Vampire's Pet ✿ seongjoong

Sanguívoro

Seonghwa se sentiu como se tivesse acabado de sobreviver a um terrível acidente de carro, como se apenas alguns segundos tivessem se passado desde que conseguiu se desvencilhar dos destroços em chamas.

Ao encarar sua expressão assombrada no espelho, era evidente que havia enfrentado algo traumático. Seus olhos vermelhos e semicerrados pela exaustão de uma noite em claro denunciavam seu estado. A pele desbotada e pálida contrastava com seu cabelo bagunçado e seco. A coleira que o prendera durante toda a noite deixou hematomas suaves, formando um anel arroxeado ao redor de seu pescoço.

No entanto, agora, no vestiário, longe do peso dos olhares de um reino inteiro de vampiros famintos, Seonghwa estava livre daquela coleira de couro. A ausência do peso a fez parecer uma presença viscosa e retorcida, algo que o deixava inquieto toda vez que ele tocava o pescoço e notava a falta de seu peso. Era como se sentisse uma falta estranha, uma espécie de vazio.

Aquele quarto estava imerso em um silêncio intenso em contraste com o barulho, o movimento e a vivacidade do corredor. Seonghwa percebeu que estava com sede. Que estava faminto. Não comia nada desde que sua sessão de tutoria foi interrompida e sabia que não deveria perguntar a um vampiro se havia comida à disposição.

Com um suspiro, ele afrouxou a gravata, tirou e a lançou sobre a mesa à sua frente. Só precisava suportar mais um pouco! Faltavam menos de três horas até o amanhecer, como Hongjoong lhe dissera antes de sair temporariamente. Aquela miserável noite de folia estava finalmente se aproximando do fim.

Seonghwa desviou o olhar do reflexo marcado no espelho e fixou a atenção em suas roupas—as mesmas que havia vestido ao chegar àquele lugar. Estavam dobradas cuidadosamente, rasgadas, sujas e manchadas com o seu próprio sangue seco.

— Droga — Murmurou, quebrando o silêncio opressivo. — Eu só quero voltar para casa.

Retirou o caro paletó de seus ombros e o colocou sobre a mesa, um fragmento de um mundo ao qual nunca pertencera e do qual não tinha espaço. Era o tipo de excesso que ele jamais conseguiria alcançar em sua vida mortal repleta de infortúnios.

Realeza! Governantes de um covil habitado por bestas selvagens!

E apesar de tudo o que havia ocorrido naquela noite, incluindo o encontro com o próprio rei vampiro, Seonghwa ainda não conseguia enxergar Hongjoong como mais do que seu tutor de matemática nerd, aquele que conseguia decifrar uma série de números complexos e realizar cálculos mentais como se não fosse nada.

A porta do camarim se abriu lentamente, e temendo que fosse Mingi com a espada desembainhada, Seonghwa virou-se rapidamente. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ao ver Hongjoong adentrar o quarto.

Ele ainda vestia o terno, todos os botões fechados e a gravata firmemente ajustada ao pescoço. O tom branco-azulado do traje assemelhava-se à neve e ao gelo, evocando a essência do inverno. Era uma aparência condizente com um homem que parecia não carregar calor algum em seu corpo.

E apesar de terem estado tão próximos durante quase toda a noite, Seonghwa notou o estranho vazio nos olhos de Hongjoong.

— Tudo bem?

— Cansado — Respondeu o príncipe rapidamente.

— Vampiros se cansam?

Hongjoong fixou o olhar em Seonghwa por um breve e frio momento antes de desviar.

— É minha culpa — Declarou. — Posso ter dado a você mais do meu sangue do que pretendia mais cedo e...já faz duas ou três noites desde a última vez que me alimentei.

Ele não está cansado. Está com fome.

— Não se preocupe com essas questões. Posso passar mais uma noite. — Hongjoong desamarrou a fita que segurava sua máscara e puxou-a para baixo, revelando seu rosto. Caminhou até a extremidade mais distante da mesa e deixou a máscara ali, proporcionando um espaço considerável — quase excessivo — entre eles.