Sombras e Segredos

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Eu tive um sonho.

Estava deitada em uma cama cheia de rosas, completamente nua. O cheiro e a sensação eram maravilhosos, como se o mundo inteiro tivesse se transformado em um paraíso de cores e fragrâncias. Mas, de repente, o cenário mudou. As rosas começaram a me espetar, como se tivessem vida própria. Quando tentei me levantar, elas me prenderam de volta, arranhando minha pele profundamente. Gritava em agonia, e o sangue escorria, tingindo-me de vermelho, como as flores ao meu redor.

Acordei ofegante, com o coração disparado. A cama estava molhada de suor. Desci rapidamente para a cozinha, em busca de um pouco de água, tentando afastar a sensação de pânico que me consumia.

Meu pai estava sentado à mesa, tomando café. Ao me ver, seu olhar se enche de preocupação.

— Você parece pálida. Aconteceu alguma coisa?

Eu assenti, sentando-me ao lado dele.

— Pai, ontem alguém invadiu aqui em casa e entrou no meu quarto! — falei aflita. — Tive um pesadelo terrível também, e estou com medo.

Ele suspirou, olhando para mim com uma expressão que misturava cansaço e frustração.

— Filha, calma. Ninguém invadiu a casa. Isso é coisa da sua cabeça. Deve estar muito estressada com tudo que está acontecendo aqui em casa.

Suas palavras pareciam vazias, e eu não conseguia ignorar a sensação de que ele estava escondendo algo. Bufei de raiva.

— Eu não estou inventando nada! Tenho certeza do que vi. Ele estava lá, no canto do meu quarto!

Meu pai hesitou, o olhar distante.

— Alice, a sua mente pode pregar peças. A situação em casa é complicada, e você precisa descansar. Vamos conversar mais tarde, tá bom?

Senti um nó se formar no estômago. Eu queria que ele me acreditasse, que ele visse o quão real tudo aquilo parecia. Mas, ao invés disso, ele parecia mais preocupado em ignorar a situação do que enfrentá-la.

— Eu vou dar uma volta — falei, subindo as escadas. Troquei de roupa rapidamente, tentando espantar a sensação pesada que se acumulava dentro de mim.

Quando voltei para a cozinha, meu pai estava do lado da porta de saída, a expressão carregada de preocupação.

— Seu pai te ama. Por favor, se cuide. Tem coisas acontecendo, e eu não quero te perder. Tenho sido péssimo como marido e pai, mas prezo por vocês. Há algo dentro de mim que é melhor vocês não saberem.

Eu o encarei, sentindo uma onda de desdém.

— Entendo — respondi, a voz fria. — Isso são só desculpas.

Saí de casa, deixando a porta fechar atrás de mim. O vento soprava forte, mas eu estava decidida. Caminhei pelo bairro, buscando clareza em meio à confusão. Precisava de um tempo sozinha.

Cheguei à frente da floresta, que se erguia diante de mim como uma muralha escura, cheia de segredos e mistérios. A atmosfera era densa, e, por um instante, me senti observada. Olhei para os lados e, a certa distância, notei um homem encostado em uma árvore, fumando um cigarro. Ele vestia um sobretudo comprido e um chapéu que cobria parcialmente o rosto. Não consegui ver seus olhos, mas havia algo inquietante em sua presença.

Senti um arrepio percorrer minha espinha. Uma mistura de curiosidade e medo me envolveu. O homem parecia me encarar intensamente, como se estivesse prestes a devorar-me com o olhar.

Decidi me aproximar, mas uma voz interna me alertava para ter cuidado. Eu estava prestes a cruzar uma linha. A necessidade de respostas era mais forte que meu receio.

— Oi! — chamei, tentando manter a voz firme. — Você mora por aqui?

Ele virou a cabeça lentamente, e a sombra do chapéu obscurecia seu rosto.

— Depende do que você considera "morar" — respondeu, com um tom enigmático. — O que traz uma jovem como você a este lugar?

