Ó Rei

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O tempo arrastava-se agonizantemente, com os minutos deslizando lentamente como uma melodia orquestral, entrelaçados por pulsos constantes e zumbidos de ansiedade que impediam Seonghwa de encontrar verdadeiro descanso. Era uma experiência ainda mais angustiante do que a sensação de sangrar em seu próprio apartamento.

Dezenas de vampiros dançavam graciosamente, envolvidos em um borrão de seda, renda e joias.

Coisas bonitas tendem a ser perigosas, e essa frase ecoava na mente de Seonghwa enquanto aquelas máscaras adornadas com ouro, pérolas e penas exóticas deslizavam ao seu redor.

Sentiu uma irritação crescente ao ser repentinamente invadido por memórias de sua família. Eles haviam organizado uma festa de aniversário semelhante para os dezesseis anos de Yeosang. O pai, insensato, havia gastado mais no bolo do meio-irmão do que na soma de todas as festas de aniversário de Seonghwa ao longo dos anos.

Afastou essa raiva mesquinha, contemplando se suas lembranças eram uma forma de evitar encarar o que se desenrolava bem à sua frente.

Vários vampiros observaram Seonghwa, lançando olhares avaliativos que o percorreram de cima a baixo. Seus olhos, ocultos por máscaras, eram objetivos e penetrantes. Eles lamberam os lábios pintados e farejaram o ar, como se estivessem famintos por um mero sopro de seu cheiro humano. Pareciam uma matilha de lobos prontos para se lançar sobre ele, dispostos a arrancar sua carne dos ossos. A única coisa que os impedia, Seonghwa supôs, era o fato de que estava sob a proteção de Hongjoong.

Seonghwa engoliu em seco, lembrando pela enésima vez do peso e da pressão da coleira de couro ao redor de seu pescoço. Apesar de sua elegância e beleza, e do fato de ter sido uma escolha sua, era como escolher sua própria cela de prisão e designar seu próprio número de detento. Mas permaneceu ali,firme, sentado aos pés de Hongjoong observando a celebração alegre e vibrante à sua frente.

Que cena magnífica. Que perigo iminente.

Todos aqueles monstros tomavam um suprimento aparentemente interminável de um líquido vermelho turvo de suas taças de vinho. Sangue. Não havia dúvida de que era sangue. Seonghwa se preocupou com o número de vidas humanas que haviam sido perdidas para essa celebração. 

Você vai voltar para uma vida normal. Vai esquecer tudo isso.

Tentava se apegar a essa promessa, mas quão assustadora era essa perspectiva? A ideia de que poderia ter suas memórias desta noite selvagem e insana apagadas de sua mente o aterrorizava. Se ele esquecesse Hongjoong, também se esqueceria de toda a matemática que ele lhe ensinara. E esquecer essa matemática significaria que não passaria no vestibular.

Jesus, quão estúpido ele poderia ser, ainda se agarrando a algo tão trivial quanto uma prova em uma situação como essa?

Ele desejou poder silenciar sua mente, ou avançar rapidamente por essa loucura a fim de retornar ao conforto de sua casa.

Seonghwa lançou um olhar para o príncipe. Sua intenção era apenas espiar rapidamente, mas Hongjoong já o encarava. Provavelmente há algum tempo. Seus olhares se encontraram, e as orbes escuras e penetrantes de Hongjoong estavam semicerradas, com as sobrancelhas franzidas e a boca firmemente comprimida em uma linha isenta de emoção. Sua mão direita permanecia em seu cabelo, movendo-se suavemente de um lado para o outro no topo de sua cabeça em um gesto surpreendentemente reconfortante considerando sua expressão descontente.

Sem entender o que o levou a agir daquela forma, Seonghwa se inclinou para frente e roçou o rosto contra o joelho de Hongjoong.

O atrito da calça social finamente confeccionada sobre sua bochecha quase se assemelhava a um fogo abrasador.

Vampire's Pet ✿ seongjoong Onde histórias criam vida. Descubra agora