Alice
Acordo com o despertador insistente, seu som cortante ressoando pela casa. Hoje, decido que vou dar uma caminhada pelo bairro, algo para clarear a mente. Depois de um café da manhã apressado, saio e, ao abrir a porta, sou surpreendida por uma caixinha de veludo sobre a varanda.
Curiosa, eu a pego e a abro. Assim que vejo o que está dentro, um grito estridente escapa dos meus lábios, e a caixinha escorrega das minhas mãos, caindo no chão. Meu coração dispara ao reconhecer o que é: um coração humano.
Minha casa logo se enche de policiais. Jhon, está entre eles. Ele me observa com uma expressão de preocupação que eu nunca vi antes. Estou paralisada, em choque, enquanto os oficiais começam a interrogar minha mãe.
— Você está bem? — Jhon pergunta, se aproximando.
— Não! Diga-me que isso não é o coração do meu pai! — exijo, a voz embargada.
— Não posso afirmar com certeza, mas... seu pai foi encontrado sem vida e sem o coração. — Ele baixa a cabeça, parecendo tão arrasado quanto eu.
Me viro, sentindo o mundo girar ao meu redor. As lágrimas escorrem pelo meu rosto enquanto a realidade se instala. Olho em volta, buscando algum sinal de normalidade, mas tudo o que vejo são os rostos sérios dos policiais e da minha mãe.
É então que, em um relance, vejo uma figura encostada em uma árvore próxima, fumando um cigarro. Meu coração acelera novamente. A pessoa parece familiar, mas não consigo identificar quem é. Quando tento olhar novamente, a figura desaparece.
— Jhon, você viu aquilo? — pergunto, a voz tremendo.
— O quê? — ele responde, sem entender.
— Aquele cara... ele estava ali, encostado na árvore.
Jhon olha para onde apontei, mas não vê nada. A expressão em seu rosto se transforma em confusão.
— Não tem ninguém. Vamos voltar para dentro. — Ele me puxa suavemente.
— Não, você não entende! — grito, a angústia crescendo dentro de mim.
— Você precisa se acalmar, precisamos lidar com isso primeiro. — Jhon insiste, mas sua voz parece distante.
Entro em casa, onde o clima é pesado, como se o ar estivesse carregado de dor e mistério. A caixinha está no chão, e os policiais a observam, a perplexidade nos seus rostos revelando que eles também não têm respostas. Minha mente está em turbilhão, confusa entre o luto pela perda do meu pai e a estranha sensação de que algo maior está em jogo.
Enquanto os interrogatórios continuam, minha cabeça fervilha com perguntas. Quem era aquele homem? O que realmente aconteceu com meu pai? E por que aquele coração foi deixado na minha varanda?
A tensão aumenta e uma sensação estranha de que estou sendo vigiada toma conta de mim. É como se os olhos de alguém estivessem fixos em mim, penetrando na minha alma. Mal consigo pensar, a confusão dominando meus pensamentos.
Enquanto isso, pego no meu colar em forma de coração e o aperto, buscando um pouco de conforto. Para minha surpresa, uma onda de calma me envolve, como se o objeto tivesse algum poder tranquilizador.
— Eu sinto muito pelo seu pai — diz Jhon, aproximando-se e me envolvendo em um abraço forte. — Estou aqui com você, se precisar de mim.
Suas palavras são um alívio momentâneo, mas a atmosfera pesada ainda paira no ar. Os policiais continuam fazendo perguntas, suas vozes se misturando ao meu turbilhão de emoções. Depois de um tempo que parece uma eternidade, eles vão embora, deixando a casa ainda mais silenciosa.
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Sombras do Silêncio
TerrorEm meio ao silêncio opressivo de uma casa em desintegração, Alice, uma jovem perdida entre as tensões familiares e a melancolia, recebe uma carta enigmática de um admirador desconhecido.