Chama de Eldoria

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O sol nascente tingia o horizonte de laranja e rosa, enquanto Eldoria lentamente despertava dos horrores da guerra. Os campos que antes estavam manchados de sangue agora eram banhados por uma luz suave. A resistência vitoriosa caminhava pelas ruas de uma capital devastada, mas o brilho de esperança nos olhos das pessoas indicava que um novo começo estava se formando. Entre eles, Amara, agora conhecida como "A Chama de Eldoria", permanecia em silêncio, seu olhar fixo nas ruínas do castelo. O peso da vitória ainda pairava sobre seus ombros.

Enquanto os aldeões comemoravam, ela se afastou para um canto mais tranquilo, junto ao antigo jardim do castelo, onde as flores teimosamente floresciam entre as pedras quebradas. Seu corpo doía dos ferimentos e da exaustão, mas sua mente estava ainda mais atormentada.

Foi lá que Cael a encontrou, sentado em uma mureta baixa, observando o céu com seus cabelos escarlates esvoaçando ao vento. Ele se aproximou em silêncio, a armadura ainda suja da batalha, mas o sorriso no rosto refletia uma leveza que não combinava com as circunstâncias.

- A Chama de Eldoria em um momento de solidão? - Cael disse em tom brincalhão, mas com um toque de ternura.

Amara ergueu os olhos, vendo o belo rapaz de cabelos negros e olhos puxados cor de mel com um pequeno sorriso tocando seus lábios.

- Às vezes, até o fogo precisa de descanso, Cael - respondeu ela, suspirando.

Cael sentou-se ao lado dela, o silêncio caindo entre eles por alguns momentos, antes que ele falasse novamente.

- Você fez o que ninguém acreditava ser possível, Amara. A tirania caiu, e o povo está livre. Mas parece que você não está comemorando.

Ela olhou para ele, seus olhos de um castanho claro intenso refletindo a luz do sol. Algo neles estava inquieto.

- A vitória tem seu preço - ela respondeu, a voz quase um sussurro. - Tantos morreram... Eu sinto que nunca poderei compensar essas vidas.

Cael inclinou-se um pouco mais perto, seu rosto agora a poucos centímetros do dela. Havia uma preocupação genuína em seu olhar.

- Você não está sozinha nisso, Amara. Todos nós perdemos alguém. Todos nós sangramos. Mas você deu a eles algo pelo qual lutar. Isso é mais do que muitos podem dizer.

Amara desviou o olhar, mas sentiu a presença reconfortante de Cael ao seu lado. Havia algo nele que sempre a acalmava, mesmo nos momentos mais sombrios. Desde a fuga ousada da prisão, os dois se tornaram inseparáveis, confiando um no outro em situações de vida ou morte. Mas, ultimamente, Amara começara a perceber algo mais profundo crescendo dentro dela, uma chama diferente, uma que ardia por ele.

Cael ficou em silêncio, observando-a. Ele, também, não pôde deixar de sentir a conexão que se formava entre eles, algo além das batalhas e do sangue. Algo que ele temia, mas desejava.

- Cael... - ela começou, mas hesitou. Havia tantas coisas que queria dizer, tantas emoções confusas.

- Sim? - ele a incentivou suavemente, inclinando-se para ouvir melhor.

Ela abriu a boca, mas foi interrompida por um grito de alerta vindo da praça principal. Algo estava errado. Amara imediatamente se levantou, colocando a mão na empunhadura de sua espada.

- O que está acontecendo? - Cael perguntou, levantando-se rapidamente ao lado dela.

Os dois correram em direção à praça, onde um grupo de cidadãos estava reunido. No centro, um velho amigo de Amara, um dos líderes da resistência, gesticulava freneticamente enquanto falava com um mensageiro que havia chegado correndo do campo.

- Há rebeldes que se recusam a aceitar a queda do rei - o mensageiro informou, sua voz trêmula. - Eles se reorganizaram nas fronteiras do norte e planejam tomar a capital de surpresa.

Amara olhou para Cael, a exaustão ainda presente em seu corpo, mas o olhar de determinação retornando.

- Isso nunca acaba, não é? - ela murmurou.

Cael balançou a cabeça lentamente, seus olhos encontrando os dela com uma mistura de preocupação e admiração.

- Não enquanto houver quem deseje o poder pelo poder - ele respondeu. - Mas você já enfrentou coisas piores.

Amara olhou para os aldeões ao redor, seus rostos expressando medo e confusão. Ela sabia que não podia falhar com eles. Não agora.

- Precisamos mobilizar as tropas restantes e ir ao encontro deles antes que se aproximem da capital - Amara disse, assumindo o controle da situação. - Eles ainda estão fracos, não podemos dar tempo para que se fortaleçam.

- Irei com você - disse Cael, decidido.

Amara parou por um instante, olhando diretamente para ele. Ela sabia que Cael sempre lutaria ao seu lado, mas também sabia dos riscos. Ele poderia não sobreviver à próxima batalha, e o pensamento de perdê-lo fez seu coração apertar.

- Você já fez o suficiente, Cael - ela começou a dizer, mas ele rapidamente a interrompeu.

- Não - ele disse firmemente. - Não é uma questão de dever. Eu vou porque é você quem está indo. Sempre foi assim, Amara.

Ela piscou, surpresa pela sinceridade em sua voz, e, por um momento, ficou sem palavras. Era como se o mundo ao redor tivesse parado. O coração dela bateu mais forte, e ela percebeu o que sempre estivera ali, logo abaixo da superfície.

- Cael... - ela começou, mas desta vez foi ela quem parou. Não havia palavras para expressar o que sentia.

Ele deu um passo à frente, estendendo a mão para tocar o ombro dela, seus olhos fixos nos dela.

- Não precisa dizer nada, Amara - ele disse suavemente. - Só quero que saiba que, independentemente do que venha pela frente, estarei ao seu lado. Sempre.

Ela sorriu, dessa vez um sorriso genuíno, o calor de suas palavras acendendo algo dentro dela.

- E eu, ao seu lado - ela respondeu, suas palavras carregando mais do que simples camaradagem.

E com isso, os dois partiram para a próxima batalha, mas dessa vez havia algo mais além da espada e do dever. Uma chama que ardia entre eles, algo que só cresceria com o tempo.

A guerra poderia nunca acabar, mas agora Amara sabia que, enquanto Cael estivesse com ela, ela teria mais do que força para continuar.





Talvez tenha mais continuação por enquanto leiam e se gostar dêem seu voto, obrigada queridos leitores ❤️







A Filha do Sol: AmaraOnde histórias criam vida. Descubra agora