Capítulo 1:

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No início de tudo...

Mariana Bittencourt:

As luzes da festa refletiam nas taças de cristal, dançando entre os vestidos caros e sorrisos falsos. Eu circulava pelo salão, como sempre, o centro das atenções, mas invisível para quem não sabia o que procurar. Meus olhos varriam o ambiente, calculando, avaliando. O jogo era sempre o mesmo: poder e controle. E eu, Mariana, sabia exatamente como jogar.

Aquela era apenas mais uma festa de gala beneficente, recheada de milionários tentando limpar suas consciências com doações generosas. O tipo de evento em que o verdadeiro poder não estava no dinheiro, mas nas conexões que se faziam. Eu já tinha cumprido meu papel, com discursos vazios e promessas de caridade, mas era ali, no silêncio entre os brindes e olhares, que eu encontrava o que realmente me interessava.

Foi então que o vi pela primeira vez.

Gustavo estava parado do outro lado do salão, conversando com algum figurão cuja presença não importava. Ele não era como os outros homens ali. O terno sob medida parecia mais uma armadura, escondendo algo que eu não conseguia decifrar de imediato. Ele tinha uma postura de quem não era fácil de manipular, alguém acostumado a comandar sua própria vida. E isso me atraiu instantaneamente.

Eu peguei uma taça de champanhe da bandeja de um garçom que passava, observando Gustavo de longe, avaliando cada movimento. Ele tinha um ar de mistério que poucos conseguiam manter em um evento tão superficial. Sua atenção estava totalmente focada na conversa, mas eu sabia que o momento certo chegaria. Eu sempre fazia o momento certo acontecer.

Cruzei o salão, sem pressa, sentindo os olhares seguirem meus passos. Quando estava a poucos metros dele, nossos olhos finalmente se encontraram. E naquele instante, soube que o jogo tinha começado.

— Mariana Bittencourt, muito prazer — estendi a mão, meu sorriso ensaiado perfeitamente, mas meus olhos analisando cada detalhe da sua reação.

Ele demorou um segundo a mais do que o normal para apertar minha mão. Quando o fez, foi firme, sem hesitar. Então, em um gesto que me deixou sem fôlego, ele levou minha mão aos lábios. O calor de seus lábios em contato com minha pele disparou uma onda de eletricidade por todo o meu corpo. Foi um beijo delicado, mas cheio de significado, como se ele estivesse marcando aquele momento na minha memória. A sensação era tão intensa que fechei os olhos por um breve instante, perdida em um turbilhão de emoções.

—Eu sou Rafael Ford. —Ele disse, olhando profundamente em meus olhos enquanto se afastava, a intensidade de seu olhar me fazendo sentir como se ele estivesse desnudando minha alma. —E você é absolutamente fascinante, Mariana.

As palavras dele ecoaram na minha mente, e, por um momento, tudo ao meu redor desapareceu. O barulho da festa, as conversas e as risadas tornaram-se um zumbido distante. O único som que eu podia ouvir era o ritmo acelerado do meu coração, pulsando em resposta ao magnetismo que emanava dele.

Rafael. O nome ecoou em minha mente como uma sinfonia, e, ao mesmo tempo, uma sensação de perigo começou a se formar. Ele era o tipo de homem que poderia trazer tanto prazer quanto complicações. Mas naquele instante, tudo o que eu conseguia pensar era na forma como seus lábios haviam tocado a minha mão.

Havia algo em seu olhar. Ele não era como os outros. Não parecia estar impressionado com a aura de poder que eu exalava. Na verdade, ele me estudava da mesma forma que eu o estudava. Como dois predadores se reconhecendo.

Eu sorri internamente. Aquilo seria divertido.

— Então, Rafael, o que traz você a uma festa como esta, além de encantar a todos? — perguntei casualmente, tomando um gole da taça, como se fosse apenas mais uma conversa trivial.

Ele riu baixo, um som que foi mais uma vibração que percorreu meu corpo do que um som qualquer

— Fazendo conexões, assim como você, como imagino... —Ele olhou ao redor da sala antes de voltar seu olhar para mim, como se não houvesse mais ninguém ali. —Mas tenho que admitir, não esperava encontrar algo... ou alguém tão fascinante. E você, Mariana? Parece que tem algo mais por trás dessa fachada de benfeitora.

Eu ri, baixinho, enquanto inclinava a cabeça ligeiramente, deixando que ele visse o suficiente para saber que eu não era apenas mais uma socialite sem conteúdo.

As palavras dele eram perigosamente suaves, cada sílaba carregada de uma promessa que eu ainda não compreendia totalmente. Eu queria manter o controle, dominar a situação, como sempre fazia. Mas algo nele me desequilibrava. Havia uma aura ao seu redor, algo que ia além do charme ou da boa aparência. Era como se ele fosse uma força implacável, calma na superfície, mas com profundezas insondáveis.

Eu cruzei os braços, mantendo a postura defensiva, mesmo enquanto meu coração acelerava.

—Você parece muito confiante de que sabe quem eu sou...

—Sei o suficiente. —Ele sorriu mais uma vez, e o brilho em seus olhos me desarmou. Ele se inclinou um pouco mais perto, e o perfume amadeirado dele atingiu meus sentidos. —E acho que você também já sabe muito sobre mim... ou está prestes a descobrir.

Eu poderia sentir a pulsação em meus ouvidos. Ele estava jogando comigo, e isso me fascinava.

—Talvez eu saiba mais do que você imagina, Rafael.

Ele sorriu novamente, um sorriso lento e provocante que fazia meu estômago se apertar.

—Tenho certeza que sim, Mariana. A noite ainda mal começou...

Antes que eu pudesse responder, alguém se aproximou e o chamou, interrompendo o momento. Ele se afastou, ainda com aquele sorriso que parecia conter um segredo.

—Eu volto para continuar nossa conversa, se você permitir. –Tom de promessa.

E assim, ele se foi, se misturando à multidão, deixando-me com uma mistura de curiosidade e frustração. Algo em mim sabia que esse encontro não terminaria ali. Rafael, ou seja lá quem ele realmente fosse, tinha mexido comigo de uma forma que eu não podia ignorar. E enquanto observava sua silhueta se afastar, percebi que estava ansiosa por mais, por descobrir quem ele realmente era – e o que estava por trás de toda essa fachada.

— Ah, Rafael... talvez você esteja certo. Talvez haja algo mais. Mas isso, meu caro, você terá que descobrir.

Nossos olhares se prenderam por mais um segundo, um momento longo demais para ser casual. A atração, o poder, o jogo... tudo estava claro naquele instante. Aquele homem não era apenas um rosto bonito perdido entre tantos. Ele era diferente. E isso o tornava muito mais interessante.

Rafael com um terno escuro que parecia esculpir seu corpo. A primeira coisa que notei foram os ombros largos, uma presença que exalava poder e confiança. Seu cabelo escuro estava perfeitamente arrumado, e uma barba bem aparada contornava seu rosto, acentuando uma mandíbula que poderia facilmente ser chamada de imponente. Mas foram seus olhos que me prenderam – um tom profundo de azul, mas o esquerdo é parcialmente marrom pela heterocromia, fazendo o olhar dele ser único e com uma intensidade que parecia penetrar na minha alma.

Meu coração disparou de uma forma que eu não esperava. Ele tinha um sorriso que misturava charme e mistério, como se soubesse algo que eu não sabia. Não fazia ideia de quem era, mas a atração era inegável. Era como se o tempo parasse ao nosso redor, e todo o glamour da gala desapareceu, deixando apenas nós dois em um universo particular.

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