Fiquei em silêncio, pesando minhas palavras, quando, de repente, ouvi um grito enfurecido vindo atrás de mim. Virei-me rapidamente e vi Jhon correndo em minha direção, sua expressão cheia de preocupação.

— O que você está fazendo? — ele perguntou, com a voz elevada.

Olhei para ele, incrédula. O que estava acontecendo? Então, voltei-me para o desconhecido, que parecia pronto para avançar em Jhon.

— Como assim, só estou conversando — eu disse, tentando acalmar a situação.

— Com um estranho na beira de uma floresta? — Jhon respondeu, a raiva e a proteção evidentes em sua voz. — E você, seu maluco, se afaste dela! Ou eu vou mandar lhe prender.

O desconhecido soltou uma risada alta e divertida, balançando a cabeça em negação.

— Até mais, Alice... Aliás, belo colar — ele disse, antes de desaparecer na escuridão da floresta.

Uma onda de pânico me atravessou. O colar! Eu o coloquei antes de sair, mas havia me esquecido completamente dele enquanto conversava com aquele homem. Jhon ficou em alerta, e percebi que a menção ao colar o havia deixado ainda mais desconfortável.

— Alice, precisamos sair daqui — ele disse, olhando em volta, como se esperasse que o homem voltasse a qualquer momento.

— Eu sei, mas... — comecei, mas Jhon não deixou eu terminar.

— Não há "mas" que valha a pena. Aquela pessoa não é de confiança. Vamos!

Com um gesto firme, ele segurou meu braço e começou a me levar para longe da floresta. Enquanto caminhávamos, a sensação de inquietude crescia. O que aquele homem queria de mim? E por que mencionou o colar? Havia algo ali que eu não compreendia.

— Você está bem? — Jhon perguntou, parando para me olhar nos olhos.

Eu assenti, mas não era completamente sincera. A preocupação se alojou em meu peito como um peso.

Jhon não sabia do colar que ganhei, mas eu sabia, uma preocupação cresceu em mim.

Vamos, vou te levar para casa. - disse jhon.

Entrei no carro e fiquei em completo silencio. Fico admirando a paisagem pensativa em tudo que aconteceu, chegamos em casa ele para o carro e eu suspiro.

Quer entrar? - pergunto.

Não. - Ele espondeu seco, Jhon parecia inquieto.

Estranhei, ele e o meu pai não são amigos? O que está acontecendo?

Entre e tome cuidado ao sair de casa sempre. - ele disse.

Entrei em casa e a atmosfera era silenciosa, todos já tinham saído. Fui direto para o meu quarto, tomei um banho relaxante e me arrumei para o trabalho.

Na cafeteria, o dia passou mais rápido do que eu esperava, mas a imagem do homem misterioso não saía da minha mente. Quem era ele? A cidade era pequena, e eu nunca o tinha visto antes. A curiosidade me consumia.

Quando terminei meu expediente, peguei minha bolsa e meu casaco, e saí. As ruas estavam mais escuras do que o normal, e as luzes dos postes piscavam de maneira estranha. Ao passar perto da floresta, parei e encarei sua profundidade, sentindo um arrepio na espinha. Era como se algo me observasse. Essa sensação me deixou inquieta, mas segui em frente, determinada a chegar em casa.

Entrei em casa, e a atmosfera estava estranhamente pesada. A TV estava ligada, e um noticiário falava sobre três pessoas desaparecidas. Minha mãe estava na cozinha, preparando algo.

— Seu pai vai ficar uns dias fora. Ele está cuidando desse caso. — Ela disse num tom vazio.

— Entendi. — Eu respondi, sentindo um nó se formar na garganta.

Jantei em silêncio e fui para o meu quarto, tentando processar tudo. Mas a inquietação não me deixava em paz. Enquanto me deitava, a sensação de estar sendo observada voltava a me assombrar. Fechei os olhos, tentando descansar, mas a noite prometia ser longa.

Sombras do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora