Fazia semanas que meu pai tinha morrido, e tudo ao meu redor parecia ter melhorado. Minha mãe estava sorridente e alegre, meu irmão brincava e conversava, mas eu sentia um certo receio, uma estranheza. Para mim, nada estava realmente bem. Na cafeteria onde trabalho, os dias têm sido corridos. Entre um cliente e outro, vejo o detetive Jhon. Ele está sempre lá, em sua mesa, com um café na frente e os olhos atentos, observando tudo. Hoje, vou até a mesa dele e o cumprimento, como de costume.Ele levanta os olhos e sorri para mim.
— Como tem estado? — ele pergunta com aquele tom tranquilo e paciente.
— Tenho levado... e você? — respondo, tentando esconder a ansiedade que sinto ao vê-lo, mesmo depois de tanto tempo.
— Estou bem, embora eu saiba que é um pouco estranho. Mas, eu gostaria de te convidar para ir ao parque de diversões esta noite. Claro, se não quiser ir, tudo bem.
Eu paro por um momento, surpresa. Um convite? Para o parque de diversões? Era algo que não esperava, e sair com o amigo de meu pai parecia um pouco... fora do lugar. Mas, talvez fosse uma maneira de distrair a mente com tudo o que aconteceu. Um simples passeio, um pouco de normalidade.
— Aceito, que horas? — pergunto, tentando disfarçar a hesitação.
— Às 20:00. Eu te busco em sua casa.
O expediente chega ao fim e, enquanto pego meu casaco e bolsa, sigo a caminho de casa. No caminho, passo novamente pela floresta que fica perto de onde moro. A escuridão parece me engolir, mas, de algum modo, sinto-me menos assustada. Hoje, ao olhar para ela, sorrio. Algo em mim mudou, mas não sei bem o que.Chego em casa e me arrumo. Coloco o colar de pingente de coração que sempre usei. Não consigo me desfazer dele, como se ele tivesse algum poder sobre mim, como se me prendessem de alguma forma. Algo me diz que ele é uma peça chave para entender o que estou sentindo, mas ainda não sei o que.Ouço a buzina do carro de Jhon na frente de casa. Desço rapidamente, sentindo meu coração bater mais rápido, e entro no carro.
— Boa noite — falo baixinho, envergonhada.
— Boa noite! Você está muito bonita — Jhon responde, fazendo-me corar ainda mais.
Chegamos ao parque, e a atmosfera parece mais leve. Passeamos, pegamos algodão doce, andamos nos carros de bate-bate e eu realmente começo a me divertir, esquecendo por um momento todas as tensões. Mas, de repente, sinto um corpo colidir contra o meu. Olho para cima e vejo um homem muito bonito, alto, com olhos escuros que me prendem instantaneamente. Fiquei sem palavras por um momento.
— Me... desculpe! — falo, meio atordoada.
— Não foi nada, querida. Você se machucou? — ele diz, com uma voz suave, mas cheia de uma intensidade que me desconcerta.
— Estou bem, não foi nada — respondo, tentando me recompor.
Ele usa um sobretudo escuro, e de repente ele o abre e pega uma rosa vermelha, com um sorriso confiante.
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Sombras do Silêncio
HorrorEm meio ao silêncio opressivo de uma casa em desintegração, Alice, uma jovem perdida entre as tensões familiares e a melancolia, recebe uma carta enigmática de um admirador desconhecido.