Mariana Bittencourt:
Depois que ele se afastou, forcei um sorriso e me voltei para os convidados. A festa seguia em seu ritmo luxuoso, com risos, conversas animadas e taças de champanhe erguidas como se nada tivesse acontecido. Eu precisava me concentrar neles, afinal, essa noite era minha. Cada pessoa presente estava aqui por mim, pela minha influência. Mas, por mais que tentasse, meus pensamentos sempre voltavam para ele. Rafael.
Minha mente parecia incapaz de escapar da memória de seu olhar, daquele breve momento em que nossos mundos se cruzaram. Eu mantinha minha postura impecável, cumprimentava pessoas, sorria com aquela leveza ensaiada, mas por dentro, estava dividida. Enquanto falava com os meus convidados, meus olhos o procuravam, escaneando a multidão, tentando encontrá-lo entre os rostos que não me interessavam. Ele tinha desaparecido, mas eu sabia que ainda estava ali, em algum lugar. E eu o encontraria.
Cada conversa parecia se arrastar, palavras vazias saíam da minha boca enquanto meu olhar vagava por cima dos ombros das pessoas, buscando o único homem que realmente importava naquela noite. Por um instante, senti uma pontada de irritação. Eu não deveria estar tão afetada. Afinal, quantas vezes já tive o mundo aos meus pés, homens caindo em desespero por um vislumbre de atenção minha? Mas Rafael... ele era diferente. Era um mistério que eu precisava resolver.
Quase no fim da festa, quando a maioria dos convidados já estava mais descontraída, eu o vi. Ele estava perto da saída, conversando com alguém, mas sua expressão parecia distante, como se também estivesse em outro lugar. Meu corpo reagiu antes que minha mente pudesse processar. Finalmente, ele estava ao meu alcance de novo.
Depois de longos minutos tentando me concentrar nos convidados, senti uma presença se aproximando. Meus olhos captaram um movimento e, antes que eu pudesse reagir, Rafael estava parado bem à minha frente. Seu olhar fixo me prendeu, e por um breve segundo, tudo ao nosso redor pareceu se dissipar. Ele não disse nada de imediato, apenas estendeu a mão, em um gesto calmo, mas com uma intensidade inegável.
—Me concede essa dança? — A voz dele era baixa, quase um sussurro, mas firme. Havia algo naquele tom que fez meu coração bater mais rápido.
Por um momento, eu apenas o observei. Aquela ousadia, a confiança que ele tinha ao me convidar assim, como se soubesse que eu diria sim. Não era comum para mim ser surpreendida, e ainda menos por um homem. Ele me olhava com aquele mistério que me deixava inquieta, e tudo em mim gritava para aceitar o desafio.
Coloquei minha mão na dele, sentindo o toque firme e quente. Ele me guiou para o centro da pista de dança, com todos os olhares voltados para nós. Eu estava acostumada a ser o centro das atenções, mas desta vez, era diferente. Havia algo quase perigoso naquela proximidade, algo que ameaçava quebrar o controle que sempre mantive sobre mim mesma.
A música que começou a tocar era lenta, envolvente, com notas de um tango moderno, algo que transmitia uma mistura de paixão e tensão, como se a melodia pudesse falar por nós. O violino arrastado, acompanhado de suaves acordes de piano, criava um ambiente sensual, onde cada movimento parecia coreografado para aumentar a intensidade entre nós dois.
Ele me segurava com uma firmeza calculada, uma mão em minha cintura e a outra entrelaçada na minha. A proximidade entre nossos corpos era inevitável, e eu podia sentir a leve pressão de sua mão nas minhas costas, guiando cada passo com uma segurança quase hipnótica. O ritmo da música nos fazia deslizar pela pista, nossos movimentos sincronizados, como se tivéssemos dançado juntos por toda a vida.
Havia algo em seu toque que me desarmava, algo que eu não estava acostumada a sentir. Rafael movia-se com uma precisão elegante, seus olhos nunca deixando os meus, como se estivesse esperando alguma reação, um sinal de que eu estava tão perdida quanto ele. E, por um momento, quase perdi o controle. Eu sentia o calor do seu corpo, a maneira como seus músculos se moviam contra os meus, cada roçar de suas mãos criando uma corrente de eletricidade que percorreu minha espinha.
A música parecia ser uma extensão de nós dois – cada nota, cada pausa, refletia a batalha silenciosa que travamos ali, no centro da pista. A melodia subia e descia em ondas suaves, e nossos corpos seguiam o mesmo ritmo. Quando ele me girou, senti o ar mudar ao nosso redor, a leveza do movimento contrastando com a intensidade do momento. Seus dedos apertaram levemente minha mão, como se quisesse prolongar aquele contato, mas mantendo a fachada de controle.
Eu estava ciente de cada olhar ao redor, mas ao mesmo tempo, parecia que só existíamos nós dois. A pista de dança era um palco, e essa dança, um jogo de poder. Ele, com seu silêncio calculado, e eu, lutando para manter a compostura. Mas à medida que a música avançava, percebi que, naquela dança, estávamos ambos nos perdendo, permitindo que o ritmo nos conduzisse a algo mais profundo.
A última nota do violino soou, longa e dramática, enquanto nossos corpos paravam juntos, tão próximos que eu podia ouvir sua respiração. Ele não disse nada, apenas manteve o olhar firme, como se soubesse que a dança não havia terminado ali. E talvez não tivesse mesmo.
O ar noturno estava fresco, trazendo consigo o cheiro doce das flores que se espalharam pelo caminho. Não havia mais a música, os olhares, os sussurros ao nosso redor — agora éramos só nós dois, envoltos no silêncio da noite.
Rafael caminhava ao meu lado com a mesma confiança de antes, como se estivesse exatamente onde queria estar. Seu braço ainda estava próximo do meu, não me tocando, mas tão perto que eu podia sentir o calor da presença dele. O jardim estava iluminado por luzes discretas, que lançavam sombras suaves nas árvores e no chão de pedras.
Saímos do salão e adentramos o jardim em busca de privacidade. A cada passo, o som distante da festa desaparecia, substituído pelo farfalhar suave das folhas e o canto leve dos grilos. Rafael mantinha seu silêncio, e eu o segui, intrigada, sabendo que ele tinha algo a dizer – algo que não poderia ser discutido sob os olhares atentos dos convidados.
O caminho de pedras levava a um pequeno pátio cercado por árvores altas e arbustos floridos. Era o local perfeito, longe de qualquer interrupção, onde o som da música e das conversas era apenas um eco distante. Paramos sob uma pérgola coberta de trepadeiras, as luzes suaves das lanternas jogando sombras suaves sobre nós.
Ele me olhou de lado, como se estivesse medindo as palavras antes de falar. Eu também permaneci em silêncio, dando-lhe o espaço que parecia querer. No fundo, eu sabia que essa conversa seria diferente de tudo que tínhamos trocado até agora.
—Eu imaginei que aqui seria mais adequado. — Ele finalmente disse, a voz baixa, mas clara. —Longe de qualquer interferência...
—Então... —Eu disse, virando-me para ele, cruzando os braços e mantendo meu olhar firme, —O que você realmente quer me dizer, Rafael?
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Criminal
RomanceSinopse: Mariana é a líder de uma temida organização mafiosa, uma mulher que comanda com punho de ferro e não tem medo de usar seu poder para conseguir o que quer. Sua beleza sedutora e inteligência aguçada a tornam uma figura de respeito e temor. E...