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Dia seguinte, 20:30 da noite.

A sala estava iluminada por uma luz suave, enquanto os amigos de Taehyung se espalhavam pelo apartamento, rindo e conversando. A atmosfera estava leve, mas Taehyung não conseguia ignorar o olhar de Hoseok fixo em Ayla. Ela estava sentada no sofá, com uma das pernas cruzadas, rindo de uma piada que Jin havia contado. O jeito como ela jogava a cabeça para trás, expondo o pescoço delicado, fazia o coração de Taehyung disparar e seu estômago se contorcer.

— Então, Ayla, você já pensou em ser modelo? — Hoseok perguntou, com um sorriso que exalava charme.

Taehyung sentiu uma onda de ciúmes subindo. O tom de Hoseok era brincalhão, mas havia uma pitada de interesse genuíno que fez Taehyung se levantar e andar até o grupo.

— Ela tem um talento incrível para desenhar e criar moda, não é? — Taehyung interveio, sua voz mais incisiva do que pretendia. Ele se aproximou do sofá, posicionando-se entre Hoseok e Ayla, como se tentasse proteger o que era seu.

— E você deveria me mostrar algumas de suas criações, Ayla! — Hoseok insistiu, ignorando a mudança no tom de Taehyung. — Aposto que seria um sucesso!

Ayla sorriu timidamente, claramente lisonjeada, mas Taehyung notou o leve rubor em suas bochechas. Isso o irritou ainda mais. Por que Hoseok não conseguia ver que ela não era só mais uma garota bonita? Ele não queria que ela fosse apenas uma conquista para o amigo; ele queria que ela soubesse o quanto era especial.

— E quem sabe um dia você possa modelar suas próprias roupas, não é? — Hoseok continuou, sua voz agora cheia de entusiasmo. Ele se inclinou para frente, como se estivesse tentando se aproximar ainda mais de Ayla.

— Isso seria incrível! — Ayla concordou, seus olhos brilhando de empolgação. Taehyung não suportava mais.

— Olha, Hoseok, talvez você devesse parar de fazer promessas que não pode cumprir — Taehyung disparou, sua voz soando mais ríspida do que pretendia. Ele sentiu os olhares de todos se voltando para ele, e por um momento, a sala ficou em silêncio.

— O que você quer dizer com isso? — Hoseok perguntou, levantando uma sobrancelha, surpreso com a súbita mudança na dinâmica.

Taehyung respirou fundo, tentando se acalmar. Ele não queria causar uma briga, mas a ideia de Hoseok flertando com Ayla o deixava agitado. Ele sabia que precisava se controlar, mas a ideia de perder a chance de algo verdadeiro o deixava inquieto.

— Apenas... não se esqueça de que ela está morando aqui. — Taehyung disse finalmente, forçando um sorriso que não alcançou seus olhos.

Ayla observou a troca entre os dois, um misto de confusão e curiosidade em seu olhar. A tensão na sala aumentou, e Taehyung se perguntou se havia ido longe demais. Mas, por outro lado, ele não queria deixar que Hoseok se aproveitasse da situação.

Enquanto a conversa recomeçava, Taehyung não pôde deixar de notar que, naquela noite, tudo havia mudado. Seu coração estava mais acelerado, e a atmosfera leve havia se dissipado, dando lugar a um jogo de sentimentos confusos que ele não sabia como controlar.

A noite avançava, os meninos haviam ido embora e a atmosfera do apartamento estava tranquila, apenas iluminada pela luz suave das lâmpadas. Taehyung estava deitado no sofá, com uma taça de vinho em mãos, enquanto Ayla se acomodava no chão, encostada ao sofá, um cobertor cobrindo suas pernas.

— Você se importa se eu ligar o karaokê? — ele perguntou, tentando quebrar o silêncio que começava a se tornar pesado. Mas, ao olhar para Ayla, percebeu que ela parecia pensativa.

— Na verdade, eu gostaria de conversar sobre algo... — Ayla respondeu, um toque de hesitação em sua voz.

Taehyung se sentou, deixando a taça de lado. O tom dela fez seu coração acelerar. Ele sempre achou que ela tinha uma profundidade que ia além da beleza, mas estava curioso e um pouco apreensivo.

— O que você tem em mente? — ele perguntou, genuinamente interessado.

Ela respirou fundo, olhando para o chão antes de levantar os olhos para ele. — Eu... não sou muito boa em compartilhar meus sentimentos. Sempre fui a garota que escuta, mas nunca a que fala.

Taehyung assentiu, sentindo uma conexão instantânea. Ele também lutava para se abrir, mesmo que sua vida parecesse perfeita para os outros.

— A vida pode ser complicada, né? — ele comentou, tentando encorajá-la a continuar.

— Sim, exatamente. Eu sempre sinto que preciso manter uma fachada, especialmente quando trabalhava como garçonete, todos esperavam que eu estivesse sempre sorrindo, mas às vezes, é difícil. Às vezes, eu só quero gritar. — A voz dela tremia levemente.

Ele não sabia o que dizer, então apenas a observou, atento. Era como se uma barreira estivesse se quebrando entre eles.

— Eu entendo. — Taehyung respondeu, suas palavras saindo mais suaves do que pretendia. — Às vezes, eu sinto que as pessoas só veem a imagem que projetei, como se eu fosse um produto a ser consumido. Elas não veem o que está por trás disso.

Ayla o encarou, seus olhos azuis profundos e cheios de compreensão. — Como assim?

Ele hesitou, mas a sinceridade no olhar dela o incentivou a se abrir. — Eu tenho medo de ser vulnerável, de mostrar quem realmente sou. Sempre fui o "homem de sucesso", mas... às vezes, me sinto muito sozinho.

Ayla não desviou o olhar. — E por que você acha que é assim?

Taehyung passou a mão pelo cabelo, pensando nas palavras. — Porque eu coloquei tanta energia em ser perfeito e em agradar os outros que esqueci de buscar o que realmente quero. O que realmente me faz feliz.

Ela sorriu, um sorriso que aquecia o ambiente. — Eu sinto o mesmo. Às vezes, fico tão perdida tentando agradar as expectativas dos outros que esqueço de olhar para mim mesma.

O silêncio se instalou entre eles, mas não era um silêncio desconfortável. Era um momento compartilhado, uma compreensão mútua de suas lutas.

— Você era mais do que uma garçonete, Ayla. Você é incrível, e eu admiro sua coragem. — Taehyung disse, sentindo uma leveza ao liberar aquelas palavras.

Ela corou, mas seus olhos brilharam com gratidão. — Obrigada. Isso significa muito para mim. Às vezes, só precisamos de alguém que nos veja, mesmo quando não estamos à altura das nossas próprias expectativas.

Ele sorriu, percebendo que, naquele instante, eles estavam um pouco mais conectados. Como se, finalmente, pudessem ser honestos um com o outro, permitindo que suas vulnerabilidades os unissem em vez de os separar.

𝑭𝒍𝒂𝒕𝒎𝒂𝒕𝒆𝒔// 𝑲.𝑻𝑯Onde histórias criam vida. Descubra agora