Capítulo 06: Tudo o que eu não posso ter.

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"Não imaginas quantas foram as vezes que te devorei em pensamentos"

Dois meses haviam se passado. A relação com Otávio era amena, sem muita perspectiva de futuro, pelos menos Simone pensava assim. Os dias no trabalho começaram a ter mais cor, ou melhor dizendo, um ponto amarelo se fez bastante presente. Durante umas de suas discussões com Soraya, Otávio a colocou na escola de equitação, buscando castigar a garota. Sem saber que a relação da enteada com a madrasta beirava a linha tênue entre desejo e a razão.

A luz da manhã filtrava-se pelas janelas do estábulo, criando um ambiente mágico. O cheiro de feno fresco e o som dos cascos dos cavalos ecoavam ao fundo, proporcionando um cenário perfeito para mais um dia de aulas. Simone observava Soraya, que se preparava para a lição de equitação. Com seus cabelos loiros caindo em ondas suaves sobre os ombros, a jovem emanava uma energia vibrante que atraía todos ao seu redor. Mas para Simone, a atração era mais do que mera admiração. Enquanto Soraya ajustava a sela de seu cavalo, o coração de Simone disparava. Ela sabia que cada momento com a garota a aproximava de um abismo de sentimentos que temia enfrentar. Muralhas haviam sido construídas para protegê-la de feridas passadas, mas Soraya, com seu jeito despreocupado, estava prestes a derrubá-las.

— Pronta para mais um desafio— Simone perguntou, tentando manter a voz firme, enquanto sua mente lutava contra a crescente tentação de se deixar levar pela vulnerabilidade. A pergunta era uma forma de manter a conversa leve, mas, no fundo, o desejo crescia como uma tempestade silenciosa.

— Pronta como sempre!— Soraya respondeu com um sorriso radiante, que fez o estômago de Simone revirar. Havia uma química entre elas, palpável no ar. Cada olhar, cada toque acidental durante as instruções, parecia carregado de significados ocultos. Simone virou-se rapidamente, desviando os olhos, temendo que Soraya percebesse a intensidade de sua luta interna.

A aula começou, e as duas se concentraram na prática. Soraya era uma aluna excepcional, e a forma como se movia sobre o cavalo lembrava uma dança. Cada movimento fluido lembrava a Simone de como ela desejava que fosse a própria vida: livre e leve. Mas a realidade era diferente; as regras de um amor proibido pesavam sobre seus ombros.

— Você precisa relaxar os ombros, Soraya!— Simone instruiu, aproximando-se para ajustar a postura da jovem. O toque leve em seu braço enviou uma onda de calor por seu corpo, e por um instante, o mundo ao redor desapareceu. Soraya olhou para cima, seus olhos brilhando com uma mistura de admiração e algo mais profundo.

— Desculpe, professora, é que você me deixa nervosa— Soraya brincou, mas a frase tinha um tom de verdade que fez o coração de Simone acelerar. Ela se afastou rapidamente, tentando recuperar a compostura.

— Não seja boba. — Simone sorriu.

Após a aula, Simone decidiu que precisava de um tempo sozinha. Ela caminhou até o campo aberto, onde os cavalos pastavam. O ar fresco e o som suave do vento ajudaram a clarear sua mente. Mas logo, Soraya apareceu, como um raio de sol que não podia ser ignorado.

— Você não pode se afastar assim, Simone— a jovem disse, sua voz suave, mas firme. — Eu sinto que há algo entre nós, e não consigo ignorar.

A sinceridade em seus olhos fez Simone vacilar. O que ela deveria responder? Como poderia explicar o turbilhão que se passava dentro dela?

— Soraya, eu, o seu pai... não podemos.— A voz de Simone tremia, e sua postura rígida começou a vacilar. — Você é tão jovem, e eu... eu não posso me envolver com você. É complicado.

— Complicado?— Soraya repetiu, se aproximando. —O que é mais complicado do que viver uma vida inteira sem saber o que poderia ser ? Não estamos nos machucando, estamos apenas tentando entender o que sentimos.

A batalha interna de Simone se intensificou. Ela queria gritar, dizer que desejava, sim, sentir a liberdade que Soraya representava. Mas as vozes da razão e do medo da dor ecoavam mais alto. O desejo pulsava entre elas, mas Simone se via em uma encruzilhada: amar e arriscar-se a ser ferida novamente ou manter-se firme em sua decisão de se proteger.

Soraya se aproximou ainda mais, quase tocando o braço de Simone.

— Só quero que você saiba que eu vejo você. Não a campeã, não a professora. Vejo a mulher por trás da armadura, e quero estar ao seu lado.

O coração de Simone disparou. Era uma proposta irresistível, mas o peso de sua própria história a prendia. Com um gesto sutil, ela afastou-se, sua voz quase um sussurro:

— Eu não posso, Soraya. Eu não posso te dar o que você merece. Ainda tem o seu pai... você, você é jovem Soraya, tem muito o que viver pela frente, isso é errado. — Passou as mãos no cabelo em um gesto nervoso.

Soraya parou, a decepção visível em seu rosto.

— Mas você pode, Simone. Você só precisa permitir-se sentir.— E, com essas palavras, a jovem se afastou, deixando Simone sozinha em meio aos cavalos, consumida pela luta entre a razão e a paixão.

Simone ficou ali, observando Soraya partir, o coração dividido. As muralhas que ela havia erguido estavam começando a ruir, e, pela primeira vez em anos, a ideia de se permitir amar novamente parecia não apenas possível, mas desejável. Mas o que fazer com essa nova realidade? A pergunta ecoava em sua mente, enquanto o desejo e o medo dançavam em seu peito, desafiando cada um de seus princípios.

Ela sabia que a luta ainda não havia terminado.

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⏰ Última atualização: Oct 02 ⏰

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Domando o destino - Simone e Soraya.Onde histórias criam vida. Descubra agora