06 - Ronda

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O som do tecido da farda deslizando pela minha pele soava como uma segunda armadura

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O som do tecido da farda deslizando pela minha pele soava como uma segunda armadura. Eu ajeitei o cinto com precisão automática, apertando o último botão da camisa enquanto a mente vagava, dispersa. Era mais um plantão, mais uma noite fora de casa. O trabalho me chamava e, como sempre, eu respondia.

A porta do quarto se abriu com um rangido baixo, e Rosane entrou, parando ao me ver de farda. O olhar confuso que ela me lançou foi como um espelho de nossa relação, cheia de perguntas sem respostas, cheia de distâncias que só cresciam.

— Por que está de farda? Vai trabalhar de novo? — A voz dela carregava uma mistura de cansaço e frustração, o tipo de tom que eu já tinha escutado tantas vezes, mas que agora me atingia de um jeito diferente.

Eu a encarei por alguns segundos, sentindo a tensão no ar entre nós. Ela estava cansada, eu sabia disso. Nós dois estávamos. Mas as palavras saíram secas, quase automáticas.

— Tenho um plantão hoje.

Me aproximei dela, colocando minhas mãos ao redor de seu rosto. O toque era familiar, mas minha mente estava a milhas de distância. Olhei nos olhos dela, os mesmos olhos que um dia me traziam conforto, mas hoje... Hoje eles pareciam estranhos. E então, de repente, os olhos de Rosane se misturaram com os de outra pessoa.

Camila.

Não havia semelhança física entre elas, mas havia algo em Camila que me puxava, uma força invisível que eu não conseguia controlar. Por que, naquele momento, ela havia invadido minha mente? Um sentimento de culpa me invadiu, mas ao mesmo tempo, havia um desejo, uma necessidade primitiva que eu não podia ignorar.

Sem pensar, inclinei-me e beijei Rosane. Minhas mãos deslizaram por sua cintura, apertando o tecido de sua roupa com mais força do que o necessário, como se, de alguma forma, aquele toque pudesse afastar os pensamentos de outra mulher. Mas à medida que o beijo se aprofundava, minha mente traía meu corpo. Eu não estava beijando Rosane. Era Camila quem eu imaginava ali, sentindo o calor de seus lábios, o perfume que invadiu meus sentidos.

Rosane retribuiu o beijo, mas eu não conseguia mais sustentar a farsa. O ar começou a faltar e eu me afastei, respirando fundo, tentando afastar a imagem de Camila da minha mente. Meus olhos voltaram aos de Rosane, e naquele instante eu soube que estava à beira de algo perigoso. Trair minha esposa nos pensamentos já era um peso, mas não podia cruzar aquela linha. Não ali. Não agora.

Ela tentou me puxar de volta, talvez buscando uma reconciliação, talvez tentando reviver algo que estava morrendo entre nós. Mas eu a afastei suavemente, sem encarar seus olhos dessa vez.

— Eu preciso ir. Descansa, chego amanhã.

A voz saiu firme, mas o turbilhão dentro de mim continuava a me corroer. Peguei minha mochila e saí do quarto sem olhar para trás, descendo as escadas com passos firmes. O peso da culpa estava ali, junto com a crescente obsessão que eu não conseguia controlar.

Coração Implacável - Capitão nascimentoOnde histórias criam vida. Descubra agora