Encontros na Penumbra

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Charlie (pai de Alice)

A boate pulsava com uma energia quase palpável. Luzes coloridas cortavam a escuridão, criando sombras dançantes nas paredes. Paul e eu estávamos ali para esquecer, mas a investigação dos desaparecimentos pesava sobre nós como uma nuvem negra. Três vidas haviam sido tiradas, e nós havíamos encontrado seus corpos na floresta — a mulher sem os olhos, os homens mutilados mão e penis arrancados, cada um com o símbolo 666 em seus peitos. Ninguém podia saber a verdade, mas a cidade já sentia o peso da suspeita.

Paul deu um tapinha no meu ombro, chamando minha atenção.

— Olha quem apareceu depois de um tempo! Quase pensei que tinha morrido.

— Quem? — perguntei, sem saber onde ele queria chegar.

Ele apontou para um jovem que acabara de entrar na boate. Era um rapaz deslumbrante, alto e esbelto, mas a escuridão dificultava a visualização do seu rosto.

— Não sei o nome verdadeiro dele, só o apelido. Chamam-no de Eros.

— Eros? Como o Deus do amor?

— Sim, sim. Dizem que o que ele faz é de outro mundo. Fica com homens e mulheres.

A última palavra saiu com uma entonação maliciosa, e eu me senti um pouco desconfortável. A tensão era palpável, mas Paul pareceu perceber.

— Fique tranquilo, seu segredo está a salvo comigo. Vou ali conversar com uma gatinha.

Ele se afastou, me deixando sozinho no bar. Tomei um gole do meu whisky e mergulhei em pensamentos sombrios sobre minha esposa, que me desprezava, meu filho, que parecia um estranho, e minha filha, que eu temia perder para o mesmo abismo que engolira tantos outros.

Foi então que alguém se sentou ao meu lado.

— Um copo de whisky, por favor — pediu o jovem, dirigindo-se ao barman, antes de me olhar com um brilho intenso. — Posso beber com você?

A voz dele era hipnotizante, quase irresistível. Não tinha como recusar.

— Ah, sim, fique à vontade.

Enquanto ele tomava seu copo, senti uma onda de excitação, mas rapidamente tentei reprimir a reação. O rapaz bebeu, soltando um suspiro profundo que ressoou no ar como um lamento.

— Às vezes é difícil fingir ser algo que não sou. Ser eu mesmo assusta as pessoas — disse ele, com um olhar que parecia penetrar em minha alma.

— Eu entendo. Também sei como é — respondi, tentando não me deixar levar pela intensidade do momento.

Ele sorriu, mas havia uma sombra em seu olhar que me intrigou.

Sombras do SilêncioOnde histórias criam vida. Descubra agora