Sentada no pátio do orfanato, com o sol a brilhar intensamente, eu observava o céu azul, tentando esquecer os gritos e risadas que ecoavam ao meu redor. Era uma tarde comum, e o cheiro do almoço ainda pairava no ar. Mas, para mim, cada respiração era uma luta. Eu sempre soube que era diferente, mas nunca consegui entender por quê.
Desde muito jovem, eu tinha visões. Sempre que tocava em alguém, uma onda de imagens e sentimentos me invadia como se fossem ondas do mar quebrando na praia. Às vezes eram flashes de alegria e amor; outras vezes, eram cenas terríveis de dor e tristeza. Eu não escolhia essas visões; elas simplesmente vinham até mim como um presente indesejado. E quanto mais eu tentava ignorá-las, mais intensas elas se tornavam.
Aquela tarde em particular começou como qualquer outra, mas logo se tornaria uma das mais dolorosas da minha vida. Enquanto eu me perdia em meus pensamentos, um grupo de garotas mais velhas se aproximou. Elas riam de forma alta e arrogante, e não demorou muito para que percebessem a minha presença.
— Olhem só quem está aqui! A menina que não é de Deus! — Uma delas gritou, e as outras riram em resposta. Meu estômago revirou ao ouvir aquelas palavras. Sabia que estavam prestes a me atacar novamente.
— Por que você não vai embora? Ninguém quer você! — A mesma garota continuou, enquanto suas amigas cercavam-me como um bando de lobos famintos. Eu tentei me levantar e sair dali, mas fui rapidamente empurrada de volta ao chão.
As risadas se tornaram gritos de zombaria enquanto elas começavam a me empurrar e bater. Senti as dores físicas se misturarem com a angústia emocional que já carregava há tanto tempo. Cada golpe parecia não apenas atingir meu corpo, mas também minha alma.
Eu me debatia no chão frio do pátio, tentando proteger-me com os braços. As visões começaram a surgir em minha mente — imagens distorcidas de dor e sofrimento; rostos desconhecidos me olhando com desprezo; momentos de minha vida em que me senti completamente sozinha. Era como se cada pancada fosse acompanhada por um fragmento desses pesadelos.
— Pare! Por favor! — eu gritei, mas minha voz soava tão pequena diante da crueldade delas. Elas continuaram a rir e a bater, como se estivessem se divertindo com meu sofrimento.
Naquele momento sombrio, uma visão particularmente intensa tomou conta da minha mente: eu vi um lugar longe dali — um jardim cheio de flores coloridas sob um céu radiante. Havia risos vindos de crianças brincando livremente, sem medo ou dor. O contraste entre essa imagem perfeita e a realidade brutal em que eu estava presa fez meu coração disparar ainda mais.
A dor física aumentava, mas era a dor emocional que realmente me esmagava. Eu queria gritar para o mundo que eu não era aquilo que elas diziam! Que havia algo dentro de mim esperando para ser descoberto! Mas tudo o que consegui fazer foi me encolher ainda mais no chão.
Finalmente, quando pensei que não aguentaria mais, algo dentro de mim despertou — uma centelha de força que nunca soube que possuía. Com todas as minhas forças restantes, eu empurrei uma das garotas para longe e consegui levantar-me parcialmente.
Os olhares delas mudaram por um momento; estavam surpresas pela minha resistência inesperada. Mas antes que pudesse reagir ou correr para longe daquela situação horrenda, uma das garotas agarrou meu braço com força.
Foi nesse toque que uma nova visão surgiu — desta vez não eram imagens distorcidas ou sombrias; era novamente aquele jardim encantado. E nessa visão, eu vi algo mais: vi-me livre da dor e da rejeição; vi-me cercada por amigos verdadeiros e amor genuíno.
Esse vislumbre de esperança foi tudo o que precisei para encontrar coragem dentro de mim. Com um grito primal, consegui libertar-me do aperto dela e corri para longe do grupo de garotas maldosas.
Enquanto corria pelo pátio vazio até encontrar abrigo sob as árvores próximas, lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto. O coração batia acelerado; eu sentia dor nas pernas e nas mãos onde as marcas das agressões começaram a aparecer.
Mas havia uma nova determinação crescendo dentro de mim — uma vontade feroz de nunca mais permitir que ninguém apagasse a luz dentro de mim novamente. Eu era Elara e tinha visões; aquelas visões eram parte do meu ser e nada poderia mudar isso.
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E S Q U E C I D A
FanfictionElara é uma jovem órfã que vive em um orfanato, sem memória de seus pais. Ao receber a carta de Hogwarts, ela finalmente encontra um novo lar e se junta ao famoso trio de ouro: Harry, Hermione e Ron. Durante sua jornada na escola de magia, Elara des...