03 - Operação

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Entrar naquela recepção novamente me fez lembrar o peso que esse lugar carregava em mim

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Entrar naquela recepção novamente me fez lembrar o peso que esse lugar carregava em mim. Para todos, esse trabalho seria uma conquista, uma vitória que minha mãe exaltava como o auge da minha carreira. Mas a verdade, que só eu carregava, era que cada segundo ali era insuportável. Odiava aquele batalhão, odiava a sensação de estar presa enquanto minha irmã vivia livre. Ela tinha tudo, eu, nada além dessa farda. Meu mundo se limitava a essas paredes.

Apressei o passo até o vestiário, meu refúgio silencioso. Abri o armário com um tranco, como se a força do meu ódio pudesse quebrar a barreira que me separava da liberdade. Peguei meu batom vermelho bordô, o único toque de cor que me permitia em meio ao cinza daquela rotina. O espelho pequeno refletia minha maquiagem discreta, mas era o batom que realmente importava. Ele acentuava meus lábios, me lembrava do poder que eu ainda possuía. Ao terminar, sorri para mim mesma. Só eu sabia o que esse sorriso realmente significava.

Ao trancar o armário, meus pensamentos se voltaram a ele  — o do Capitão Nascimento. Havia algo perturbador naquele homem. O jeito como me encarava, sem expressar emoção alguma, como se olhasse através de mim, como se estivesse sempre dois passos à frente. Ele era frio, calculista, um enigma que me intrigava e irritava ao mesmo tempo. Quem era ele fora desse batalhão? Vivia uma vida miserável como a minha? Algo nele me dizia que sua realidade era muito mais obscura.

Perdi-me nesses pensamentos até que percebi sua presença. Ele estava na porta, me observando, sua figura imponente bloqueando minha saída.

— Soldado Monteiro, que bom te encontrar aqui. Preciso falar com você. — Sua voz era firme, mas carregava uma nota de algo que eu não conseguia decifrar.

Franzi o cenho. O que ele queria?

— Qual seria a dúvida, Capitão? Algo importante? — Minha voz saiu mais ríspida do que pretendia.

Ele avançou um passo, mantendo aquela expressão impassível. — Quero entender como você conseguiu o cargo de 02. Alguém como você... já chegou a pensar que está aqui por mérito próprio? Ou você está dando para o Coronel Carvalho?

O choque paralisou meu corpo por um segundo, e então o sangue subiu à minha cabeça. Ele não podia ter dito aquilo. Me aproximei, o ódio fervendo em cada fibra do meu ser, e a palma da minha mão encontrou o rosto dele com força. O estalo ecoou no silêncio do vestiário.

— Como ousa?! — Minha voz saiu entrecortada de raiva. — Não devo nada a ninguém aqui. E, principalmente, não sou mulher de ninguém!

A expressão dele mudou, a raiva contida em seu olhar frio finalmente se revelando. Ele avançou sobre mim, rápido demais para que eu reagisse, sua mão apertando meu pescoço e me jogando contra o armário. O impacto fez o ar fugir dos meus pulmões, e por um momento, tudo o que senti foi a dor irradiando por minhas costas. Seus olhos estavam nos meus, sem piscar, analisando cada centímetro do meu rosto.

— Me solta! — Gritei, tentando afastar suas mãos. Ele era mais forte, muito mais forte. Mas, finalmente, me soltou.

Ofeguei, recuperando o ar. — Você é um lunático e totalmente inconveniente.

Coração Implacável - Capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora