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"Essa sou eu, tropeçando nas coisas que digo
Se eu cair de um lugar infinito
Fui eu mesma quem cavou o abismo
Eu me xingo com meus próprios palavrões
Eu me mordo com meus próprios tubarões
Eu me julgo com minhas próprias conclusões"
(Não sou demais | Luísa Sonza)

Melinda 💋

Segunda-feira sempre é meu pesadelo, queria poder dormir o dia inteiro e só acordar na terça.

Levantei na glória de Deus e fui tomar um banho quente, porque ninguém merece água gelada às 8:00 da manhã. Aproveitei para lavar o meu cabelo podre, não estava aguentando mais. Deixei ele natural mesmo, fiquei sem paciência para secar e passar chapinha.

Peguei uma maçã na cozinha porque nem dava tempo de comer nada, tenho um monte de coisa para resolver hoje. Catei logo a minha bolsa que estava largada no sofá, nem arrumei, já tem tudo o que eu preciso, acabo nem tirando nada de dentro.

Graças a Deus a Karoline deixou o carro aqui bem cedo, como ela tem acesso liberado, ela só colocou na garagem para mim.

Tranquei a casa toda e saí correndo para entrar no carro. Meu celular estava vibrando toda hora, e era só mensagem da minha mãe querendo saber se eu estava chegando. Bendita hora em que fui confirmar presença, estou indo mesmo porque é aniversário dela.

Dirigi bem calma, só ouvindo minha música na paz, porque a partir do momento em que eu chegar naquela casa, o inferno vem.

Depois de mil toques, atendi a bendita chamada.

Melinda: Oi?

Bianca: Cadê você?

Melinda: Oi para você também, mãe. Estou estacionando.

Bianca: Finalmente, o Rodrigo perguntou de você. Vem logo.

Nem me dou o trabalho de responder, só desligo e finjo que nem escutei nada. Às vezes, tem que dar uma de maluca com a minha mãe, só assim para a gente se entender.

Desço do carro, pego a bolsa e o presente no porta-malas. Vejo a minha vó bem na porta fumando, e já abro um sorriso, essa velha é a melhor.

Helene: Cada dia mais tatuada. — nega com a cabeça.

Melinda: Cada dia mais fumante. — Abraço ela.

Helene: Só assim para aturar esse ambiente.

Melinda: Eu não poderia concordar mais. Entra comigo, não quero enfrentar esse bonde sozinha.

Ela ergue o braço para mim e eu o envolvo, entrando na casa junto com ela. Logo vejo minha mãe respirando aliviada e vindo na minha direção.

Bianca: Graças a Deus. — Me abraça e beija a minha testa.

Melinda: Feliz aniversário, dona Bianca.

É complicado me comunicar com a minha mãe, parece que eu perdi o jeito. Olhar para ela é a mesma coisa que me ver no espelho, o mesmo cabelo loiro que nem o meu antes de eu pintar, os olhos verdes. Eu sou a cópia exata dela.

Bianca: Você sabe que não precisava de presente.

Melinda: Você sabe que eu nunca te escuto.

Bianca: Tão teimosa como sempre. — Suspira visivelmente cansada.

Melinda: Você está bem? — Faço essa mesma pergunta há anos, desde que ela se casou.

IGUARIA [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora