusa.
E ele não responde.
— Pietro, responde.
— Essa folha aqui, — Sacude o papel — é de Agatha, é a letra dela, e provavelmente de seu diário, no qual sumiu dessa gaveta. — uma voz entristecida ressoa ao dizer — Ela confiou em mim para guardar, e falhei.
— Ela escrevia tudo, deve ter escrevido o que aconteceu. — digo.
— Eu não li por respeito, mas ela rasgou as últimas páginas, e também deve ter rasgado essa.
— Gente…
Olivier interrompe.
— Não estou entendendo nada.
— Melhor assim, confie em mim. — Volto o foco para o Pietro.
— Por que não nos contou?
— Porque ela pediu para não contar, não sei os motivos, mas ela pediu.
— E quem pegaria o diário?
— Na teoria ninguém. São minhas coisas e ninguém nunca mexeu, nunca.
Parece que eu e Felicity tivemos o mesmo pensamento ao olhar para Olivier.
— Só se um estranho tenha mexido.
Foi ele
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Não há Nada no Vazio - Despertar
Mistero / ThrillerEm uma região isolada de Porto dos Santos, está a misteriosa Academia Iraceia, um internato onde Olivier inicia o segundo semestre do ano letivo. No começo, ele acredita estar começando uma nova fase de sua vida, mas logo percebe que algo está errad...