Antes de se tornar a heroína que libertaria Eldoria das garras da tirania, Amara era apenas uma garota em uma pequena aldeia nas montanhas do norte, chamada Aravon. Era um lugar pacato, escondido das disputas políticas do reino, onde a vida seguia um ritmo simples. Foi ali que a jornada de Amara começou, ainda muito distante dos campos de batalha.
Amara cresceu em uma modesta cabana com seu avô, Harland, um veterano da antiga guarda real. Seus pais haviam morrido quando ela ainda era pequena, vítimas de uma praga que assolara o reino. Harland, com seus cabelos grisalhos e um olhar endurecido pelo tempo, tornou-se a figura paterna de Amara. Ele sempre mantinha o semblante sério, mas Amara sabia que, por trás daquela expressão, havia um homem que carregava o peso de inúmeras batalhas.
— Você sabe, Amara, a vida no campo pode parecer pacífica, mas nunca se deve baixar a guarda — ele dizia, enquanto afiava sua espada velha, uma relíquia das suas antigas glórias. — O mundo além das montanhas é impiedoso.
— E por que não saímos daqui, vovô? — ela perguntava com a curiosidade típica de uma criança. — Você sempre fala de Eldoria como se fosse um lugar cheio de aventura.
Harland suspirava, desviando o olhar para o horizonte distante.
— A aventura sempre parece atraente à distância, menina. Mas, quando se está no meio dela, você percebe o quanto custa. E nós já pagamos caro demais.
Aquela era uma resposta comum em sua infância, mas conforme os anos passavam e Amara crescia, ela sentia o desejo de descobrir o que existia além das montanhas. Seu espírito era inquieto, movido por uma energia que ela não sabia de onde vinha. Mesmo sendo jovem, seus cabelos escarlates, incomuns naquela região, sempre atraíam a atenção. Algumas crianças da aldeia diziam que ela era abençoada pelos deuses, enquanto outras a chamavam de "bruxa".
Mas Amara nunca deu atenção aos comentários. O que ela queria mesmo era aprender a lutar. Ela observava o avô diariamente em seus exercícios de espada e, por fim, um dia resolveu perguntar.
— Vovô, você acha que pode me ensinar a lutar? — perguntou Amara, determinada.
Harland ergueu os olhos da espada que estava limpando e franziu o cenho.
— Ensinar você a lutar? — ele repetiu, quase incrédulo. — Amara, sua vida não precisa seguir esse caminho. O que está buscando? O fardo das batalhas não é um destino que eu desejaria a você.
Amara, porém, não recuou. Ela sabia que havia algo maior esperando por ela, mesmo que não soubesse exatamente o quê. Havia uma voz dentro dela que a chamava para além dos limites daquela aldeia.
— Eu quero ser forte, vovô. Quero poder me defender e, quem sabe um dia, ajudar outras pessoas — ela insistiu, seu olhar firme e determinado.
Harland a observou por um longo momento em silêncio, como se pesasse suas palavras. Finalmente, ele se levantou, pegando uma espada de madeira, uma das antigas que ele havia feito para treinar em tempos de paz.
— Muito bem, Amara. Se é isso que você deseja, então começaremos. Mas saiba que, ao aprender o caminho da espada, você também deve aprender o caminho da responsabilidade. Nunca se deve lutar sem um propósito maior.
Assim começou o treinamento de Amara. Todos os dias, ao amanhecer, ela se levantava para praticar com seu avô. Os primeiros meses foram duros. A espada era pesada demais para seus braços finos, e seus golpes eram desajeitados, mas ela não desistia. Harland era um professor rigoroso, mas justo. Ele nunca dava tréguas, e Amara sempre terminava exausta, com os músculos doloridos. No entanto, ela sempre acordava no dia seguinte pronta para mais.
Certo dia, após meses de treinamento, Harland a observava enquanto ela praticava. Ele percebeu algo diferente. Os movimentos de Amara estavam mais ágeis, mais precisos. Ela não era mais a criança desajeitada que mal conseguia levantar a espada. Ela estava se tornando uma guerreira.
— Você está melhorando, Amara — disse Harland, com uma pontada de orgulho na voz.
Ela parou por um momento, ofegante, e sorriu.
— Então, talvez eu esteja pronta para algo mais difícil? — ela brincou, limpando o suor da testa.
Harland sorriu, um sorriso raro em seu rosto marcado pelo tempo.
— Talvez. Mas ainda há muito o que aprender. A força não está apenas nos braços, mas também no coração e na mente.
Os anos se passaram, e Amara se tornou uma jovem destemida e forte. A guerra ainda parecia uma realidade distante, mas Eldoria começava a mudar. Notícias esparsas chegavam à aldeia sobre o rei, um homem tirano que havia subido ao poder após a morte de seu pai, o rei anterior, que era amado pelo povo. A paz que outrora reinava começava a desmoronar.
Era uma tarde de primavera, e o sol começava a se pôr atrás das montanhas, quando uma carroça entrou na aldeia, trazendo um homem gravemente ferido. Ele era um soldado, com a armadura suja e quebrada. Os aldeões o cercaram, tentando entender o que havia acontecido.
— O rei... ele está saqueando as vilas. Qualquer um que se recuse a obedecê-lo é preso ou morto... — o homem disse, ofegante.
Amara, que estava na praça com os outros, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Pela primeira vez, o conflito estava se aproximando de Aravon.
Naquela noite, sentada ao lado do avô junto à lareira, ela decidiu que não podia mais ficar de braços cruzados.
— Vovô, nós precisamos fazer algo — ela disse, quebrando o silêncio. — Se o rei está destruindo tudo, não podemos apenas assistir. Precisamos lutar.
Harland, que até então estivera em silêncio, com o olhar distante, virou-se para ela. Seus olhos estavam sombrios, cheios de lembranças das guerras passadas.
— Eu sabia que esse dia chegaria — ele disse, sua voz grave. — Não posso impedi-la, Amara. Mas saiba que, ao sair desta aldeia, não há volta. O mundo lá fora não é o que você imagina. E as batalhas que você travará não serão apenas com espadas.
Amara segurou a mão do avô, sentindo o peso de suas palavras.
— Eu sei, vovô. Mas eu não posso ficar aqui enquanto tudo desmorona. Você me ensinou a lutar, e agora é minha vez de usar isso para algo maior.
Harland assentiu lentamente, segurando as mãos dela com firmeza.
— Então vá, Amara. Lute por algo que valha a pena. E nunca se esqueça de quem você é.
Na manhã seguinte, com o coração pesado, mas decidido, Amara partiu de Aravon. Seus cabelos escarlates brilhavam ao sol nascente enquanto ela caminhava em direção ao desconhecido, rumo a um destino que mudaria sua vida — e o destino de Eldoria — para sempre.
Um pouco da história de Amara, antes dela se tornar essa guerreira indomável e antes de se tornar uma rainha e uma mãe. Espero de coração que gostem e que cativem seus corações, meus queridos leitores ❤️🌷
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A Filha do Sol: Amara
Fantastiktão jovem,mas já lutava com destreza, Amara nascida da guerra presenciou só o caos e morte, mas isso não lhe deixou perder as esperanças, pelo contrário, ela levou a esperança para as pessoas, com seus cabelos flamejantes Amara se tornou uma lenda u...