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A luz do sol mal conseguia penetrar as janelas sujas do orfanato. As paredes, pintadas de um tom cinza desbotado, pareciam absorver a esperança que ainda restava ali. Eu, Elara, observava o mundo através das grades da janela, meu coração pulsando com uma confusão e um medo que me cercavam.

Não entendia por que havia sido deixada ali, sozinha, sem uma família para me dar amor e proteção. As outras crianças pareciam ter se acostumado com a rotina do orfanato, mas eu me sentia como uma estranha em meio a eles. Havia algo diferente em mim — algo que me fazia sentir deslocada.

F L A S H B A C K.

Naquela manhã fatídica, enquanto tentava brincar com as outras crianças, senti uma onda de emoções turbulentas crescendo dentro de mim. A frustração e a tristeza se misturaram em um turbilhão de energia mágica que emanou dos meus dedos como um raio. Sem querer, lancei um feitiço involuntário que atingiu Lila, uma garotinha que apenas queria ser minha amiga.

O grito dela ecoou pelo corredor, e o pânico tomou conta do orfanato. Fiquei paralisada, os olhos arregalados em horror ao ver Lila caída no chão, cercada por uma luz brilhante que logo se apagou. As outras crianças correram para longe de mim, seus olhares cheios de medo e desprezo.

Irmã Agnes chegou rapidamente. Com sua habitual severidade, agarrou meu braço e me arrastou para longe da cena.

— Você não pode brincar assim! Você é uma ameaça! —  gritou ela, sua voz cortante como um açoite.

Sem dar ouvidos às minhas súplicas, irmã Agnes me levou até um quarto escuro no fundo do orfanato. A porta rangia ao ser fechada atrás de mim e o som ecoou na minha mente como um lamento. O espaço era pequeno e frio; havia apenas uma cama estreita em um canto e uma janela alta onde a luz mal chegava.

— Fique aqui até aprender a controlar seu poder — , disse irmã Agnes antes de sair. E assim começou meu castigo — dias inteiros sem comida ou companhia, imersa na escuridão da minha própria solidão.

No silêncio opressivo do quarto escuro, senti o medo crescer dentro de mim como uma sombra. Eu não queria machucar ninguém; só desejava entender quem era e por que tinha essa habilidade estranha. Enquanto as horas se arrastavam, comecei a explorar minha magia em segredo, tentando domá-la para que nunca mais causasse dor.

Com o tempo, a escuridão se tornou tanto minha inimiga quanto minha amiga. Aprendi a ouvir os sussurros da magia dentro de mim e a sentir as correntes invisíveis que ligavam meu coração ao mundo exterior. Era nesse lugar sombrio que fiz uma promessa: um dia eu encontraria meu lugar no mundo e usaria minha magia para proteger aqueles que amava.

Mas naquele momento, cercada pela solidão e pelo medo, tudo o que podia fazer era esperar — esperar pela luz que um dia romperia as sombras do orfanato.

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