Despertar

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Ele estava plenamente consciente do movimento. Rápido. Mais veloz do que qualquer experiência que já conhecera.

E então se deu conta da quietude. Do instante em que parou. De estar deitado.

Uma dor latejante preenchia sua cabeça. Podia sentir o ritmo de seu coração pulsando até a ponta dos dedos dos pés.

Onde ele estava?

Mal conseguia afirmar que havia aberto os olhos tamanha escuridão reinante em sua mente. As cores se entrelaçavam, indistintas. O pânico ameaçava se instalar em seu sistema, mas mesmo assim sentia sua consciência escapando rapidamente de seu controle. A escuridão parecia querer engoli-lo novamente. Seonghwa cerrou os dentes, lutando contra uma dor aguda que percorria seu corpo. Com grande esforço conseguiu trazer o mundo ao seu redor para dentro de seu foco.

As luzes, placas e edifícios pareciam familiares, mas o ângulo era desconcertante. Tudo parecia pequeno e de brinquedo. Nunca havia visto a cidade de uma altura tão elevada antes. Estaria ele...em um telhado?

A cabeça de Seonghwa começou a girar novamente. Imagens dançaram diante de seus olhos.

Hongjoong sentado do outro lado da mesa, explicando os passos complicados de um problema de trigonometria, antes de sugerir que ele resolvesse o próximo por conta própria.

A sensação tátil dos botões da calculadora sob seus dedos.

A onda de felicidade que começou a surgir quando o problema deixou de ser frustrante e a resposta se tornou cristalina.

Então, ecoou a batida na porta do apartamento.

O medo subiu pela sua espinha. Choramingou e tentou se sentar, mas uma mão repousava em seu peito, firme e impossivelmente forte. O assobio que ecoava em seus ouvidos desde que despertara era na verdade o uivo cortante do vento de inverno, que se fazia ouvir sob a luz da lua cheia. Enquanto isso, o céu repleto de estrelas brilhava alegremente, completamente alheio à dor que estava enfrentando.

Como ele havia chegado ao telhado? Estava tão alto. Vinte andares. Talvez até mais. Conseguia ver a neve se acumulando nos telhados dos edifícios de escritórios logo abaixo. Ele distinguia o vermelho das lanternas traseiras e o branco dos faróis, formando uma corrente lenta nas ruas movimentadas. A cidade inteira estava imersa em uma mistura de luzes brancas, azuis e laranjas. Uma verdadeira galáxia.

Ele estava morrendo?

Deveria entrar na luz?

Deveria...deixar-se ir?

Seonghwa fechou os olhos.

Não tinha certeza se estava sonhando ou não. Tudo ao seu redor parecia nebuloso e brilhante como em um sonho, mas a dor surda que subia por sua espinha era horrivelmente real.

Beba isso.

Era a voz do Hongjoong! A única luz familiar em meio a toda aquela escuridão rodopiante.

Seonghwa emergiu do poço negro em sua mente e piscou os olhos novamente. Com esforço, virou a cabeça e avistou Hongjoong ajoelhado ao seu lado, inclinado sobre ele.

— Por favor, Seonghwa. Você tem que beber ou vai morrer.

Queria perguntar o que deveria beber, mas sua garganta estava seca, completamente apertada.

Ele fechou os olhos contra as luzes da cidade que brilhavam em seu rosto, contra o vento cortante que lhe arranhava a pele. Conseguiu distinguir as características faciais de Hongjoong: as sobrancelhas franzidas em preocupação, o nariz torcido, o cabelo descolorido balançando ao vento. Os olhos do homem brilhavam em um azul intenso, semelhantes a relâmpagos engarrafados. Seus dentes pareciam grandes demais para sua boca, e havia vermelho por toda a extensão de seus lábios. Suspeito. Hongjoong levantou o braço, apontando seu pulso ensanguentado em direção ao rosto de Seonghwa.

Vampire's Pet ✿ seongjoong Onde histórias criam vida. Descubra agora