Capítulo 2:

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Gustavo Albuquerque (Rafael Ford):

Ela descia as escadas com uma calma quase letal, como se cada passo estivesse cuidadosamente calculado para atrair a atenção de todos no salão. E conseguiu. Não havia uma única pessoa que não estivesse de olho nela. Mas, diferente dos outros, eu não via apenas a mulher estonteante e poderosa que todos queriam admirar. Eu via além da superfície — uma predadora controlando o ambiente com maestria. Uma rainha no seu domínio.

Seus cabelos caíam suavemente pelos ombros, destacando o decote profundo do vestido negro que abraçava suas curvas de maneira provocante, mas sem esforço. O brilho das joias que ela usava só aumentava a aura de poder ao seu redor. Mariana Bittencourt, a mulher cujo nome eu já ouvira antes, mas que agora, diante de mim, era muito mais do que rumores ou histórias contadas em sussurros.

Havia algo em seus olhos, naquela maneira como varria o salão, como se cada alma ali estivesse à sua mercê — e estavam. Ela jogava um jogo de poder e sedução que poucos conseguiriam entender. Mas eu via. E era exatamente por isso que eu a estava estudando há horas. Seu olhar se movia de pessoa em pessoa, como se escolhesse seu próximo alvo. E eu sabia que, eventualmente, ela me notaria.

E então, aconteceu.

Seus olhos encontraram os meus. O ar ao nosso redor pareceu mudar, como se o tempo tivesse parado por um breve momento. Mariana não era como as outras. Ela não sorria de forma casual, não era tímida nem sedutora da maneira óbvia. Havia algo mais profundo, mais sombrio. Uma confiança sobrenatural.

Continuei a observá-la, e quando finalmente se aproximou de mim, meu coração bateu mais rápido, mas mantive a calma. Eu sabia jogar também.

Ela estendeu a mão, e eu a segurei por um instante a mais do que seria considerado socialmente aceitável. Então, levei-a aos lábios, num cumprimento deliberadamente lento.

Sentindo a suavidade de sua pele, o perfume delicado que exalava de seus pulsos. Mas o que mais me desestabilizou foram os olhos dela. Aqueles olhos... eram diferentes de tudo que eu já havia visto. Castanhos profundos, quase hipnotizantes, com um brilho perigoso de quem sempre está à frente dos outros no jogo. Havia algo de feroz neles, como se ela pudesse enxergar diretamente através de mim, e por um segundo, senti que ela sabia mais do que estava deixando transparecer.

Era um olhar calculado, intenso, que escondia segredos por trás de uma fachada impecável. Os olhos dela me sondavam com uma mistura de curiosidade e algo mais profundo — uma força silenciosa que emanava perigo. Era como se cada piscada dela fosse um convite para o desconhecido, uma promessa de que quem ousasse entrar em seu mundo jamais sairia ileso.

Por um momento, me perguntei se eu estava preparado para isso. A missão, o disfarce, tudo parecia simples no papel, mas diante daqueles olhos, tudo parecia infinitamente mais complicado. Eu soube, naquele instante, que Mariana não era apenas mais uma mulher a ser investigada. Ela era um desafio — um labirinto de intenções e segredos.

Ao tocar sua pele, senti a eletricidade passar por mim, um calor inesperado que me pegou desprevenido. Ela também sentiu — eu vi em seus olhos. Por um breve momento, ela fechou as pálpebras, provavelmente tentando controlar o efeito que eu tive sobre ela.

—Rafael Ford. — Menti sem hesitar, com um sorriso controlado. Eu precisava ver até onde esse jogo nos levaria. E eu sabia que ela não seria fácil de enganar, mas o desafio fazia tudo ainda mais interessante. —E você é absolutamente fascinante, Mariana.

As palavras saíram naturalmente, mas tinham peso. Ela não era uma mulher para ser conquistada com elogios vazios. Cada frase minha era uma jogada calculada, um passo no jogo perigoso que começamos ali. Eu via em seus olhos que ela sabia disso também.

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