Capítulo 4

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Mariana Bittencourt:

—Você sabe... já ouvi muito a seu respeito, Mariana... —Ele começou, mantendo o olhar fixo no meu, como se tentasse medir minha reação. —Histórias, rumores... algumas das quais são difíceis de acreditar. —Ele deu um leve sorriso. —Mas, vendo você agora, dançando, comandando cada olhar na festa, percebo que há muito mais em você do que as pessoas comentam.

Eu levantei uma sobrancelha, sem interrompê-lo, curiosa para onde isso levaria. Ele havia se aproximado não só pelo meu nome, mas por algo mais profundo. Ele queria entender quem eu realmente era.

—Eu quis aproveitar essa oportunidade para te conhecer melhor... —Ele continuou, os braços agora cruzados, mas com um relaxamento calculado, como se estivesse abrindo uma porta de diálogo sem perder o controle da situação. —As histórias que contam sobre você... elas dizem que você é implacável, mas nunca mencionam quem é a mulher por trás disso. E é isso que me interessa.

"Mas é isso que me interessa." As palavras de Rafael ficaram suspensas no ar, e então ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre nós. O toque do vento noturno mal conseguiu disfarçar o calor crescente entre nossos corpos, e por um segundo, senti a força da presença dele invadindo o espaço que sempre mantive seguro.

Ele estava tão perto agora que eu podia ver cada detalhe em seus olhos, como se estivesse tentando ler algo em mim que ninguém jamais ousara procurar. Eu sabia o que ele queria – queria me entender, decifrar o que havia além da superfície de poder e controle. Mas isso era algo que eu nunca havia permitido a ninguém.

Dei um passo para trás, recuando. A proximidade dele me desestabilizou de uma forma que ninguém jamais havia conseguido antes. Sempre fui forte, impenetrável, acostumada a manter as pessoas à distância, mas agora... agora, a ideia de baixar a guarda, de permitir que alguém me visse de verdade, era estranhamente tentadora.

Ele não parou. Manteve-se avançando, ainda que de maneira sutil, como se soubesse exatamente o efeito que estava tendo sobre mim. Por um instante, me perguntei o que ele esperava encontrar, e por que aquilo importava tanto para ele. Sempre fui julgada por minha força e pela implacabilidade, mas ele parecia querer algo além disso. Algo que eu mesma hesitava em admitir que existia.

O ar ao nosso redor parecia mais denso, e meu coração bateu um pouco mais rápido. Tentei me recompor, mas dei mais um passo atrás. O olhar de Rafael nunca vacilou, fixo no meu, como se estivesse vendo algo que ninguém mais havia notado.

—Você está recuando, Mariana?—Ele disse, sua voz baixa, mas carregada de uma certeza irritante. —Não esperava isso de você... Mariana punho de ferro...

O ar entre nós estava carregado de tensão, o silêncio preenchido apenas pelo som leve das folhas balançando ao vento. Eu estava prestes a responder, prestes a recuperar o controle da situação, quando algo mudou. Senti, mais do que ouvi, uma presença diferente. O clima cortante de antes foi substituído por uma energia perigosa, súbita.

Antes que eu pudesse reagir, uma sombra se moveu rapidamente pelas árvores. O brilho metálico de uma arma à luz das lanternas foi a única advertência que recebi.

Quando o agressor apareceu, tudo aconteceu rápido demais. Eu deveria ter percebido, deveria ter sentido a ameaça antes mesmo de ela se aproximar. Mas, naquele instante, minha guarda estava baixa – algo que nunca acontecia. E agora, estava pagando por isso.

Antes que eu pudesse reagir, Rafael agiu com precisão mortal. Em um movimento rápido, ele desarmou o agressor e, sem hesitar, finalizou o ataque com um golpe certeiro. O som da faca atravessando o corpo do homem foi abafado pela escuridão ao nosso redor. O silêncio que se seguiu foi perturbador.

Fiquei parada, observando enquanto o corpo do agressor caía no chão, já sem vida. Rafael havia acabado com ele a sangue frio, sem qualquer sinal de remorso ou dúvida. Ele se virou para mim, seus olhos agora escurecidos por algo mais profundo, algo perigoso. Algo chamado "preocupação" é um sentimento desconhecido para mim.

Enquanto eu olhava para Rafael, algo dentro de mim começou a mudar. A brutalidade com que ele eliminou o agressor deveria ter me deixado alerta, mas, em vez disso, senti algo inesperado. Ele tinha feito algo que ninguém jamais havia feito por mim: cuidou de mim, protegeu-me sem hesitação.

Sempre lidei com tudo sozinha, sem jamais depender de ninguém. Era eu quem controlava, quem tomava as decisões, quem lidava com as consequências. Nunca precisei que alguém se preocupasse comigo — até agora. E essa sensação, por mais perturbadora que fosse, despertava algo profundamente atraente.

A adrenalina ainda corria em minhas veias, mas agora havia um peso adicional. Eu não esperava isso — não dele. Apesar de toda a tensão entre nós, a crueldade do ato era um lembrete sombrio do mundo em que vivíamos.

Ele se aproximou de mim, limpando as mãos de forma metódica, como se nada tivesse acontecido. O fato de Rafael ter agido com tamanha frieza, mas ainda assim por minha causa, mexeu comigo de um jeito que eu não podia ignorar.

—Agora, que tal brindarmos a essa noite, Mariana? —Rafael disse, sua voz suave e envolvente, como se cada palavra estivesse impregnada de um charme irresistível. Havia uma aura de cavalheirismo em seu olhar, um misto de intensidade e sutileza que me deixou intrigada. —Considerando que eu te salvei, sinto que você me deve um favor.

A forma como ele formulou a proposta me fez sorrir, embora a ideia de estar em dívida com ele não fosse exatamente o que eu estava acostumada. Sempre fui a que controlava a situação, a que nunca devia favores a ninguém. Mas havia algo sobre Rafael que desafiava essas normas, algo que fazia meu coração acelerar de um jeito que eu não entendia.

—Um drink não seria de todo mal. — Respondi, tentando manter uma postura de indiferença, mas sentindo a tentação de me deixar levar pela situação. —Mas não pense que isso significa que você pode me controlar.

Ele sorriu, um sorriso que prometia mistério e emoção.

— Nunca pensei que você fosse do tipo a se deixar controlar, Mariana. Eu apenas quero conhecer a mulher por trás da lenda...

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